Síndrome dos Ovários Policísticos

A partir desta semana, o Dr. Rafael Reinehr, médico encocrinologista, passará a publicar artigos sobre assuntos relacionados à Endocrinologia e Metabologia. Deixe suas dúvidas e perguntas nos comentários.

O que é Síndrome dos ovários policísticos?

A Síndrome dos ovários policísticos (também conhecida pela sigla SOP em português ou PCOS em inglês) é uma doença endocrinológica comum nas mulheres em idade reprodutiva caracterizada pelo aumento da produção de hormônios masculinos e por um aumento do tamanho dos ovários, que criam múltiplos pequenos cistos na parte mais periférica destes, daí seu nome. Afeta de 5 a 10% das mulheres em idade fértil (dependendo a população estudada), mais comumente após os 13 anos, mas podendo ocorrer mesmo antes. Também é conhecida como síndrome de Stein-Leventhal.

No momento do diagnóstico, frequentemente a mulher apresenta elevados níveis de hormônios masculinos, ao ponto de, em certos casos, apresentar características andrógenas, ou seja, masculinas, como excesso de pêlos e queda de cabelos. Em adolescentes, a ausência da menstruação ou a irregularidade desta pode ser sinal da doença.

A causa exata da síndrome dos ovários policísticos é desconhecida, mas ela tem origem genética, em parte, pois irmãs ou filhas de uma mulher portadora do distúrbio tem 50% de chance de desenvolvê-la. O diagnóstico e o tratamento precoces são indicador por reduzir o risco de complicações crônicas como diabetes mellitus e doenças cardiovasculares.

Fatores de risco

Mesmo que ainda não saibamos a causa exata da síndrome dos ovários policísticos, alguns fatores estão frequentemente associados com a doença:

  • Excesso de insulina
  • Resistência à insulina
  • Histórico familiar
  • Baixo peso ao nascer
  • Pubarca precoce (aparecimento dos pelos pubianos no início da puberdade).

Sinais e Sintomas da Síndrome dos ovários policísticos

Em geral, os primeiros sintomas da síndrome dos ovários policísticos acontecem logo após a primeira menstruação. Com alguma frequência, a doença se desenvolve mais tarde, durante a fase reprodutiva, provavelmente em resposta ao ganho de peso ou a algum outro gatilho hormonal.

Os sintomas e a gravidade variam de pessoa para pessoa. Podemos fechar o diagnóstico de SOP com pelo menos dois dos seguintes sinais:

  • Menstruação anormal, por exemplo, com intervalos menstruais de 35 dias ou mais, menos de oito ciclos menstruais por ano, amenorreia (parada da menstruação) por quatro meses ou mais e períodos de menstruação intensa e prolongada
  • A Síndrome dos Ovários Policísticos é a principal causa de anormalidades menstruais em mulheres jovens, respondendo por 85% dos casos
  • Níveis elevados de hormônios masculinos (andrógenos, como a testosterona e a androstenediona), que podem resultar em características físicas como excesso de pelos faciais e no corpo, acne adulta ou adolescente severa, calvície de padrão masculino, aumento de oleosidade da pele
  • Inversão do LH e do FSH. Na síndrome dos ovários policísticos, frequentemente o LH encontra-se aumentado com níveis duas vezes maiores (ou mais) que o FSH.
  • Pequenos cistos nos ovários identificados em ultrassonografia.
  • Hiperinsulinemia e resistência insulínica em exames laboratoriais também é um indicativo, apesar de poder estar presente em pessoas obesas sem ovários policísticos
  • Manchas escuras na pele, principalmente nas axilas e atrás do pescoço (acantosis nigricans)
  • Mulheres com SOP apresentam, em geral, valores mais elevados de percentual de gordura, adiposidade central (barriga), testosterona, glicose pós-prandial, insulina basal e pós-prandial, triglicerídeos, colesterol total e LDL colesterol entre outros. Além disso, apresentam fatores de risco cardiovasculares mais precocemente do que comparadas as mulheres sem SOP, com mesmo IMC;

    Buscando ajuda médica

    Vá ao médico se você tem irregularidades menstruais – como períodos frequentes, períodos prolongados ou ausência de períodos menstruais – especialmente se você tem excesso de pelos no rosto e corpo, acne, aumento de oleosidade ou queda de cabelos.

    O diagnóstico precoce e o tratamento da síndrome do ovário policístico pode ajudar a reduzir o risco de complicações. As especialidades médicas que podem diagnosticar e tratar adequadamente a síndrome dos ovários policísticos são:

    • Endocrinologia
    • Ginecologia

    Na consulta médica

    Na consulta com seu endocrinologista ou ginecologista, você pode seguir as seguintes dicas (valiosas para qualquer consulta médica em geral):

    Você já pode chegar preparado para conversar com o médico, levando algumas informações que são muito relevantes para o diagnóstico. Isso ajuda a otimizar a consulta, sobrando tempo para você fazer outras perguntas:

    • Anote quaisquer sintomas que você está sentindo, mesmo que eles não pareçam relacionados
    • Faça uma lista de todos os medicamentos, vitaminas e outros suplementos que você toma
    • Leve um caderno ou bloco de notas com você. Use-o para anotar informações importantes durante a sua visita.

    Se você quiser antecipar as perguntas do seu médico, leve anotadas as respostas às seguintes perguntas:

    • Quais sintomas você está sentindo?
    • Há quanto tempo você sente isso? Com que frequência? (descreva cada sintoma de forma detalhada e separada)
    • Quão grave são os seus sintomas?
    • Quando foi a última vez que você menstruou?
    • Você já ganhou peso desde que você começou a menstruar?
    • Alguma coisa melhora seus sintomas?
    • Alguma coisa piora os sintomas?
    • Você está tentando engravidar, ou você deseja engravidar?
    • Sua mãe ou irmã já foi diagnosticada com síndrome dos ovários policísticos?
    • Você já fez algum tratamento para síndrome dos ovários policísticos? E para os seus sintomas? Qual foi?
    • Quais medicamentos você está usando hoje?

    Diagnóstico da Síndrome dos ovários policísticos

    Não existe um teste definitivo para diagnosticar a síndrome dos ovários policísticos, mas um conjunto de achados levam ao diagnóstico. Os médicos consideram todos os sintomas que você apresenta bem como os sinais encontrados em exames laboratoriais e de imagem. O exame de ultrassom, isolado, mesmo mostrando vários pequenos cistos nos ovários, não é suficiente para fornecer o diagnóstico acertado da síndrome.

    É necessário eliminar outras causas de aumento de hormônios masculinos em mulheres, como por exemplo o hirsutismo idiopático, hiperplasia adrenal congênita, tumores de ovário e de adrenal, uso de medicamentos como corticóides, ácido valpróico, entre outros.

    Durante o processo, o médico poderá examinar alguns pontos e pedir os seguintes exames:

    • Histórico médico, com informações sobre características da menstruação e sintomas recentes
    • Exame físico, incluindo informações como peso atual, altura e pressão arterial
    • Exame pélvico
    • Exame da distribuição de pêlos conforme a escala de Ferriman-Gallwey
    • Exames de sangue (LH, FSH, testosterona total, androstenediona, estradiol, TSH, Prolactina, glicemia, curva de insulina associada à curva de glicemia, 17-alfa-hidroxi-profesterona, SDHEA, cortisol e outros)
    • Ultrassonografia pélvica.

    Tratamento da Síndrome dos ovários policísticos

    O tratamento para síndrome dos ovários policísticos geralmente se concentra na gestão dos sintomas e complicações, tais como infertilidade, acne ou obesidade e, no caso do uso da metformina, atuando na redução da resistência à insulina, que está na base da fisiopatologia da doença.

    O tratamento da SOP deve estar necessariamente ligado ao incentivo a uma dieta alimentar e a prática de atividade física. A mudança no estilo de vida reduz e controla o peso, melhora a fertilidade, regula a ovulação e aumenta a sensibilidade à insulina ajudando na prevenção do diabetes, da hipertensão e da doença cardiovascular.

    De acordo com a Diretriz Brasileira sobre a SOP, dieta e exercícios físicos representam o tratamento de primeira linha, melhorando a resistência à insulina e retorno dos ciclos ovulatórios, mesmo na ausência de perda de peso. Com o tratamento medicamentoso adequado, cerca de 50% a 80% das pacientes apresentam ovulação e 40% a 50% engravidam.

    A perda de peso resultante das mudanças no estilo de vida “favorecerá a queda dos androgênios circulantes, melhorando o perfil lipídico e diminuindo a resistência periférica à insulina; dessa forma, contribuirá para o decréscimo no risco de aterosclerose, diabetes e regularização da função ovulatória. A prescrição de contraceptivos hormonais orais de baixa dose, por sua vez, propiciarão o controle da irregularidade menstrual e redução do risco de câncer endometrial”  (Projeto Diretrizes AMB);

  1. O seu médico pode prescrever medicamentos para:

    • Regular seu ciclo menstrual, como pílulas anticoncepcionais
    • Reduzir os níveis de insulina e prevenir diabetes tipo 2, como a metformina
    • Ajudar na ovulação, como os indutores de ovulação (citrato de clomifeno, por exemplo)
    • Reduzir o crescimento excessivo de pelos, como inibidores de hormônios andrógenos.

    Se os medicamentos não ajudá-la a ficar grávida, uma cirurgia ambulatorial chamado perfuração ovariana laparoscópica é uma opção para algumas mulheres com SOP. Seu médico pode ajudá-lo a determinar se você é uma candidata para este tipo de cirurgia.

    Neste procedimento, um cirurgião faz uma pequena incisão no abdômen e insere um tubo ligado a uma pequena câmara (laparoscópio). A câmera fornece ao cirurgião imagens detalhadas de seus ovários e órgãos pélvicos vizinhos. Em seguida o cirurgião insere instrumentos cirúrgicos através de incisões pequenas e utiliza energia elétrica ou a laser para queimar buracos em folículos sobre a superfície dos ovários. O objetivo é o de induzir a ovulação.

    A fertilização in vitro (FIV) também é uma possibilidade nos casos resistentes aos outros tratamentos.

    Medicamentos para Síndrome dos ovários policísticos

    Os medicamentos mais usados para o tratamento da síndrome do ovário policístico são:

    • Metformina
    • Anticoncepcionais orais que contenham um bloqueador androgênico (como o acetato de ciproterona ou a drospirenona)
    • Espironolactona
    • Acetato de ciproterona adicionado ao Anticoncepcional oral
    • Uma combinação dos tratamentos anteriores, dependendo da gravidade
    • Indiretamente, medicações para controle da ansiedade e do peso podem se mostrar benéficos
    • Finasterida (para controle da queda de cabelo, quando for muito acentuada)

    Somente um médico pode dizer qual o medicamento mais indicado para o seu caso, bem como a dosagem correta e a duração do tratamento. Siga sempre à risca as orientações do seu médico e NUNCA se automedique sem conhecer exatamente os potenciais danos que isso pode causar. Não interrompa o uso do medicamento sem consultar um médico antes.

    IMPORTANTE: Os anticoncepcionais orais, mesmo aqueles com bloqueadores de hormônios masculinos, não são capazes de CURAR a Síndrome dos Ovários Policísticos, somente de controlá-la e evitar algumas de suas complicações. De nada adianta, por exemplo, estar menstruando regularmente mas continuar com sobrepeso, aumento da resistência insulínica e exposta aos riscos aumentados de diabetes, hipertensão e doença cardiovascular. É aí que entram as mudanças de hábito de vida e o uso isolado ou concomitante da Metformina.

    Convivendo/ Prognóstico

    • Mantenha o seu peso sob controle. A obesidade piora a resistência à insulina
    • Considere mudanças na dieta, para controlar os níveis de insulina no sangue
    • Faça atividades físicas.

    Complicações possíveis

    Ter síndrome dos ovários policísticos torne as seguintes complicações mais favoráveis, especialmente quando associadas com a obesidade:

    • Diabetes tipo 2
    • Hipertensão arterial (pressão alta)
    • Colesterol e triglicerídeos elevados
    • Níveis elevados de proteína c-reativa, um marcador de doença cardiovascular
    • Síndrome metabólica
    • Infertilidade
    • Esteatose hepática não alcoólica
    • Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono
    • Sangramento uterino anormal
    • Câncer de endométrio e de mamas, causado pela exposição a altos e contínuos níveis de estrógeno
    • Diabetes gestacional
    • Pré-eclâmpsia

    Prevenção

    A síndrome dos ovários policísticos não pode ser evitada, mas sua gravidade pode ser atenuada através da manutenção e um peso saudável, bem como suas complicações prevenidas. O diagnóstico e tratamento precoces ajudam a evitar complicações como infertilidade, síndrome metabólica, obesidade, diabetes e doenças cardíacas.

    Conclusão

    Apesar de ser comum, a Síndrome dos Ovários Policísticos manifesta-se de diferentes formas nas mulheres e por este motivo seu tratamento deve ser individualizado. Até o momento não foi descoberta a cura para a SOP, entretanto com o controle dos sintomas é possível prevenir os problemas associados. Em casos de suspeita de SOP,  procure o seu médico endocrinologista.

     

    Fonte da Imagem: Fonte: perierga.gr