Na última semana ministrei uma aula sobre distúrbios do sono para os alunos do curso de medicina da faculdade. Foi alarmante saber o quanto os estudantes universitários estão privados de sono e têm maus hábitos de sono. 

Embora isso possa ser aceito como normal, é notório o impacto da saúde do sono de má qualidade dos alunos quando o estudante está sentado na sua frente: eles parecem cansados, até mesmo um pouco abatidos. A grande maioria dorme menos de 8 horas de sono por noite durante a semana. Até pelo atraso fisiológico de fase, os estudantes universitários são mais sonolentos do que adultos e relatam mais problemas com memória e concentração. 

Mas por que isso ocorre? Onde e quando começa?

Uma das razões para a privação e má qualidade do sono é a mudança (às vezes) dramática do estilo de vida. Muitos têm que deixar seus lares para estudar na Universidade, necessitando um suporte financeiro maior que algumas vezes seus pais não conseguem dar, tendo eles que trabalhar além de estudar, o que leva a uma redução do tempo de sono. Em casa, a maioria mantinha um padrão razoavelmente regular do sono, sob o olho atento de seus pais.

Muitos perdem o sono através da preocupação, ansiedade e stress. Neste estado, o cérebro torna-se condicionado para associar a ida para a cama com um estado de “overthinking” (ou ruminação) e se manter preocupado. Após um período de tempo esta associação torna-se permanente e o sono torna-se cada vez mais afetado.

Outro aspecto é a emoção da liberdade proporcionada pela vida universitária. Baladas, encontro com os amigos e tempos de aula variados resultam em padrões de sono irregulares. Os estudantes tendem a dormir mais tarde ou cochilar uma ou duas vezes por dia para compensar o sono perdido. Isso sem falar no uso de álcool e outras substâncias; muitos alunos começam a beber e usar drogas recreativas quando eles vão para a Universidade, e, posteriormente, caem na armadilha de usar a droga como um auxílio do sono, o que leva o usuário para um caminho de uso habitual, o que não é diferente de tomar pílulas para dormir.

Entretanto, ficar longe do bar e ir para a cama cedo não é garantia que você escapará dos perigos da privação do sono do estudante. As pressões dos exames e prazos aumentam exponencialmente na Universidade, e nem todos estão preparados para lidar com tais demandas.

E as consequências? 

A privação do sono tem impactos sobre os alunos que eles podem não reconhecer. Muitos consideram o sono um luxo. Será que ainda considerariam dormir um luxo se soubessem da associação entre sono e desempenho acadêmico? Há também associação com retardo do tempo de reação, prejuízo da função imunológica, risco aumentado de infecção, bem como comprometimento da memória e aprendizagem, tão importantes nesta fase da vida. Certos tipos de aprendizado e memorização necessitam do sono, e se tornar um All-Nighter pode significar que o desempenho do aluno pode não se recuperar a partir desses episódios de perda de sono. Sem surpresa, um cronograma errático do sono pode prejudicar as médias de notas da Universidade.

Como mencionado acima, também existe a ligação entre as falhas ao volante, privação de sono e álcool. Em um simulador de condução, tão mínimo quanto 1-2 bebidas alcoólicas combinadas com apenas 4 horas de sono resultou em acidente de carro em 23%-33% dos alunos.

Há algo a ser feito?

Sim, há mais a ser feito, para todas as idades, mas especialmente neste grupo etário. 

Podemos fazer horários de aula e políticas escolares mais amigáveis para o sono? A resposta é “Sim”. A literatura mostra que atrasar uma hora o início das aulas no ensino médio (para as 8h30), por exemplo, pode melhorar o rendimento nas aulas e o humor e diminuir acidentes com veículos motorizados. Além das mudanças institucionais, intervenções educacionais efetivas podem aumentar a duração do sono e melhorar os hábitos de sono desde o pré-escolar até os estudantes universitários. É hora de trazer o significado do sono na educação, não apenas para o bem da aprendizagem, mas também para a saúde mental, qualidade de vida e segurança dos alunos. Os alunos não devem ser os únicos focos destas politicas educativas, assim como muitos adultos também sacrificam sono para cumprir suas muitas responsabilidades. 

Fonte: https://doi.org/10.1016/j.sleh.2014.12.006