O aleitamento materno sob livre demanda traz inúmeros benefícios para mãe e filho. Além do valor nutritivo para os bebês, ele protege as crianças contra infecções, alergias, algumas doenças crônicas e cânceres infantis. Já para a mãe, a amamentação reduz o peso mais rapidamente após o parto, ajuda o útero a recuperar o tamanho normal, diminui o risco de hemorragia e anemia e reduz o risco de diabetes e de desenvolver câncer de mama e ovário. Entretanto, ainda há muitas mães que abrem mão deste ato de doação e contato com o bebê para introduzir a alimentação artificial.

A mãe e o pediatra têm o poder de decidir a forma da alimentação infantil, embora a “facilidade” e o controle da mamadeira acabem determinando sua escolha, apesar de terem consciência das muitas vantagens da amamentação.

A amamentação provou ser superior à alimentação artificial de várias maneiras. A superioridade nutricional e imunológica do leite materno em comparação com a fórmula é geralmente conhecida, além de seu efeito no desenvolvimento psicológico, cognitivo e intelectual da criança, causando como já mencionado, uma menor taxa de doenças alérgicas e respiratórias e prevenindo alterações ortodônticas (na dentição), bem como alterações nos ossos faciais.

Tem sido demonstrado que quanto menor o tempo de amamentação, maior a probabilidade de a criança desenvolver mordida cruzada posterior, uma alteração dentária tipicamente devida à uma alteração óssea chamada deficiência transversa da maxila, um fator que contribui para o surgimento da apneia obstrutiva do sono (AOS). Então, com base nestas informações, podemos facilmente concluir que a amamentação pode ser um fator importante para a prevenção de distúrbios respiratórios do sono em crianças e também em adultos. (Journal of human lactation, 2017; 33 (2): 448-453).

Em relação aqueles que argumentam que as mães que amamentam dormem menos do que as que provém alimentação artificial para seus bebês, um estudo realizado nos Estados Unidos mostrou que mães que praticam o aleitamento materno dormem um número igual de horas em relação às mães que oferecem mamadeira para seus bebês. (Pediatrics 2010; 126: e1562-e1568). 

Dentre as prováveis explicações para este achado, temos o fato das mães que amamentam não despertarem da mesma forma que uma mãe que tem de preparar a mamadeira, pois podem manter-se no escuro e voltam ao sono profundo mais rapidamente. Além disso, o hormônio prolactina, presente no leite materno, pode ter um efeito indutor do sono no bebê.

E em relação aos bebês? É comum o bebê amamentado acordar mais vezes, pois seu aparelho digestivo, durante os primeiros meses, não tem ainda maturidade para absorver alimento suficiente a fim de que ele se mantenha saciado por um período longo. Como o leite materno é de digestão mais fácil, os bebês amamentados tenderiam a acordar com mais frequência, mas não é o que foi observado em um estudo realizado com bebês de 6 a 12 meses na Inglaterra (Breastfeed Med. 2015 Jun 9;10(5):246-52). Dos bebês nesta faixa etária, 78,6% ainda acordavam regularmente pelo menos uma vez por noite, com 61,4% recebendo uma ou mais alimentação láctea. Tanto o despertar noturno quanto a alimentação noturna diminuíram com a idade e nenhuma diferença (tanto no despertar noturno ou alimentação noturna) foi encontrada entre as crianças que estavam sendo amamentadas ou alimentadas com fórmula. No entanto, os bebês que receberam mais leite ou alimentos sólidos durante o dia tinham menor probabilidade de se alimentar à noite, mas não menor propensão a acordar, demandando os mesmos cuidados por parte dos pais.

Concluindo, é um mito afirmar que o aleitamento materno sob demanda possa trazer prejuízo para sono da mãe e do bebê. Além disso, a amamentação tem benefícios no desenvolvimento psicológico e intelectual da criança, além de proteger contra várias doenças, sejam respiratórias, alérgicas e também contra a apneia do sono, que afeta 1/3 da população brasileira atualmente.

Amamentar é vida! 

Agosto dourado, mês dedicado ao aleitamento materno