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Eu tive acesso a esse post do Cris Kresser em novembro do ano passado, quando estava no Rio de Janeiro e melhorando de um longo período de estresse. Nessa época estava um tanto frustrada pois havia regredido um pouco no que chamo de “meu processo de cura”. Eu tinha tendência a idealizar uma melhora sem recaídas e constante (um tanto quanto impossível para um sistema biológico complexo, o corpo). Porém, depois de meses escrevendo um texto de qualificação as coisas desandaram um pouco e não consegui lidar.

Esse post me impactou bastante na época, e acho que pode impactar mais pessoas 🙂

Segundo Kresser, o conceito de saúde é tão familiar e comum no nosso cotidiano, que muitos de nós nunca questionamos o seu real significado. Então, ele questiona se seria correto traduzir o seu significado apenas à “ausência de doença”?
Para isso, ele propõe o exercício de imaginarmos duas pessoas. Uma que teria “o retrato da saúde” física, energia ilimitada, digestão perfeita, mente afiada, sem doenças crônicas ou inflamatórias, raramente (ou nunca) pegaria resfriados e gripes. Porém em outras áreas da vida essa pessoa seria um desastre, relações terríveis e egoístas, não contribuiria para a vida dos outros, sem senso de humor e miserável, na maioria das vezes.
Já a outra teria, por exemplo, uma condição autoimune, lutaria consigo mesma por conta da baixa energia, teria digestão lenta, ou dificuldade para dormir. Mas sua vida seria incrivelmente rica e satisfatória, com relações profundas e nutritivas, trabalho significativo que faria a diferença no mundo, feliz e com bom humor.
Então ele pergunta: Se você tivesse que escolher entre essas alternativas, o que você escolheria?
Pois é. Eu sou a segunda pessoa.

Ele também diz que é possível uma pessoa ter uma vida social, espiritual e física saudável em sua plenitude. Mas nem sempre isso será possível.
Cris comenta que durante sua longa jornada para reverter sua doença crônica ele pode refletir muito sobre o que seria saúde para ele. Em um certo momento ele viu que por mais que se dedicasse talvez ele jamais pudesse alcançar o ideal de saúde que havia planejado e isso estava lhe gerando sofrimento, ansiedade e depressão – assim como muitas vezes eu ainda me angustio. Ele, assim como eu, havia tentado muitos protocolos alimentares “perfeitos”, vistado muitos médicos em todo país, e seguido à risca recomendações para obter uma saúde perfeita. Mas, ainda assim não havia sido o bastante.

Então em um determinado momento ele mudou seu foco: trazer mais alegria, prazer e significado para sua vida. E é exatamente o que estou tentando agora. De novembro para cá decidi não fazer mais exames de sangue por enquanto, decidi me expor, ou melhor, expor minha fragilidade. Ao invés de me retrair e tentar fazer tudo certo decidi que poderia voltar a fazer as coisas que gosto, isso incluiu voltar a viajar (depois de 2 anos), e ficar hospedada na casa de pessoas que não têm alimentação restrita e correr o risco de ser “contaminada” por glúten e outros alimentos, de ser julgada por fazer minhas marmitas, de ser questionada por estar em jejum.
Mas, de outro lado, inclui tomar sol todos os dias :D, caminhar na praia, conhecer pessoas incríveis, fazer projetos geniais, aprender novos esportes, me apaixonar por coisas novas todos os dias. E, consequentemente , ver grandes evoluções no meu quadro.

Como ele diz no texto, depois de anos pude ver que minha definição de saúde foi ampliada e se tornou mais inclusiva. Longe dos exames laboratoriais e do meu autojulgamento muito rígido percebi que tenho muito mais disposição do que as pessoas da minha idade, me alimento melhor, tenho uma rotina mais saudável e, pela primeira vez, enxerguei isso não como limitação por uma condição autoimune, mas como uma escolha.
No post, o Cris ainda cita que na sua perspectiva a melhor definição de saúde é “a capacidade de viver seus sonhos.” Ou seja, uma definição que não se refere à ausência de dor, desconforto ou doença. Em vez disso, ele aponta mais para a qualidade de vida e maneira de estar no mundo, e a capacidade de viver seus sonhos independentemente de suas circunstância.

Hoje eu tenho tentado ver meu corpo como um interface que me possibilita chegar aos meus sonhos. Tenho desenhado pequenos objetivos e me alegrado com as oportunidades que a vida tem me dado. É um exercício, mas parece que está funcionando.