“Trata-se de uma geração que não quer mais negociar sua vida, seu tempo, sua aprendizagem”. Essa é uma das frases com as quais Lesly Monrat descreve o seu primeiro documentário “Fluir – O devir da autopoiese”, lançado no dia 21 de abril.

O filme traz o depoimento de 12 famílias que vivem a realidade da desescolarização e/ou da livre aprendizagem no Brasil. Termos como “educação domiciliar”, “unschooling” ou “homeschooling”, apesar de ainda desconhecidos da maioria das pessoas, não são novos. Já existem movimentos inclusive no Senado e em outras esferas políticas aqui no país com grupos organizados que batalham por um modelo de ensino/aprendizagem. Diferentes, fora da escola, mas, ainda um modelo.

Lesly foi em busca das famílias que não querem modelo algum e assim permitem que seja o desenvolvimento dos seus filhos: da forma mais livre e autônoma possível. São pais, mães e uma criança que contam como é viver longe da escola e sem a aplicação de método específico, aulas formatadas ou meios pré-estabelecidos de ensino ou aprendizagem. É a vida em si mesma como principal fonte de crescimento e desenvolvimento físico, intelectual e emocional.

Esse tal de homeschooling

Já existem experiências, documentários e reportagens que retratam inúmeras experiências de crianças que se desenvolvem fora da escola ao redor do mundo. Em alguns países, o “homeschooling” é uma prática legalizada, no entanto, obedece a regras padrão. Em praticamente todos os casos, são retratadas vivências nos Estados Unidos e países da Europa e alguma coisa da Ásia.

Fluir – O devir da autopoiese é o primeiro documentário feito exclusivamente com famílias brasileiras e todas adeptas do desenvolvimento autônomo e livre de seus filhos. Sem livros didáticos, tutores, métodos ou regras. “É sobre uma vida mais orgânica, é sobre uma vida mais real, uma vida com sentido”, ressalta Lesly.

Os participantes são de diferentes partes do Brasil, da Amazônia a Santa Catarina, e representam uma grande parte da diversidade que há dentro da livre aprendizagem. Algumas famílias mantiveram filhos na escola por um tempo. Outras jamais matricularam. Todas estão integralmente fora do sistema escolar. Várias questões que sempre são levantadas diante do assunto como a aprendizagem em si, a socialização das crianças, as dificuldades, a rotina e o medo diante da insegurança jurídica são abordadas pelos participantes. Alguns já foram denunciados e passam por processos judiciais, inclusive.

Mãe e tudo mais

Lesly Monrat tem formação na área da educação. Paulista morando em Florianópolis (SC), ela é mãe de duas crianças e, na sua busca pelo que ela chama de “essência da vida”, decidiu que jamais mandaria seus filhos para a escola. Inicialmente, criou o blog Devir Educação onde compila muito material sobre o assunto. Essa busca a levou a conhecer mais e mais pessoas que vivem na mesma sintonia. Até que ela sentiu a necessidade de dar voz a tanta coisa boa que ouvia nas rodas de conversa, nos debates, nos grupos de bate-papo com essa famílias.

O filme foi feito sem dinheiro algum. Os participantes voluntariamente captaram as próprias imagens com seus celulares respondendo a perguntas enviadas por Lesly dentro de um roteiro mais ou menos pré-estabelecido que também foi sendo construído de acordo com o que ia chegando. Foram alguns meses de trabalho ininterrupto até que o documentário foi disponibilizado na rede gratuitamente e vem causando impacto em quem assiste. “Muitas pessoas que nunca ouviram falar do assunto estão pensando em outras possibilidades. Mesmo que não venham a aderir, acabam percebendo que existe uma multiplicidade de caminhos e que é possível fazer suas escolhas. Estar em sintonia com a sua própria essência. A livre aprendizagem é uma junção de caminhos singulares”, comemora.

Abaixo, disponibilizamos o filme na íntegra.

Assistiu? O que achou? Como a ideia da livre aprendizagem soa para você? Conta pra gente!

https://www.youtube.com/watch?v=T8uQg6JFP7M&feature=youtu.be