O mês voou, com direito a bastante chuva nos últimos dias e com a semana começando na quarta feira e terminando no sábado.
O trabalho foi interrompido devido as condições climáticas, mesmo com a presença das águas numa época mais propícia a seca! Mesmo assim , depois da tempestade vem a bonança e nossos corações estão em festa, por termos começado finalmente a elevar as paredes de hiperadobe!
Assim é a bioconstrução, é ter a permissão e a benção da mãe natureza a cada dia, para poder seguir transformando os recursos naturais por ela oferecidos, na tão sonhada casa! Com respeito e atenção aos sinais climáticos, sabemos se temos que cobrir com mais vigor as matérias primas: areia, terra por conta do sereno, chuva ou dos ventos, se o caminhão de entrega conseguirá acessar bem a estrada de terra e descarregar o material perto do canteiro de obra ou se a equipe terá as condições básicas da segurança necessárias no ambiente de trabalho, para que tudo flua de forma produtiva e harmônica.
A engrenagem desta empreitada bioconstrutiva do Lar doce Lar está cada dia mais “azeitada” e funcionando em compasso acelerado, mesmo com eventuais pausas.
Alguns membros da nossa equipe, participaram do curso de bioconstrução em hiperadobe, próximo de Piracaia. Isso permitiu com que houvesse a prática com a orientação de um engenheiro civil e bioconstrutor mais experiente e familiarizado com os detalhes técnicos.
A maioria da equipe é composta por profissionais da construção convencional e está aberta e disposta a aprender e a se especializar em hiperadobe. Apreciamos a dedicação, o capricho e a coragem de cada um dos nossos guerreiros que faz parte dessa construção, que se dispôs a inovar e a sair da zona de conforto do que está “posto” no mercado, do mais comum, conhecido e fácil!
Aos poucos, vamos qualificando a mão de obra local e gerando um legado sócio econômico, espalhando saberes e incentivando novas práticas!
As semanas foram intensas , com bastante
entra e sai de caminhões de material de construção e de concreto usinado para a fundação!!
Dois momentos foram marcantes: a visita da arquiteta Gelissa na obra, para verificar e aprovar o gabarito realizado, dando a largada para a “maratona” da operação concreto ciclópico para a fundação (dia 09 de maio).
O outro momento me emocionou profundamente, ocorreu quando o mestre de obras me perguntou logo que cheguei no terreno cedinho (dia 24 de maio), se o ponto da terra estava bom para começarmos com o hiperadobe. Depois de tantos dias de chuva e terra molhada -mesmo que coberta com a lona, ao retomar o trabalho, ele expressou essa dúvida com toda humildade.
Pedi com calma, para ele me mostrar a mistura da terra com cimento, daí ele pegou um punhado, fechou a mão, fez um “biscoito” que estava úmido e coeso. Então fiz ele se lembrar do que o professor lhe ensinou sobre o ponto ideal da massa do hiperadobe, segundos depois AGENOR estufou o peito e disse com segurança, “O PONTO DA MASSA ESTÁ CORRETO”!
Acho que ele só precisava desse respaldo, para começar nesta nova etapa!
Fomos JUNTOS encher de terra o saco de raschel e alinhar os primeiros centímetros das paredes da minha casa! Nesse dia éramos só cinco pessoas, nem todos sabiam como seria a sincronia e a importância de cada um nesta cadeia de ações, foi quando arregacei as mangas e comecei a espalhar os 15 baldes perto da terra misturada com o cimento (necessários nas três primeiras camadas), depois de cheios, levamos os baldes para onde a parede estava sendo feita, a terra foi ensacada, alinhada a partir do gabarito da fundação, pilada, aprumada e nivelada a cada camada. Aos poucos um fluxo ritmado foi se estabelecendo!
Neste breve momento honrei todos os cursos de desenvolvimento pessoal, permacultura e práticas de bioconstrução que fiz até hoje! Lembrei com alegria do Marcos Ninguém, que conduziu a oficina de hiperadobe no Projeto Muriqui Assú, que participei em outubro passado.
Os equipamentos foram feitos especialmente para facilitar o andamento do trabalho e poupar a energia da equipe, que encontrou seu ritmo e está se familiarizando cada vez mais com essa nova dinâmica do processo construtivo.
Mesmo não estando todo dia com mão na massa fazendo o trabalho pesado, pude participar desse marco tão importante, o início da fase mais esperada, a BIOconstrução (finalmente)!
Não há uma fórmula pronta ou uma receita sobre o que já conquistamos até hoje em nossa obra. Creio que só a partir da prática, da convivência com a equipe e fornecedores, da observação e da busca pela melhoria contínua, que conseguimos avançar com constância!
Agradeço a toda a equipe a quem delegamos a missão de construir o Lar Doce Lar: Gelissa, Angelo, Agenor, Sr. Nego (Lorenço), Pedro, Dedé e Gustavo.
Fomos conservadores ao investir na base de tudo, com foco na estrutura sólida dos “sapatos” da casa e na impermeabilização! Agora podemos elevar as paredes de hiperadobe nos dois pavimentos com tranquilidade.
Priorizamos a impermeabilização da casa e a drenagem, pois estamos na região da serra da Mantiqueira, onde há uma boa incidência de chuvas, olhos d´agua, rios e não por acaso, várias represas foram construídas ao redor, para abastecerem a maior capital do país. A região fora assim denominada pelos índios Tupi-Guarani por ser a SERRA QUE CHORA.
Encerro o texto do mês com a tranquilidade e a satisfação de saber que os desafios iniciais foram contornados e que agora a casa já está “desenhada no chão” e aos poucos está ganhando corpo a medida que se eleva!
Até breve!
As fotos do dia a dia e alguns vídeos estão sendo publicadas no Facebook : https://web.facebook.com/bioconstruindolardocelar
Eis uma retrospectiva por vídeo de março a maio. https://youtu.be/zd46ScWl8eQ