Karine sabia exatamente de quem era a culpa.
Ela chegou nervosa para ser atendida. Estava indignada:
‘- A culpa é dos médicos que não percebem o quanto a gente precisa de cuidado e gentileza. A culpa é do governo com o descaso da saúde. A culpa é da secretária que parece que olha para a gente como se a gente fosse inferior. A culpa é daquela que se dizia minha amiga e ficou dando em cima de quem eu gostava. A culpa é da minha mãe que não entende o que eu faço e vive brigando comigo.’
Uauuu… eram tantos os culpados que o que eu poderia dizer, não é mesmo? Ela estava convicta de que para tudo que ela estava vivendo tinha um culpado. Para cada drama, um ou mais culpados. Ela sabia me explicar detalhadamente o motivo das culpas de cada culpado.
O que Karine não sabia é que culpa é poder!
O que Karine não sabia é que distribuir as culpas, desempodera o ser!
E se por um momento, Karine esquecesse que existe a palavra culpa e num passe de mágica a substituisse pela palavra PODER, como seria?
‘- O PODER é dos médicos que não percebem o quanto a gente precisa de cuidado e gentileza. O PODER é do governo com o descaso da saúde. O PODER é da secretária que parece que olha para a gente como se a gente fosse inferior. O PODER é daquela que se dizia minha amiga e ficou dando em cima de quem eu gostava. O PODER é da minha mãe que não entende o que eu faço e vive brigando comigo. Pois eu mesma, não tenho PODER nenhum!’
E se Karine dá o PODER para o outro, realmente não sobra nada para ela. Aliás, sobra as lamentações, as cobranças e as exigências que ela tem em relação aos outros. Não há julgamentos aqui, mas se Karine escolhe dar todo o seu PODER para o outro, é natural que ela tenha resultados desagradáveis.
Até quando Karine está disposta a validar a velha ideia que a culpa é dos outros?
E se culpar os outros for a maneira mais fácil de se livrar do peso de se responsabilizar pelas próprias escolhas?
Quanto sofrimento Karine ainda está disposta a sentir apenas para validar a ideia que comprou dos outros de que não pode fazer nada por si mesma?
Como seria se Karine fizesse uma escolha diferente daquela que ela sempre fez? Quem Karine seria?
Sempre é uma escolha. Uma escolha que apenas Karine pode fazer por si mesma. E como diz Sartre:
“O homem está condenado à própria liberdade.”
Continuamos no próximo post … (De quem é a culpa? – continuação)
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Um carinhoso abraço.
Lara Silva
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