Mariana era uma menina de classe média baixa. Ela não sofreu nenhuma violência física na infância nem passou nenhuma necessidade básica. Mas era uma menina retraída, que brincava sozinha e se considerava feia, desajeitada e menos inteligente que as outras. Os comentários de seus pais, sempre reforçavam a visão distorcida que ela tinha de si mesma. No meio familiar, tios, avós, primos, ela parecia a ‘sem talento’, sem brilho, sem qualquer coisa que a fizesse se sentir especial de algum modo. Ela até se sentia menos querida que as outras crianças. Esforçava-se o tempo todo para ser melhor, se comportava como diziam que tinha que se comportar, mas nunca era considerada boa o suficiente.
Diante dos fatos, Mariana concluiu que ela nunca seria vista, amada, querida, pois nunca tinha sido boa o suficiente. Mais tarde, concluiu que a culpa de se sentir assim, era de seus pais. Eles nunca olharam para ela, nunca a amaram, nunca a aceitaram como ela era. E tendo pais tão péssimos, uma história de tanto isolamento e sofrendo bullying o tempo todo, o que ela poderia esperar da vida? Bem, ela concluiu que nada. Ela concluiu que sempre seria assim, e a cada decepção que sofria, se retraia ainda mais e reafirmava suas velhas conclusões. Era um círculo vicioso, sem fim, de tristeza, angústia, desespero mental, ansiedade, depressão. Os remédios e outros tratamentos pouco ajudavam Mariana. Não que ela não tentasse alternativas nem que ela não quisesse melhorar e viver algo bom, mas mesmo assim nada funcionava para Mariana.
Todo mundo leva tombos na vida, mas para Mariana, a culpa destes tombos, era a porcaria dos seus pais. Logo, por causa deles, ela estava condenada a uma vida sem alegria, sem leveza, sem apreciação dos amigos e das circunstâncias. Pois ela mantinha-se convicta, que por melhor que parecesse uma pessoa ou circunstância na sua vida, mais cedo ou mais tarde, ela sempre seria incompreendida, enganada, menosprezada, desrespeitada. Então, ela levantou barreiras em torno de si mesma para se proteger, mas se trancou lá dentro, numa profunda solidão. Não é difícil compreender que estes ciclos sempre se repetiam para a Mariana, afinal, a vida parece um espelho daquilo que a gente verdadeiramente acredita.
Bem, já conheci algumas Marianas ao longo destes anos e talvez, você conheça também. Apesar de querer muito sair disto, elas se veem presas a um ciclo vicioso de decepções sem fim.
Como seria possível ter novos resultados escolhendo todos os dias manter os velhos pontos de vista?
Quanta dor e sofrimento a Mariana ainda está disposta a manter apenas para validar suas velhas conclusões e pontos de vista?
A quem pertence estes pontos de vista?
Quantos amigos e boas circunstâncias a Mariana está disponível a evitar e a perder apenas para provar que nunca poderá ter uma vida plena por causa da porcaria de seus pais?
Quem seria a Mariana se ela não tivesse estes pontos de vista?
E se esta dor e sofrimento for a dor e sofrimento que ela ama odiar? Quem seria a Mariana se ela tivesse um ponto de vista diferente sobre seus pais e sua história? Quem Mariana seria sem esta dor e sofrimento?
Não dá para mudar os fatos do passado, mas dá para rever nossas conclusões sobre eles. Especialmente nossas conclusões sobre nossos pais. Seus pais também tem o direito de errar (leia o artigo anterior) . E não dá para negar, que quando há problemas de relacionamento com os pais, várias áreas da vida são negativamente influenciadas. E para quem está disposto a rever seus julgamentos, conclusões, pontos de vista, a Constelação Familiar pode ser o ponto de virada.
Continuamos no próximo post…
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Um carinhoso abraço.
Lara Silva