Você quer ser feliz? Quer que as coisas dêem certo para você? Claro que sim. Quem não quer?

Mas por que acontece de passarmos uma vida buscando algo e muitas vezes não conseguimos ou quando conseguimos percebemos que ainda não era bem aquilo, não nos sentimos plenamente realizados ou que não valeu tanto esforço?

Já ouviu a expressão “dar murro em ponta de faca”? Pois é, não é algo muito inteligente ficar dando socos em ponta de faca, não é mesmo?

Você já prestou atenção na dança, em uma bela dança a dois, como uma valsa ou um tango? Lindo, não é mesmo?

O que acontece? Geralmente um dirige a dança e o outro acompanha, mas sempre há harmonia, mesmo quando não há um que coordene. Uma dança bonita e bem realizada é aquela em que há plena coordenação entre o par que está dançando. Já tentou dançar com alguém que não sabia ou quando quem não sabia era você? Fica difícil, não é mesmo? Pisar no pé do outro é o mais comum nestes casos. Falta de harmonia, de beleza, um puxa para um lado, o outro vai para o outro lado, desencontros, falta de ritmo, insegurança, e por aí vai. Nestes casos nem parece uma dança, parece mais uma luta.

Eu não sei como você imagina ou vê a vida, mas será que a vida não é algo maior do que você? Ou você, suas ideias e vontades são maiores do que a vida?

Eu parto do princípio de que a vida é muito mais do que eu, minhas ideias e vontades, apesar de saber que eu estou nela e ela está em mim.

Então, viver é mais ou menos como dançar. E é aconselhável que se desenvolva uma percepção sutil dos movimentos que a vida faz ou deixa de fazer para podermos acompanhá-la na dança de viver. A lentidão, as aceleradas, os movimentos que exigem força, os rodopios, os movimentos suaves, o deixar-se levar, o conduzir, os diferentes ritmos, mas sempre movimentos. Na dança, e na vida, ainda jogam o saber respirar, a sedução, a beleza, a postura e a alegria.

Praticamente, quando tento algum caminho que se fecha ou que apresenta obstáculos, em princípio me preparo para superá-lo, fazendo a minha parte, porém, se depois de tentar com sinceridade, o caminho não se abre, então preciso perceber que talvez não seja por ali, talvez haja outro caminho aberto, ali bem perto. Pode ser que não seja bem o que eu esperava, mas pode ser que seja o melhor para mim se eu seguir as indicações da vida. Afinal, eu enxergo apenas alguns palmos adiante do meu nariz, mas a vida conhece a sua própria totalidade, enxerga depois da curva, atrás das paredes, depois das montanhas e mares, distante no tempo.

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Certa vez eu precisava de trabalho, distribui currículo, falei com pessoas, fiz vários concursos, estudei bastante, me esforcei bastante, com sinceridade, mas nada, não deu, cheguei perto, mas não deu.

Então pensei nisso: “pode ser que não seja por aqui o meu caminho agora. Sou professor, mas pode ser que agora não seja para eu lecionar”. Relaxei, confiei na vida e agucei minha percepção, tentando acompanhar o movimento da vida, dispondo-me a dançar com ela. Então o telefone tocou, era um amigo convidando-me para um curso, gratuito, uma semana.

Pensei: “eu deveria era procurar emprego, mas vou acompanhar este movimento que a vida me convida a fazer, a dançar.” Fui à abertura do evento, uma segunda-feira pela manhã, caminhei alguns quilômetros no sol para chegar lá. Sentei, assisti e ao meio dia voltei para casa para almoçar. Assim que terminei de almoçar parou um carro preto na frente da minha casa, era o prefeito da cidade, que foi convidar-me para assumir um cargo de confiança na administração municipal. Não pude mais ir ao tal curso, fui trabalhar a partir daquele dia.

Nunca pedi um emprego àquele homem, ele apenas me viu lá, naquele curso, naquela manhã. Não estou aqui querendo classificar o acontecimento com bom ou mau, mas apenas mostrar que a vida convida para dançar e, se sabemos acompanhá-la, as coisas acontecem sem maiores esforços e sofrimentos, sem precisar se estressar, sem ter que dar socos e ponta de faca. A dança acontece, com harmonia, beleza e leveza.

Este é apenas um exemplo de tantos outros que eu poderia dar. Há momento para todas as coisas, mesmo que não seja no tempo e do jeito que queremos que seja. E a vida, sendo maior, não vai curvar-se a você, tampouco vai adaptar-se para fazê-lo feliz, mas o contrário deve acontecer.

Quem chora e esperneia quando não tem o que quer são as crianças, bem pequenas e infantis. Portanto é uma infantilidade alterar o estado de ânimo porque as coisas não saem como achamos que têm que sair, porque a vida e/ou as pessoas não fazem as nossas vontades, não realizam os nossos desejos. Isto é absoluta falta de maturidade.

Aliás, contraditoriamente, esta falsa obrigatoriedade que criamos ultimamente, de ser feliz, parece ser o principal objetivo de todos e tornou-se uma busca demasiadamente pesada, que está tirando a felicidade das pessoas.

Mas ser feliz de maneira alguma significa ausência de problemas nem estado de alegria constante, isto não é possível e nem desejável.

Ser feliz é saber viver sereno, seguro e confiante em meio aos problemas e turbulência da vida. É nos momentos tristes, ficar triste, e nos momentos alegres, ficar alegre, sem, no entanto, cair em desespero ou ficar demasiadamente eufórico.

Ser feliz é viver sem exigir demais de si mesmo e dos outros, é cobrar e cobrar-se menos, é aprender constantemente. Somos seres em construção, nunca estamos acabados, prontos. E é importante aprender a conviver com a insegurança e com a incerteza. Viver é uma aventura, uma dança nas alturas.  Se olharmos bem mais de perto, não há monotonia nem rotina, mas aventura e movimento constantes. Quer coisa melhor que isto?