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Onde está nosso pensamento, lá estamos nós. Por este motivo acontece algumas vezes de uma pessoa não saber se chaveou a porta ou não, se desligou o fogão ou não, onde deixou as chaves e até onde deixou o carro. Em casos mais graves, a pessoa até esquece o próprio filho. Há quem olhe diretamente para você ou para o carro que passa e não enxergue, atravessa a rua nesta condição e acaba atropelado. Você já deve ter visto algo parecido. Há o caso do cara que chegou em casa depois de longa caminhada e só aí lembrou que esqueceu o carro no estacionamento do trabalho, do mercado ou do shopping, porque a chave da casa estava dentro do carro. Existe até um ditado popular que diz: “quando a cabeça não ajuda, o corpo paga”.

Isto acontece porque a pessoa não estava presente. O corpo faz, o corpo age, mas a pessoa não está presente, está em outro lugar, em outro tempo, passado ou futuro. Esta situação, em certos contextos, pode ser bem perigosa, quando se está dirigindo ou manejando alguma máquina que possa oferecer algum risco.

Estes são exemplos grosseiros e facilmente identificáveis de falta de atenção e suas possíveis consequências. Mas não é sobre isto que quero falar hoje. Quero dizer algo sobre o valor da atenção, um poder do ser humano que é bem pouco utilizado.

A atenção é o poder de estarmos no aqui e no agora em corpo, pensamento e sentimento. É o poder de estarmos inteiro nas coisas, nos momentos e nos lugares. E não me refiro aos momentos de meditação, mas a uma habilidade treinada e experimentada no dia-a-dia. Estar inteiro, completo no aqui e no agora é uma habilidade que traz muitíssimos benefícios fisicos, mentais e emocionais ao ser humano que pratica e aos que vivem a sua volta. Juntamente com esta habilidade vem a capacidade de se encantar, se surpreender com a vida em seus mínimos detalhes, que muitas vezes não vemos por não estarmos presentes.

A atenção é a ante-sala da concentração e esta é a ante-sala da meditação. Viver no aqui e no agora significa muita economia de energia, economia de incômodos, de preocupações e desastres e é uma maneira de errar menos e ter mais excelência no que se faz e no que se vive. Significa mais felicidade, leveza, assertividade. Significa viver de verdade e não mais vegetar, não mais viver como autômato, agindo sem consciência alguma do presente momento, andando sem enxergar, ouvindo sem ouvir. Aliás, você já deve ter presenciado ou vivido uma situação parecida, em que você fala com alguém que está bem perto de você, conta toda uma história e a pessoa não ouviu nada, não sabe o que você disse. Ela não estava presente, apenas o corpo estava presente, mas a pessoa não.

A atenção no aqui e no agora é um poder valiosíssimo que todo ser humano pode adquirir com exercício e dedicação. Não estou dizendo que é algo muito fácil ou simples, mas que é possível. Aquele que não está no aqui e no agora olha sem enxergar e aquele que está consciente do presente momento enxerga sem precisar olhar.

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A principal causa para a falta de atenção, de presença, é a mente solta, a mercê de qualquer estímulo externo ou interno. A mente solta nos leva para onde ela quiser e passamos a ser espectadores passivos e não donos de nós mesmos. Passamos a ser vítimas e não senhores de nós mesmos.

A partir de um pequeno estímulo externo, como a visão de uma roupa na vitrine de uma loja, nossa mente, se estiver solta, sem controle, pode nos levar para uma situação do passado ou para uma apreensão sobre o futuro, alimentando pensamentos e preocupações que nos levarão a sentimentos amargos e indesejados, desembocando talvez em tristeza ou raiva, quem sabe.

Já sob o nosso controle e domínio, nossa mente estará onde queremos e onde precisamos que ela esteja, sendo possível reverter ou impedir processos como este que acabei de descrever, evitando o gosto amargo de pensamentos e sentimentos desnecessários. Ficar no passado ou viver no futuro enquanto estamos aqui e agora é perda de tempo e de energia, além de que não resolverá problema algum, pois só resolvemos os problemas com ações concretas no momento certo, se é que há solução, se não podemos solucionar tampouco adiantará se pré-ocupar com o problema.

O exercício para desenvolver esta habilidade é muito simples, não precisa de nenhum investimento nem de valor nem de tempo extra. A prática pode ocorrer em todo momento e em qualquer lugar. Basta lembrar-se de que a mente, o pensamento, a atenção deve estar aqui e agora, naquilo que se estiver fazendo. Seja cozinhado, lavando a louça, limpando a casa, lavando o carro, tomando banho, correndo, fazendo compras, trabalhando, lendo, dirigindo, esperando, comendo, namorando, fazendo sexo (sei, isto é bem mais fácil, não é? Nem precisa muito esforço nesta hora para estar presente, pois se assim não for, algum problema pode estar ocorrendo ou poderá ocorrer) a mente precisa estar sendo atraída, puxada para o aqui e o agora. Mas sem esforço, de forma sutil e leve, não se está puxando um touro pelos chifres, mas moldando uma energia sutil, volátil, de nós mesmos, treinando-se.

É aconselhável desacelerar um pouco o ritmo, caminhar mais devagar na rua, prestar mais atenção ao seu redor, em todas as coisas e pessoas. Agir sem tanta pressa ajuda bastante a mantermos a atenção no presente.

Já tive alunos e conheço pessoas hoje em dia que praticamente não estudam em casa e só tiram notas altas, porque no momento da aula estão presentes não somente de corpo, mas de verdade, de atenção.  Já fiz este desafio com alunos em sala de aula, feche os olhos e tente manter sua atenção, sua mente na sala onde está, ou no quarto, dentro das quatro paredes, aí você verá o quanto nossa mente nos leva para muitos lugares e tempos que não são onde e quando está o nosso corpo.

Experimente e você verá que chegará ao final do dia muito menos cansado, que terá uma memória melhor, que se irritará menos, que esquecerá menos coisas, que saberá de muitos detalhes que as outras pessoas não chegam a perceber e que a vida ficará mais rica.