A cultura no Brasil é a de que quem contrata empregada doméstica é porque possui um “status superior” diante da sociedade. Será mesmo que se trata disto?

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Regina Casé. Cena do filme “Que horas ela volta?”.

São inúmeros os motivos que levam uma família ou quem for a contratar uma empregada doméstica. Ou babá. Não direi aqui se são razoáveis ou não. As formas como conduzem a relação empregatícia podem ser das mais variadas. Ainda que, muito recentemente, foi regularizada a situação das empregadas domésticas no país, antes elas não tinham muito em que se amparar. Não que a realidade tenha mudado drasticamente até então.

Qual a sua relação com a pessoa que trabalha na sua casa? Quantas horas por dia ela realmente trabalha? Vai além? Quais as funções que ela realmente exerce? Vai além?Casos as respostas sejam afirmativas, essa é a realidade da esmagadora maioria, e precisamos nos questionar, refletir e policiar.

Trabalhar das seis da manhã às dez da noite não está certo. É desumano. É cruel.

Tão pouco a pessoa deve ser grata a você por ter dado a “oportunidade de emprego” quando ela mais precisava ou ninguém mais ofertava.

Se ela não almoça com você, não janta com você, não vai ao cinema com você, não ganha presentes em datas comemorativas, não recebe um abraço, um agradecimento etc etc etc., não diga que é da sua família. Quem é da família não serve a mesa para os patrões jantarem. E afirmar “já é da família” não vai fazer sumir certos desrespeitos e humilhações. Então não diga isso.

 No mínimo e o que se espera é que esta pessoa seja tratada com respeito e dignidade, o que falta, e muito, nos lares brasileiros.

Para medida conscientização, recomendo os filmes: “Que horas ela volta?” e “Histórias Cruzadas”. Para os mais sensíveis, quem sabe desperte a reflexão.

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Cena do filme “Histórias Cruzadas”.

Às vezes nos habituamos com a rotina e ideia de que aquela pessoa está ali para nos servir e somente, como um robô, e não é assim. É um ser humano, trabalhando em algo, que pasmem: nós mesmos poderíamos fazer, afinal, se trata de limpar a própria sujeira! Nossas mãos não caem! (Dica de quem aprendeu tudo isto não faz muito tempo. Nunca é tarde..). Podemos tentar deixar a preguiça intelectual e empática de lado e usar as energias a favor de todos.

A ideia para este pequeno texto surgiu de uma página em outro site que se chama “Eu Empregada Doméstica[1]”, criado para que estas pessoas possam desabafar sobre situações corriqueiras, humilhantes, que passam em decorrência do exercício de suas funções dentro da realidade de pessoas que vivem em sua própria bolha.

Todos os relatos são revoltantes, até olharmos para dentro de nossas próprias casas. Complexo, é sim. Mas já passou da (nossa) hora.

Para finalizar, um depoimento impactante dentre tantos postado na página citada do facebook. Espero sinceramente, que de uma forma ou outra, contribua positivamente para o despertar da consciência de alguém. Como dito, nunca é tarde.

“(Relato G.M)

2006, recem separada, com dois filhxs pequenxs.

Contratada para ser diarista (segunda, quarta e sexta) R$70,00 por semana.

Casa dois andares, quintal enorme, canil, piscina, area de churrasco. LIMPAR TUDO SOZINHA! ok, tô precisando.

Ah e cuida do fulano quando chegar da aula (filho da patroa com onze anos) ele toma nescau as 14 horas.

Ok, tô precisando… (Arruma o nescau pro garoto engolindo o choro pq seus filhos não tem nem o nescau, nem a mãe em casa pra arrumar)

Ah faz almoço.(trivial)

Suco natural de acerola, você pega no pé.

Meio dia em ponto almoço servido.

Ok, tô realmente precisando.

As sextas passa as camisas do fulano. (marido)

Ok, eu tô cansada mas eu consigo.

As quartas usar a maquina de lavar reaproveite a agua para lavar o quintal.

(Sim senhora. Respira fundo)

Deixa eu te falar, o fulano (marido) pediu pra você ficar do lado de fora (no quintal) enquanto almoçamos. Depois que ele sair você almoça. É que ele não se sente confortavel.

(Respira fundo e pensa nas crias)

Faz café quando chegar? Busca o pão?

(respira, respira, você aguenta)

Chá com as amigas “Ela é ótima! Ja é da familia” (apontando pra mim)

(Chora, chora muito)

Olha, veio esse numero aqui e ninguém da minha casa fez essas ligaçoes. Só pode ter sido você.

NAO SENHORA NAO FUI EU. LIGUE PRA ESSE NUMERO PRA COMPROVAR. NAO CONHEÇO NINGUEM NESSA CIDADE.

Vou ter que te dispensar e descontar essas ligaçoes.

MAS SENHORA NAO FUI EU, NAO TENHO PORQUE MENTIR. LIGUE PARA O NUMERO PARA COMPROVAR.

Infelizmente fulano ja decidiu te mandar embora. Toma R$52,00 pq tô descontando as ligaçoes.

Sentimento de injustiça (respira fundo e vai)

Volta pra casa, passa no mercado, compra leite, nescau e biscoito pra suas crias.

Não sabe se chora ou se ri.

‪#‎EuEmpregadaDoméstica”

[1] Disponível em: < https://www.facebook.com/euempregadadomestica/ >