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Quem nunca refletiu sobre a própria história e imaginou e reinventou a mesma?

Quem nunca teve vontade de conversar ou tentar conhecer um pouco mais sobre um desconhecido somente pela sua expressão do momento?

Quem nunca se pegou olhando para alguém e tentou imaginar a história por trás do rosto presente?

Um senhor de cabelos brancos, roupas desgastadas, sentado fumando um cigarro na beira da porta de um bar pequeno numa cidade grande.

Um casal de meia idade caminhando juntos, mas um mais à frente e o outro mais atrás.

Uma moça passeando sozinha pelo shopping, andar calmo e olhar perdido.

A senhora que limpa o banheiro do aeroporto.

A travesti, à noite, em um lugar qualquer pronta – ou não – para se submeter à vontade alheia.

O homem pedindo comida, dinheiro, água (o que for) na sinaleira no trânsito.

Pessoas apressadas no centro da cidade.

Todos os presentes dentro de um avião, ônibus, metrô ou trem.

A pessoa estranha ao seu lado seja onde estiver.

O adolescente tentando vender amendoim de casa em casa.

A mulher que limpa a sua casa.

A mãe com o filho chorando nos braços.

Se cada um for contar a sua história surpresas surgirão, porque de certa forma apenas nos damos conta do nosso próprio peso. O que é natural, dadas as circunstâncias em que vivemos. A nossa história nos faz ser quem somos, nós a construímos e ela nos retorna. Uma estruturação mútua, molda-nos em algum limite. Por trás do meu rosto existe uma história com altos e baixos, em distintos graus, e do seu também. E de todas as pessoas que não lerão este texto.

Esta reflexão me fez lembrar que toda história que parei para ouvir durante meu tempo de vida me ensinou algo, uma contribuição genuína. E que há algo de mágico e trágico em conhecer o trajeto do outro, engrandece as partes. Geralmente de quem menos esperamos conseguimos contribuições ímpares. Em dado momento, mesmo que doa ouvir a dor do outro ou compartilhar da própria, é uma dor que acalenta e transforma.

Olho para um rosto desconhecido e tento imaginar como está sendo seu dia, como chegou até ali, como segue com a vida. Ele se vai e a nuvem de questionamentos e imaginações permanece. É estranho como estamos juntos ao mesmo tempo em que não estamos. Compartilhamos pequenos pedaços da vida que simplesmente passam. Sensação confusa essa a de contemplar sobre como a coisa gira.

Pode ser que tudo isso lhe pareça uma grande bobagem, foi algo de momento mesmo, tipo esses momentos em que cruzamos com alguém por segundos/minutos/horas e imaginamos mil coisas, mas logo se queda para trás, na roda viva da vida.

Bons inícios de semana e mês.

Por ter chegado aqui, gratidão!