Dia desses certa revista dos Estados Unidos da América, estampou como capa a atriz hollywoodiana Jennifer Aniston, onde afirmava que a mesma estava finalmente grávida, devido a saliência que se encontrava na barriga da atriz. Diante deste (mais um) disparate da mídia, Jennifer Aniston resolveu desabafar[1] e escreveu um texto para Huffington Post[2], representando o que muitas mulheres gostariam de dizer.

Untitled design (23)

A atriz Jennifer Aniston (do meio) no papel de Rachel no seriado Friends, em cena referente a casamento.

Segue trecho do desabafo:

“Estou farta desta fiscalização dos corpos disfarçada de jornalismo, de notícias de celebridades. Todos os dias, eu e meu marido somos assediados por dezenas de fotógrafos em frente a nossa casa. Eles miram a câmera para conseguir qualquer tipo de foto, mesmo que para isso, eles machuquem a nós ou a pedestres desavisados.  Mais do que o aspecto de segurança pública quero falar sobre o que essa cultura de tablóide representa para todos nós.

Aqui era onde eu queria chegar: estamos completas com ou sem uma companhia, com ou sem um filho. Nós começamos a decidir por nós mesmas, o que é belo quando se trata de nossos corpos. Essa decisão é nossa, e só nossa. Vamos tomar essa decisão por nós e para que as jovens mulheres neste mundo olhem para nós como exemplos. Nós não precisamos ser casadas ou mães para sermos completas. Nós começamos a determinar nosso próprio ‘feliz para sempre’

Imagine, que uma mulher como Jennifer Aniston está sendo julgada por conta do seu corpo. Ela! Que está dentro de todos os padrões. Reflita o que sobra para nós? E mais, ela é extremamente cobrada por não ter filhos, por mais realizações que ela tenha na vida. “O destino que a sociedade propõe tradicionalmente à mulher é o casamento”, e posteriormente os filhos, já dizia a filósofa francesa Simone de Beauvoir.

É preciso questionar – o que já vem sendo feito – esta imposição social de que a mulher somente será feliz casada e com filhos, que encontra a plenitude da vida apenas a partir do casamento. E quando questionamos tal fato, não estamos afirmando o contrário, ou seja, de que a mulher para ser feliz não deve casar e muito menos ter filho. A mulher deve ser livre, não? Para optar e se sentir realizada com a sua escolha, seja ela qual for.

Importante trazer neste momento o que diz, novamente, Simone de Beauvoir:

“O encargo que a sociedade impõe à mulher é considerado como um serviço prestado ao esposo: em conseqüência, ele deve à esposa presentes ou uma herança e compromete-se a sustentá-la; é por seu intermédio que a sociedade se desobriga em relação à mulher que lhe entrega” (DE BEAUVOIR, 2009, p. 549[3]).

Quando a mulher contrai casamento e trabalha em casa é como se esta sua obrigação fosse, e somente. O esposo se exime de tal responsabilidade. Como se a mulher devesse obrigatoriamente, como saída de um curso preparatório, bem cozinhar, bem lavar, bem passar. Quando elabora um prato maravilhoso, nenhum elogio ou demonstração de gratidão lhe é dado, pois é considerada sua obrigação. Ou seja, quando casa, deveres já lhe são atribuídos compulsoriamente, incluindo o de ter filhos, quando não casa, é julgada de diversas formas pela sociedade.

Para resumir e elucidar, o que aqui se apresenta e questiona é o status atual da mulher casada e a não casada da sociedade. Ambas as opções deveriam ser possíveis sem julgamentos e pressões, iniciando por nós mulheres: não julgue a outra por um motivo ou outro, a apoie na sua decisão. Decida baseado naquilo que lhe interessa, e não aos outros, afinal quem vai casar ou não é você. Jennifer Aniston nos representou a todas, como disse a própria “Nós começamos a determinar nosso próprio ‘feliz para sempre’“.

[1] Para ler em português, acesse < https://mdemulher.abril.com.br/famosos-e-tv/estilo/jennifer-aniston-desabafa-eu-nao-estou-gravida-estou-farta >

[2] Para ler a íntegra em inglês, acesse < https://www.huffingtonpost.com/entry/for-the-record_us_57855586e4b03fc3ee4e626f?0830ynt7rezmpldi >

[3] DE BEAUVOIR, Simone. O Segundo sexo. Tradução de Sérgio Milliet. – 2 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009. 2v.