“A tristeza pode ser linda” foi de imediato a frase atravessada em minha garganta.  Pensei que fosse para acordar agradecendo e fazendo poses ao sol. É também! Que maravilhoso ter um coração grato e um espírito alegre. Mas estou mencionando o perder-se nos padrões ideais da perfeição que temos nos enfiado. Olha, essa dinâmica pode ser exaustiva, nos deixando com as mãos nos joelhos e língua de fora no meio do caminho.

Não somos uma máquina que cospe serotonina e boas vibrações, ufa que bom! Os dias em baixa possuem sua mágica.

Hora ou outra, a mente tendenciosa e hiperativa tenta nos punir.  Como se fosse uma espécie de obrigação acordar com ideias de felicidade saindo pelos poros. Acontece que naquela terça feira o rosto se fez sério e o silêncio imperou.  Não queria ver ninguém, nem dar sorrisinho no elevador. Nem falar bom dia, nem falar com as plantas. Nem ver o sol e nem ver gente de espécie alguma.  É só um dia daqueles que nem se sabe o que quer.

“Dianna, como você escreve isso numa coluna que aborda o bem-estar?” Justamente pelo bem-estar.

Se reconhecer cíclico, passar por todas as estações, o inverno é sempre um bom professor, e o frio pede acolhimento.

Pode haver beleza, a tristeza não é feia.

Estou a dividir com vocês, algo que me ocorria com frequência. Quanto mais eu me punia por não me sentir plena todo dia, o círculo do sofrimento aumentava. Eu estava sofrendo por não poder sofrer, sufocante e cômico.

Até que fui percebendo qual era a mágica dos dias em baixa. Eu realmente não sabia me acolher. Acreditava que tristeza se mandava embora como um dono de bar que espanta um cachorro pidonho com a vassoura.  “Sssshhhh, vaza”.

Em algum momento a vida nos convida a desacelerar. A olhar para alguma questão importante e pouco agradável. Não se sabote, é um momento lindo, único e especial. Um dia a ser vivido. O dia em baixa pode funcionar como um filtro que limpa o canal para o fluir de uma felicidade futura potencializada.  Oportuniza a cura e te leva a acolher a si próprio. AUTOCUIDADO é a palavra.

Quando gentilmente acolhemos a dor em dizeres mentais como “Ok, eu vejo você” mais rapidamente ela se desinstala, a dor se demora quando envolve repulsa e volta como um boomerang, simplesmente porque ela quer se dissolver e dissipar e acabamos jogando-a inteira para longe. Inteira ela retorna. Deveras um cansativo ciclo.

A aceitação traz de presente um combo, envolve leveza e consciência. Enquanto estivermos nessa terra em experiência humana, sensações boas e ruins virão. Aceito a sensação, acolho a sensação e a deixo ir.

Em uma terça cinzenta, ela solta um suspiro lento outrora enclausurado no peito, toma um banho demorado sentindo cada gota de água quente deslizando no corpo cansado. Desmarca a reunião com o pessoal da empresa, marca uma reunião consigo mesma. Abre uma página aleatória do livro com capa esverdeada de Eckhart Tolle, que diz:

“Aceite, depois aja. O que quer que o momento atual contenha, aceite-o como uma escolha sua. 
Trabalhe sempre com ele, não contra. Torne-o um amigo e aliado, não seu inimigo. 
Isso transformará toda a sua vida, como por milagre.”- Livro: O Poder do Agora.

Com a boca semiaberta e olhar parado como quem acaba de dar sentido a algo, percebe que tristeza tem função, não sendo ela a vilã.

Decide senti-la e sussurra em alívio:

“Tristeza, eu vejo você”.

Após ser vista, foi se dissolvendo até deixar de doer.

.

.

Atenção: Em caso de sentimento constante de tristeza, procure um profissional capacitado.