Se acontece de você ter aquela sensação de “sou uma pessoa tão legal (ou tão boa, ou tão competente, ou tão qualquer-coisa), por que isso (tal coisa ruim) acontece comigo? Que droga. Vou comprar uma paleta mexicana para me alegrar”, bem-vindo ao mundo da vitimização e auto-indulgência! Eeeeêee!

Todos passam por esse tipo de situação, mais cedo ou mais tarde. É um modo que o cérebro tem de tirar o foco daquilo que está causando desgaste no momento. Mas olha só: o mundo está aí, cheio de coisas para nos tirar o foco. A situação do “oh-que-droga-sou-tão-bacana-aquele-bocaberta-do-fulano-estragou-tudo-que-vestido-lindo-me-dá-meu-cartão” passa a virar regra. E aquilo que serve para resolver o problema, se torna um problemão muito maior.

Existe uma estrutura no miolinho do cérebro, chamada sistema límbico, que lida com nossas emoções. A cada percepção de estresse, o sistema límbico aciona mecanismos (gerados em outras subpartes internas, como a amígdala) para que a gente encontre coisas mais interessantes para fazer ou se dedicar, a fim de prevenir a sensação de frustração e o desgaste emocional que isso gera. Se a gente embarca nessa ideia, o cérebro acha que acertou em cheio em uma solução e volta a repetir o padrão, com mais frequência.

Uma coisa é se distrair com jardinagem, ou curtindo uma bela paisagem. Outra, é recorrer ao consumo desmedido (presentear-se em demasia, comer o que vê pela frente) – porém, esta última opção é a que acaba se repetindo com mais frequência, pela falsa sensação de poder que vem embutida nela. Então, quando vier aquele pensamento que cai de paraquedas para te distrair (dis = dois, trair=é trair mesmo. “Distrair-se” é ser traído por si mesmo!), que você não sabe de onde saiu, está aí um servicinho do sistema límbico.

O problema continua, seja de roupa nova, ou por dentro de uma capinha de chocolate. Porém, esse chocolate é que nem casquinha de ferida: cada vez que arranhar, vai sangrar de novo. E cabe a você (Sim! A ninguém mais!) fazer com que o cérebro entenda que este não é o caminho mais produtivo. Cada reforço surfando a onda do pensamento de distração vai fazer com que o padrão no cérebro se repita mais e mais. Não estou aqui falando daqueles problemas que precisam de tempo ao tempo, de baixar a poeira para melhor resolver. Falo do protelar e adiar, que não resolve nada, só traz para o presente um problema que estava no passado, e com uma ansiedade irritada que piora tudo.

Mas lembra: o que não mata, torna mais forte. Sendo assim, resolva, um por um, cada coisa na sua vez. Mas resolva, com calma e foco. Faça uma lista e se preocupe com cada item na sua vez até que ela acabe. E a cada resolução – seja para o lado que for! – a sensação será melhor. O efeito bola de neve vai se acabando, a água passa debaixo da ponte, e novas coisas boas vão advir das suas decisões. Rupturas precisarão ser feitas e nem tudo se assume de imediato, mas a cada decisão, você será mais… Você. Em uma versão mais leve e sem necessidade de roupa nova. 🙂