No último domingo, em minha cidade, houve um evento desportivo em que a comunidade escolar participa de uma rústica de 4km, com partida e chegada no ginásio municipal. Minha filha, por incentivo do professor de educação física, optou por participar, embora sem haver o menor preparo para este esforço. A promessa de medalhas aos 300 primeiros colocados fez com que ela ensejasse o vislumbre de, talvez, quem sabe, receber uma. Ela se inscreveu, ganhou fitinha de identificação no pulso direito, ficou feliz; eu e o pai da moça, apenas acompanhantes.

No que foi dada a largada, a menina correu com pernas que nunca teve antes. Não durou 500 metros. Foi acometida daquela dor aguda na lateral do fígado, quando o glicogênio acaba sem dar muita satisfação. Se agachou, foi para a calçada, respirou fundo e seguiu caminhando. Fomos os três juntos, vendo corredores e mais corredores passando por nós. Meu esposo, muito espirituoso, comentou: “Vamos seguindo e que perca o pior!”, fazendo alusão ao fato de estarmos já na rabeira dos participantes, e ponderando sobre o ditado “que vença o melhor” (já que não íamos vencer, mesmo!). Essa situação me fez pensar que o pior, na verdade, nunca esteve em condição de concorrer. O pior não perde, pois nunca esteve no páreo. Antes de perder para qualquer outro, perdeu para o despreparo, perdeu para si. Éramos nós, ali.

Mas havia uma luz na esquina: estavam distribuindo copinhos de água mineral! Pena que a luz se apagou logo em seguida: ao virar a rua, se alastrava uma trilha de algumas centenas de copinhos plásticos pelo chão. A trilha se dirigia ao ponto de chegada, foi esmaecendo até lá, mas perdurou por bons cinco quarteirões.

Paramos.

E nos pusemos a juntar copinhos.

Seguiram-se mais dois apoiadores (camisetas do Colégio Sant’Anna) e, assim, enchemos o equivalente a três caixas, encaixando os copos vazios uns nos outros e fazendo render o espaço. Muito me entristeceu o fato de que esta atividade envolveu público escolar, que aprende sobre sustentabilidade, sobre reciclagem, e que não mudaria posição para antes ou depois só por ter levado um copinho na mão até a linha de chegada!

Entregamos uma parte da coleta de lixo aos organizadores, para que compreendam que é preciso fazer a gestão de todo o processo desde o seu início. A isso se dá o nome de co-responsabilidade.

Não tenho dúvida de que fomos os últimos, mas me recuso a crer que tenhamos sido os piores.