Sem título-1

Ano passado, por um acúmulo de dúvidas e impactos pessoais (mais algumas contingências profissionais de formação), acabei conhecendo a depressão. Sempre fui ansiosa (no livreto de siglas, esta responde por TAG – Transtorno de Ansiedade Generalizada). Achava ruim, claro. Tinha meus momentos de desespero. Mas depressão é a completa falta de fé em tudo. E desespero constante. No meu caso específico, talvez pelo histórico de ansiedade, as crises se misturavam e acabei tendo a chamada crise de ansiedade aguda – a antessala da crise de pânico. Todo esse sarapatel emocional me fez procurar a ajuda de medicamentos, que foram a minha salvação rumo ao re-equilíbrio. Foi um tapa de luva em quem achava (ou seja, eu) que tomar medicamentos psicoativos era só pra gente ‘maluca’.

De fevereiro a abril de 2015, não comia. Uma barra de cereal me sustentava por 8 horas. Depois voltei a comer, mas chorava em qualquer lugar. Sentava na praça de alimentação do shopping e chorava. Não fui mais no shopping. Ia pra academia e, lá no meio, na contagem do oitavo supino ou do décimo-quinto abdominal, precisava parar tudo e ir no banheiro, chorar. Em agosto, parei de ir na academia. “Vou morrer mesmo, academia não vai evitar nada”, era o pensamento dominante. E aquelas coisas que me ajudavam a, no mínimo, sair de casa e ver outras pessoas, nem isso fizeram mais. Fui da falta de alimento à compulsão alimentar. Engordei 10kg em 4 meses. Dos 68Kg aos 78Kg de setembro a dezembro. Cheguei aos 79Kg depois das festas, mas 1Kg esse extra, consegui que não se fixasse por muito tempo!

Mas vi uma reportagem que me ajudou bastante no retorno a mim mesma (claro, já em processo, uma vez que minhas orações à Santa Sertralina vinham sendo realizadas diariamente): uma nutricionista gerontóloga (estudiosa da idade avançada) dizia que as pessoas não se dão conta que, em geral, ninguém simplesmente vai morrer por conta (por exemplo) de um diabetes. Pode até morrer, mas muita coisa vem antes, em acúmulo às más práticas: sobrepeso, dificuldade de fazer coisas simples do dia a dia, sentimento de inutilidade, perda de membros. Só aí percebi que eu continuava viva. Veja só. O tempo passou e quem precisava lidar com aquele peso extra e o sentimento de tirar o perdido, era eu mesma. O mundo não acabara só porque, na minha cabeça, o meu mundo interno estava fragilizado. E se o mundo acabasse, mesmo, amanhã… Grande coisa. Não tenho vocação para heroína da Nasa, dificilmente eu seria de alguma valia pra mudar o rumo de colisão de um asteroide ou algo do gênero. Pela primeira vez me dei conta de que acordar no outro dia é lucro. Muito pouco nesse universo depende exclusivamente de mim, para que eu seja assim tão especial ou imprescindível. Se o próprio Sócrates eternizou o “só sei que nada sei”, o que sobra para mim (que não sei nada de nada, mesmo). De frente pro abismo, você pode se jogar, ou pode contemplar a vista lá adiante.

Agora, depois de cinco meses de retorno à academia, consegui voltar a carregar as intensidades de peso que eu usava antes. Consegui pensar na progressão de não querer recuperar tudo em uma semana. Consegui eliminar 2Kg de gordura e ‘re-ganhar’ 1Kg de músculo. Consegui entrar de novo numa calça 40. Consegui entender que, no meio da impermanência, tem coisas que não mudam, e esta é uma delas: resultados requerem esforço constante. E em vez de travar uma batalha por dia contra mim mesma, prefiro a alegoria de uma vovó paciente educando uma criança marrenta.

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