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Meu ano de 2015 foi de muita reflexão. Tem quem diga que foi um ano ruim. Na minha opinião, foi um ano de aprendizado. Ruim, jamais.

Pela primeira vez, perdi pessoas realmente próximas do meu cotidiano. Em março, avó materna. Em agosto, avó paterna.

Quando faleceu a avó materna, fui confrontada com todo o sofrimento pelo qual ela passou. Inevitável levantar questões como: “para que isso? “. Diagnosticada com Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), o que ocorria era uma morte em vida, diariamente perdendo funções que estavam perfeitas até a semana anterior. Uma pessoa que sempre teve sua vaidade e seu cuidado com a saúde, fazendo exercícios e buscando observar a alimentação. Não fumava, não bebia. Com a doença diagnosticada tardiamente, evolução rápida, foi-se aos 82 anos. Mas com limitações severas (motoras) desde os 80.

Quatro meses depois, vai-se a avó paterna. Sempre fora acima do peso, tendendo para obesidade nos últimos 20 anos. Desenvolveu um câncer de mama, do qual conseguiu curar-se. Porém, mesmo com diabetes após o tratamento, nunca conseguiu se desvencilhar da má alimentação, principalmente com relação ao açúcar. Era faceira, entregava-se sem pensar muito aos prazeres alimentares. Devia para vários credores que vendiam-lhe coisas em casa. Desenvolveu um problema no fígado, ao qual não deu muita atenção, pois com alimentação ruim, queixava-se frequentemente de azia e má digestão. Após cerca de 10 dias, deu entrada no hospital com uma situação já irreversível do processo de falência do fígado. Em 48 horas havia falecido. Sem expectativas, sem deixar de aproveitar o que gostava. 79 anos.

Uma se impunha limitações de toda ordem, a si e aos que lhe cercavam. A outra, não tinha limites. Uma, com a casa em ordem, Deus o livre uma cadeira fora do lugar. Outra, vivia no reino da bagunça. Uma, levada a custos pela única coisa que não podia controlar, não sem muito sofrimento em todo o processo. Outra, simplesmente foi.

Quisera eu poder viver e morrer como um amálgama das duas: pelo caminho do meio. Minhas vovós, como Yin e Yang, partiram quase juntas, talvez para manter o equilíbrio das coisas aqui e lá. O Taoísmo, filosofia oriental chinesa que foi uma das bases para o Budismo, nos ensina que todo extremo é vicioso. Que, justamente por sermos cercados de dualidades inerentes ao Universo, equilibrado é aquele que ‘anda no fio da espada’.

A alegoria do fio da espada (ou da navalha, como em algumas traduções) nos remete a duas dificuldades: a estreiteza do caminho, que exige grande centramento e ponderação para que não haja desvio (e um equilíbrio literal, se pensarmos também literalmente na lâmina); e a dor que acompanha o caminhantes, pois cada abandono de um vício traz um abandono de si, também chamado de morte psicológica.

Como já dizia o humanista Michel de Montaigne, nos idos de 1520: “filosofar é aprender a morrer”.