consumoaçao-29março

 

Seguindo a proposta da coluna, de pensar sobre os diferentes tipos do consumir, e depois de uma reflexão mais profunda na semana passada, cá estou com um texto pós-Páscoa: entendermos melhor as formas de consumo que o corpo faz, e tentarmos reorganizar corpo e mente depois da farra gastronômica.

Quando bebezinhos, nosso corpo se acostuma com o leite materno, que é basicamente carboidratos e gordura. Uma gordura animal, veja bem, vinda direta da mamãe. E o pequeno corpinho consegue alternar o consumo entre uma fonte e outra de energia, em um aproveitamento praticamente integral do alimento.

Ao crescermos, somos turbinados com a ideia de que gordura faz mal. Essa informação é frequentemente jogada como uma frase solta, isolada e fora de contexto. Somos alertados de que gorduras entopem artérias e fazem nosso organismo falir, sem a menor discrepância sobre o tipo de gordura de que se fala. E dê-lhe propaganda: vendem até margarina que faz bem pro coração!

O que acontece – por nossa culpa – é que a gente aprende desde sempre, na bendita pirâmide alimentar, que a base deve ser feita de carboidratos. Mais uma vez, ninguém explica que carboidrato é esse. Entra basicamente farinha no balaio: pão, macarrão, bolacha recheada. Ninguém destaca que arroz também é carboidrato, que brócolis também é carboidrato. Só que estes são de uma qualidade superior, que o organismo consegue aproveitar muito bem – assim como era o leite lá da mamãe. Quase nada se perde.

Assim, acostumamos o nosso organismo a entender que carboidrato é que vira energia, e que a gordura boa, que pouco mandamos ‘pra dentro’, deve perder importância nessa equação. Resultado? O corpo desaprende a usar a gordura. Só que todo carboidrato extra que a gente come, vira o que? Gordura. No culote, no ‘pânceps’… E o corpo acha super cansativo gastar aquilo lá. Deixa a reserva para um momento de fome e desvario pós-apocalíptico que dificilmente vai ocorrer.

Quando o espaço começa a rarear, o corpo vai lá e guarda uma gordura no fígado, mais uma gordura nos espaços entre órgãos, e daí se instala a temida gordura visceral. Esta sim, que causa aquele malefício todo que é propagado por aí. Mas volto à pergunta: de onde ela veio? Veio, quase sempre, do carboidrato de processamento fácil. Pois é. E como reativar essa percepção do organismo? Largando o carboidrato ruim, e trocando pelo bom.

É simples, mas não é fácil. O paladar está desacostumado também, e o pior de tudo, o cérebro está meio bagunçado com tantos anos de percepção distorcida. E a meu ver, o pior do pior: quando você diz que está largando o vício do cigarro, da bebida, as pessoas te ajudam a se afastar do problema. Mas experimenta dizer que está largando do açúcar? Mamãe oferece mais uma fatia de bolo, só hoje, pega pra comer quentinho, que recém tirei do forno.

Assim, quando optar por essa transição, esteja preparado, pois essa batalha será sua e somente sua. Não espere apoio, não espere compreensão, não espere que as pessoas deixem de pedir pizza no sábado de noite em consideração a você. Seja soldado, mãe, pai, irmão e melhor amigo de si mesmo. Seja forte, seja zen, e não se esqueça que a principal parte do corpo é a mente.