Este texto é sobre a Dona Ana, dedicado a todas as mulheres que amam alguém como um filho.

Minha mãe, Dona Ana! Desde criança convivo com sua saúde frágil. Aos trinta e seis anos ela foi diagnosticada com um câncer de mama, e cá entre nós, lá em Júlio de Castilhos, nossa cidade, localizada no interior do Rio Grande do Sul, ter um diagnóstico destes nos anos 90 era entregar a esperança para ser lançada pela janela do 13º andar. Ainda mais porque a maioria dos casos eram, e na verdade ainda são, descobertos em fase avançada.

No momento do diagnóstico, a minha a minha mãe mostrou ter uma força assustadora. O meu pai nos fala que ela chorou a viagem toda, de Santa Maria a Júlio de Castilhos, cerca de 60 km, e a noite também. Eu não recordo muito bem, mas a minha irmã também conta que logo pela manhã do dia seguinte, após a confirmação do diagnóstico, ela tomou banho, café, fez uma boa maquiagem, penteou o cabelo e foi para a biblioteca onde a minha madrinha trabalhava e pediu para ela todos os livros, revistas, jornais que falassem alguma coisa sobre o câncer.

Não havia muitas informações lá, mas foram o suficiente para o sopro da esperança ir ao encontro dela naquele dia. Sem demora, chegou o momento do processo cirúrgico, e o médico responsável perguntou se ela estava consciente do que iria acontecer, já que parecia muito tranquila. Uma mastectomia radical consiste na retirada total do seio, e a Dona Ana fora alertada sobre isto, mas com muita coragem disse: Olha, doutor… Se o senhor quiser, pode tirar os dois seios. Não tenho problema com isto. Todos ficaram paralisados, porque se existem mulheres vaidosas neste mundo, uma delas é a minha mãe.

E lá foi a esposa do Seu José (meu pai) para a cirurgia, onde ocorreu tudo bem. Dias depois iniciaram as quimioterapias, os enjoos, a queda do cabelo, as internações prolongadas. Uma lembrança muito presente da minha infância sou eu com um cobertor deitada no assoalho da sala de madrugada com a porta aberta olhando o meu pai levando a minha mãe para ‘’tomar um ventinho’’ na frente de casa como tentativa de deixá-la o mais confortável possível na hora do enjoo em decorrência da quimioterapia.

Outra lembrança que tenho é do seio de silicone, para usar dentro do sutiã, que a minha mãe encomendou de São Paulo chegando pelo correio, das perucas de tons e cortes diferentes, sendo que ela não gostava de nenhuma, e das tardes em que o médico a autorizava a sair do hospital com a desculpa de que se tratava de um ‘’tratamento odontológico’’. O tratamento odontológico era eu, esperando no portão do hospital, com uma alegria que não cabia em mim, a minha mãe sair pelo corredor e vir me encontrar, me pegar no colo e me ‘’encher de beijos’’ antes de irmos para alguma padaria tomar café e comer pastel, porque na época era o que a gente conseguia pagar.

Eu tinha seis anos e lembro muito bem. E sabe, eu gosto de recordar, pois, embora tenha sido uma fase difícil, foi a época em que a minha família se tornou mais unida, amorosa e passou a valorizar coisas que nos fazem genuinamente felizes, como a presença das pessoas que amamos. A minha mãe nos ensinou a sermos valentes como leão, termos a garra de um verdadeiro lutador que vence através das suas atitudes frente às batalhas. Ela nos ensinou a perder o chão e encontrá-lo uma, duas, três, quantas vezes forem necessárias. Hoje eu agradeço tanto! Tanto! Por tudo que ela é e faz e por toda a força que ela encontrou por amor à vida e a nós.

É, gente…  A minha mãe é um mulherão, mesmo medindo um pouco mais de um metro e sessenta. Agora, chegando pertinho do Dia das Mães, passa um filmezinho na minha cabeça e eu tento escrever para contar um pouco da história de superação desta senhora que é uma inspiração diária para mim, mas faltam palavras. Mas, existe uma frase que resume tudo: COMO EU AMO ESTA MULHER! Feliz dia das mães!