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“Se queres que os outros sejam felizes, pratica a compaixão. Se queres ser feliz, pratica a compaixão.”

Dalai Lama

Passam os anos, avança a ciência, surgem novas e impressionantes tecnologias e ainda não aprendemos a lidar uns com os outros de forma a criar um contexto de vida humana em sociedade mais harmônico, saudável e feliz.

Recentemente, Jazaieri, Jimpa et al. publicaram um estudo que nos incita a pensar em como podemos nos aproximar deste ideal filosoficamente buscado desde nossas origens. Estudando a compaixão, um sentimento emocional positivo valorizado por diferentes tradições religiosas, como o Cristianismo, o Judaísmo, o Islamismo e o Budismo, os autores descobriram que um “Programa de treinamento para o cultivo da compaixão” de 9 semanas é capaz de melhorar significativamente os três domínios da compaixão: compaixão pelos outros, ser capaz de receber compaixão de outros e auto-compaixão. Além disso, a quantidade de meditação formal praticada durante as 9 semanas foi positivamente associado a níveis mais altos de compaixão por outras pessoas. Assim, chegaram à conclusão de que os domínios específicos da compaixão podem ser intencionalmente cultivados em um programa de treinamento, capaz de melhorar a saúde mental e o bem-estar das pessoas às quais este treinamento for aplicado.

Estudos recentes tem sugerido que a compaixão, além de ser uma preditora de saúde psicológica e bem-estar, também foi associada a redução do afeto negativo e das respostas de estresse, bem como um aumento dos afetos positivos, conectividade social e bondade em relação a si mesmo e a outros.

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A Compaixão é a ardente percepção da interdependência de todas as coisas. – Thomas Merton

Mais especificamente, estes estudos avaliaram variados métodos de treinamento da compaixão, tendo encontrados benefícios específicos como: redução da vergonha e da auto-crítica e dos sentimentos de inferioridade, redução dos níveis de interleucina 6 e cortisol, aumento de índices como felicidade, capacidade em lidar com problemas, qualidade de sono e redução dos níveis de estresse e ansiedade.

Acima de tudo, o estudo lembra que a compaixão dá origem a um comportamento altruísta e generoso, além de uma poderosa motivação que, por definição, é focada nos outros, resultando em uma maior conectividade social. Esta por sua vez, associada aos efeitos pró-sociais benéficos que a compaixão traz, trazem um poderoso antídoto à desagregação familiar e social pela qual passamos.

Talvez devêssemos pensar em incluir, nas nossas escolas, orações matinais, salas de cafezinho, ginásticas laborais e tantos outros espaços e rituais com funções individuais e sociais específicas, treinamentos pró-compaixão e momentos que favoreçam a meditação e uma conexão maior com os outros e com nós mesmos. Quem sabe assim descubramos que cada um de nós é o que é pelo que nós somos, coletivamente. Desmoronada a ilusão do ego, eis que surge espaço para a verdadeira paz e felicidade.

Na Universidade norte-americana de Stanford funciona o Centro para Pesquisa e Educação em Compaixão e Altruísmo. Algumas pesquisas bastante interessantes são realizadas e testadas por lá. A Dra. Kelly McGonigal nos apresenta algumas conclusões:

Imagine que você recebeu a terceira notícia seguida de rejeição para oferta de emprego.

Se agir de forma auto-crítica, você ativa as áreas cerebrais de conflito, auto-inibição e os sistemas de punição. Se agir de forma auto-calmante, você ativa as áreas cerebrais da compaixão, do carinho e da auto-consciência.

Ela também nos dá exemplos de intervenções para aumentar a auto-compaixão:

  • Escreva uma carta de um parágrafo para si mesmo sobre a situação que está lhe incomodando
  • Pense no que você diria a um amigo nesta situação ou o que um amigo diria a você nesta situação
  • Tente compreender sua aflição
  • Certifique-se que esta carta contenha o que você precisa escutar para sentir-se acarinhado e calmo.

De um ponto de vista amplo, a auto-compaixão traz vários benefícios:

  • Maior felicidade, otimismo e conexão social
  • Menos ansiedade, depressão, auto-crítica e perfeccionismo não saudável
  • Protege contra a comparação social, ansiedade social, raiva e pensamentos tacanhos
  • Reduz a depressão Existem, entretanto, algumas pessoas que tem verdadeiro medo da auto-compaixão: Eu tenho medo que se eu me tornar muito compassionado comigo mesmo…” …eu perca minha auto-crítica e minhas falhas apareçam …eu me torne uma pessoa fraca …meus padrões cairão
    …vou me sentir dominado pela tristeza
    Descobriu-se, inclusive, que a Auto-compaixão está diretamente relacionada à motivação
  • Quanto mais auto-compaixão, menor a tendência a procrastinar
  • Autocompaixão prediz re-engajamento com objetivos seguindo retrocessos
  • Tomar um ponto-de-vista auto-compassivo aumenta a responsabilidade pessoal pelas falhas
  • O treinamento da auto-compaixão aumenta tabagistas a parar e mais do que triplica a chance de obesos a manter a dieta
  • A auto-compaixão está associada com o prazer de estudar por conta própria E aí? Vale ou não desenvolver auto-compaixão?
"Pessoas compassivas são gênios na arte de viver, mais necessárias à dignidade, segurança e felicidade da humanidade do que as descobertas do conhecimento."- Albert Einstein

“Pessoas compassivas são gênios na arte de viver, mais necessárias à dignidade, segurança e felicidade da humanidade do que as descobertas do conhecimento.”- Albert Einstein

  • Leituras:
  • 1. Jazaieri H, Jinpa GT, et. al – Journal of Happiness Studies – 25 de maio de 2012
  • 2. Self compassion – Kelly McGonigal – https://docs.google.com/viewer? a=v&pid=sites&srcid=ZGVmYXVsdGRvbWFpbnxoYXBwaW5lc 3N3aXRoaW5yZWFjaHxneDo1YzVkODMxM2IwNDg0Nzkw
  • 3. Shapira & Mongrain, 2010. The benefits of self-compassion and optimism exercises for individuals vulnerable to depression. The Journal of Positive Psychology.
  • 4. Neff & Wong, 2009. Self-compassion versus global self-esteem: Two different ways of relating to oneself. Journal of Personality
  • 5. Gilbert et al., 2010. Fears of compassion: Development of three self report measures. Psychology and Psycotherapy.