Ah! A tão polêmica e querida voz!

 

Estava em meu novo trabalho com os idosos em um Residencial Sênior, quando ao cantar uma canção uma senhora disse: “Me desculpe, mas hoje estou sem voz!” – e repetiu essa frase algumas vezes, como tantas vezes repetimos quando não nos sentimos adequados. Costumo ouvir outras frases do tipo “Não tenho voz para isso” ou “Minha voz não alcança” – Ah! Sou completamente apaixonada por essas expressões que dizem tanto sobre nós…

Quem é que tem voz? E quando ela (e nós) estamos adequados ao ambiente em que nos dispomos?

A voz como meio de comunicação e integração ao ambiente naturalmente traz características de comunidade. Estar ou não entrosado ao grupo em que se encontra vai proporcionar resultados sonoros-vocais diferenciados um dos outros, relevantes à cada circunstância. Um grupo agregador e afetuoso como interlocutor de nosso discurso trará fluidez, entendimento e uma assimilação do conteúdo compartilhado muito maior do que um grupo com características opostas. Já esta segunda situação, demandará mais habilidade para aprimorar a comunicação até que chegue à uma qualidade ideal. E quantos mal entendidos virão dessa tentativa em melhorar a comunicação e o bem estar vocal desta relação desarmônica? Pois respondo: Infindáveis! É uma situação absolutamente rotineira e muito comum à todos nós, e que faz com que cheguemos à uma conclusão mais que óbvia: A voz é política. Se observarmos o significado original da palavra (do grego polis –cidade) entenderemos a grande missão da voz em trazer benefícios comunitários.

Novamente pergunto: Afinal, quem tem voz?

A cultura de cada situação, em específico, definirá a voz alpha do momento, que podem ser aspectos relevantes à dinâmica (intensidade) do discurso, eloquência, persuasão, agressividade, delicadeza ou mesmo fragilidade. Uma explanação muito ampla e subjetiva, mas se basearmos no trabalho que desenvolvemos (Corpo Vocal) no qual prioriza os valores vocais que potencialize o indivíduo e o ambiente, já podemos concluir alguns aspectos:

1- A intensidade adequada é aquela que não fere e nem enfraquece o discurso e muito menos o interlocutor, afinal calar a voz do outro nunca é de bom tom. Ela é variável de acordo com o local e a circunstância da relação, podendo ser mais forte por ser mais vibrante e alegre por exemplo, ou mais fraca para proporcionar delicadeza. Engana-se quem acredita que “ter voz” é sempre estar presente e forte: impor-se demasiadamente em uma situação que pede cuidado pode fazer você perder sua atuação vocal com facilidade.

2- Bons argumentos sempre são bem vindos desde que solicitados. Saber o momento de falar é também saber o momento de ser ouvido, entender quando seu interlocutor estará preparado para receber suas palavras e não desperdiçar sua voz (seu discurso). É muito comum em carreiras que demandam maior atuação vocal que estes profissionais acabem utilizando de forma não-ideal sua vocação, enfraquecendo a confiabilidade de seu conteúdo.

3- A tonalidade ideal da voz também é um ponto interessante a se observar e são tão variáveis quanto outros aspectos mencionados acima. Uma tessitura (variação de notas desde a mais grave até a mais aguda) limitada à região grave pode ser mais pertinente à uma conversa formal e intimista. Já uma variação mais contrastante caberia melhor em uma relação comunicativa, divertida e amistosa, assim como a a utilização de timbres doces e aveludados para momentos amorosos ou mesmo mais firmes e incisivos em situações de liderança corporativa. Essas nuances são extremante saudáveis pois demonstram adaptabilidade da pessoa, entendimento e empatia ao outro e ao ambiente, além de sensibilidade na comunicação. Já a pessoa que se fixa em somente um aspecto possivelmente terá mais dificuldades em se posicionar adequadamente e ter sucesso em sua comunicação verbal e não verbal.

Dessa forma, os valores vocais são aprimorados dia a dia com a constante percepção à si e ao outro. A ausculta deverá ser permanente para que o entendimento tenha progressos amplos e efetivos. A voz ideal é sempre aquela que traz bem estar à você, ao interlocutor e ao ambiente, dessa forma ela pode ser o que quiser e pode brincar por onde bem entender.

Ah! E quanto à pergunta que fizemos logo no início?

Não sei quanto à você, mas para mim: Tem voz quem dá voz!

 

Um forte abraço

 

Priscila Lavorato