Quanto tempo faz que você sentiu a alegria da primeira vez?

Da primeira vez de fazer algo diferente?

E da primeira vez em fazer a mesma coisa como se fosse algo novo?

Qual a sensação de descobrir esse algo novo, essa sensação de frescor na alma?

O poder da novidade e da tarefa completa vai muito além do sucesso na sua execução, ela tem a ver com a capacidade de descobrir em nós mesmos a força e a habilidade de mudar. Fim de ano chega e sempre percorre em nós a reflexão sobre o que fizemos desses dias que nos foram dados.

“Que que eu tenho feito com essa vida?”

E num ano cheio de desafios como esse que passou,

qual a responsabilidade pelos nós não desatados?

qual a nossa responsabilidade por produzir sorrisos em outros rostos?

Afinal, você já fez alguém sorrir hoje?

Já viu no espelho um sorriso?

 

De início, e que isso fique entre nós, pensei em relatar a minha experiência com o filme Mother! (2017) de Darren Aronofsky, do quão abalada fiquei com seu roteiro e olha que a obra dividiu opiniões e a minha cabeça também – mas não é essa uma das funções da arte? Por-nos a pensar? E como pensei! Pensei em todas as aulas de História e do que eu mesma tenho feito com minha história, das estórias que inventamos para passar os anos e dar sentido para datas como essas, de reflexão.

A questão é que a minha opinião, deslocada de tempo e espaço e discussão, não tem sentido. O que eu penso é um meio de articular tudo que percorre os nossos dias, mas é apenas uma visão, uma no meio de sete bilhões e que, podem ou não, ser a mesma sua.

Hoje, quero desejar, mais que reflexão, ação.

Talvez seja essa a maior imagem que tenho deste filme e do ano que passamos.

Que não precisemos de fins de ano para um novo começo.

Mas sim, precisamos pensar, planejar, refletir, compartilhar ideias, criarmos doçuras em meio ao ácido de muitos encontros, precisamos desse pão que alimenta nossas almas, mas precisamos reconhecer nosso lugar – e produzi-lo –, precisamos continuar em movimento, precisamos nos encontrar, mas mais do que isso: precisamos (re)construir esse mundo de modo que o mundo dos outros também possa existir, de modo que o amor que tanto desejamos nessa data já não tenha mais data e que possamos, com o passar dos dias, desejar outras coisas, tão boas quanto, pois já teremos o amor que precisamos para continuar as caminhadas.

Afinal, quando foi a última vez em que estendemos as mãos para começar algo novo?

Para mim, hoje.

 

-P.