“Que histórias temos contado a nós mesmos?”

Essa é uma pergunta que vem martelando a minha mente há alguns dias.

Vinte e um para ser mais exata.

Sim, penso muito e escrevo demais, deve ser por isso que a miopia é um traço evidente em minha aparência, carregada em um óculos de armação grossa e pontualmente escorregadia sobre o meu nariz. De longe a questão é sobre a minha aparência, nem mesmo sobre mim, mesmo que me inclua no rol de pessoas que acredita que aquilo que pensa é verdade.

Verdade, minha verdade, esse é um traço da humanidade que buscamos solucionar incessantemente desde que passamos a reconhecer o Outro como alguém que compartilha o mundo conosco – e que passamos a escrever sobre. Os grandes filósofos há mais de dois mil anos questionam esse conceito e eu, nessas poucas linhas, nem tenho a pretensão de responder.

Mas… existe mesmo uma verdade, uma essência escondida dentro de nós? Ou fomos capazes de criar essa história, construir esse sentido para que pudéssemos produzir nossa própria vida? A resposta pouco importa, quero mesmo é dividir uma questão específica com vocês e é a pergunta inicial deste texto: que histórias temos contado a nós mesmos?

Quem garante que a retumbante assertiva “eu não vou conseguir melhorar” ou “eu não sei o que quero fazer” é uma verdade absoluta? Quem nos garante que isso não é uma história na qual passamos a acreditar quer seja pelo medo de arriscar, quer seja pelas expectativas compartilhadas, quer seja pela falta de apoio em levar um sonho adiante, por aquilo que dizem que é necessário para alcançar o sucesso, por exemplo?

Em estudo realizado em 2008 pelos psicólogos norte-americanos Kathleen Vohs e Jonathan Schooler, os pesquisadores chegaram a seguinte conclusão: que a nossa crença em um conceito, como por exemplo o livre-arbítrio, pode determinar como nos relacionamos e como nos posicionamos no mundo. Para ler o artigo que está em inglês é só clicar aqui.

Portanto, que histórias vem sendo contadas para nós ao ponto em que acreditemos que tudo já está determinado ou que os rótulos que são colocados em nós, quer seja pelos outros quer seja pela nossa comparação com os outros, são verdadeiros e não podem ser descolados/deslocados?

A discussão é imensa, poderíamos entrar em terrenos que muitas pessoas preferem não entrar: família, escola, religião, política. Vamos reduzi-la: no que somos levados a acreditar e que efeitos isso tem em nossas vidas?

De acordo com os pesquisadores acima citados, os resultados apontam que há um valor significativo para acreditarmos que o livre-arbítrio existe. Em situações de exposição ao determinismo – acreditar que as situações/coisas/pessoas tem um destino traçado – aumentou a probabilidade de situações antiéticas. Podemos solucionar (pelo menos eu compreendi assim) ou encerrar esse texto com a seguinte formulação: se acreditamos que temos a liberdade de escolha e que, por consequência, somos responsáveis por elas, atuaremos de forma a exercer esse livre-arbítrio, em oposição a um sistema de crenças que diz estar tudo determinado, que tudo que ocorre em nossa vida independe de nossas avaliações e ações.

A pergunta continua que histórias temos contado, acrescida de … para que as transformemos e transformemos a nós mesmos?