Nossos tempos, influências, experiências, visões, projetos, acessos, (des)caminhos são inúmeros.

Somos, aproximadamente, 7,6 bilhões de pessoas no mundo, onde cada um vai descobrindo e sendo orientado a descobrir a fórmula que irá aplicar para seguir a vida. Considerando que cada um de nós é uma possibilidade e que todos os dias temos novas oportunidades de “fazer dar certo”, nossas culpas ou receios em tentar, errar, cair e levantar e toda a movimentação que isso possa ocasionar, como “perda de tempo”, pode encontrar um meio para se diluir. Não que esteja incentivando o erro ou retirando nossas responsabilidades sobre nossas escolhas, longe disso, aponto para o fato de que sempre há uma nova forma de ver e agir, especialmente quando assumimos nossas decisões e refletimos sobre elas, ainda mais quando conseguimos separar os fatores que as tem influenciado – opções disponíveis e escolhas.

Há muito tempo que pesquisadores do comportamento humano e da sociedade tem discutido a capacidade de resiliência e os impactos da mudança do meio em nossas vidas. É como se, a grosso modo, pudéssemos dizer que “sim, é possível que uma flor surja no asfalto”, mas surgirão jardins caso as plantemos e cuidemos apropriadamente. Ah, resiliência é a capacidade de voltarmos a um estado de completude apesar da má-sorte ou mudanças.

É neste sentido que gostaria de retomar a ideia do segundo parágrafo: somos responsáveis por nossas decisões e acredito que SIM podemos modificar o meio em que vivemos – mas será que sozinhos? Em outros textos, alguns com o Thiago Alves, advogo a nossa necessidade de união e percepção do outro como um universo de conhecimento, do mundo e de nós mesmos. Somos relação. Por ter a Psicologia como formação inicial e por procurar manter viva a curiosidade, por vezes considerada infantil, aquela cheia de porquês, me percebo observando o quanto temos adoecido pelos usos que fazemos de alguns dispositivos de nossa sociedade (entendendo dispositivo como um algo que nos possibilita acessar outras coisas), pois o que nos leva a esse fato é mais como os entendemos do que sua mera existência. Não é porque vamos à escola que aprenderemos algo, é porque existem pessoas agindo e nos considerando como capazes que podemos construir conhecimento. Não é porque vamos ao hospital que sairemos de lá restabelecidos, mas porque existem pessoas buscando respostas e fornecendo a aplicação de suas experiências. E também é porque somos pessoas que as mudanças são capazes, porque precisamos uma das outras para fornecer sentido as ações que empreendemos.

Uma flor no asfalto pode nos ensinar a florescer

 

Qual foi a última vez em que você conseguiu parar, respirar e experimentar o mundo sem interferências?

Ver o outro e o seu ponto de vista sem os rótulos que nos acostumamos a observar primeiro?

Que força você dá ao medo por deixar de tentar?

 

Há uma frase de Sigmund Freud que precisa ser mencionada e ei-la:

“Qual a sua responsabilidade na desordem da qual você se queixa?”

 

De que forma temos utilizado as tecnologias criadas pelo homem (enquanto sinônimo de humano) ao ponto em que novas patologias psiquiátricas já estão sendo estudadas para inclusão nos manuais diagnósticos, tais como a nomofobia*? De que forma estamos construindo a sociedade em que vive(re)mos, posto que os índices de violência (dos mais variados tipos) estão em progressão? Como conseguimos criar comunicação com sujeitos à distância, mas disseminamos ódio em território virtual? Que avanços seriam necessários para que percebamos que a maior riqueza, que produz e é produzida pelo seu trabalho, desse mundo são as pessoas?

Ainda precisamos e precisaremos de nós, humanos, para quebrar o asfalto e regarmos a nós mesmos, de forma a percebermos que pausas não são perda de tempo, e que erros nos conduzem a aprendizados e novas oportunidades de encontrar respostas, quaisquer que sejam, quaisquer que levantemos, entre nós mesmos e a chave de tudo isso é continuar a tentar – ou a nadar, como preferiria Dori (personagem do filme Procurando Nemo).

Que mudanças temos provocado em nossas relações com as pessoas? Falo nós enquanto individualidades, mesmo, o que você tem feito para estar mais próximo ou próxima das pessoas que você ama, considerando que ficar parado e parada já te dá a resposta que tens nas mãos, o não? Que medo tem nos tomado a possibilidade de estarmos juntos? Frustração? A frustração é um monstro tão pequeno e aterrorizante que o deixamos ganhar dimensões perigosas. Temos medo de chegar perto dela quando o que ela pode nos apontar é um outro caminho e uma forma de como não repetir os erros, “se não deu certo, vamos partir pra outra”, mas sem partirmos a nós mesmos nesse caminho.

Tente, tentar nunca nos fez perder tempo, o erro – com raras exceções – é um mestre muito perspicaz, desde que o escutemos de verdade.

 

*Nomofobia: dependência de telefone celular.