Hoje quero falar um pouco dos meus questionamentos sobre a palavra sensibilidade. Passamos muito tempo de nossas vidas buscando o sentido das coisas que nos ocorrem, quer sejam em livros, aulas, artigos de revistas, aquele folheto que algum entregador alcançou, mãos, paredes, sites, que por vezes esquecemos que a produção destes sentidos parte de pessoas como nós, eu, você, em interação.

E essas buscas podem e acontecem em todos os lugares, tal como dia desses quando precisei consultar um médico pois minha garganta parecia só saber fazer arranhar todas as células do meu corpo. Como pode um local aparentemente isolado de nosso organismo provocar tanta revolução?

Dirigi-me ao pronto atendimento do município. Após algumas horas de espera, tendo em vista que meu caso não era tão grave, apesar da incessante dor de cabeça que acompanhava o quadro todo, fui atendida. Não reconhecia quaisquer alergias, fui examinada, prescrição na mão e fui medicada.

Nesse preciso momento é que desejo a atenção de todos que estão lendo este texto.

Um alerta: saiba quais são suas alergias.

Agora vamos ao restante do escrito.

A enfermeira que estava realizando procedimento perguntou o quanto de dor eu estava sentindo no momento da incisão da agulha (é assim que fala?) e eu disse que era bastante, mas que era resistente, por isso ela poderia continuar o procedimento (é sério, doía muito, como um peso sendo colocado exclusivamente no meu antebraço). E ela solta um “não, você não é resistente, você é mais sensível à dor, por isso está sentindo isso.”

BOOM…
Produção de sentido.

Desde quando passamos a considerar que sentir dor ou sentir amor ou sentir alegria ou sentir raiva é “demais” ou “de menos”? Como considerar que o que eu entendo como resistência é na verdade uma sensibilidade se somos ensinados a perceber tais questões como diametralmente opostas? “Ora, resistência é o oposto de sensibilidade”, diria um gentleman inglês com bigode obtuso, monóculo e cachimbo na mão.

Eu entendi o que ela quis dizer, mas não que tenha aceitado. Para ela, ser resistente seria não sentir dor, resistir a uma maior quantidade de dor é não sentir seu impacto, tolerar, tornar-se esse protótipo de ser humano que mal sabe que partes de si são sensíveis. Para mim, ser resistente a dor é ainda que eu sinta, saiba de sua força, eu ainda estou aqui, acolhendo ela e dizendo para mim mesma que vai passar.

A dor não passou naquele momento, acabei desmaiando e descobrindo minha alergia à Dipirona intravenosa, mas isso é papo pra outras colunas. A questão aqui é a produção de sentido: o que é insignificante pra uns é magistral para outros. O que para mim pode ser sinônimo de força, pra você pode ser apenas mais um elemento do cotidiano. Apenas. Nada é apenas, não para mim, pelo menos.

Para encerrar, por que o assunto veio à tona? Percebo que vivemos em um momento e um tempo em que não nos escutamos mais, não buscamos os sentidos dos outros naquilo que eles dizem, mas sim naquilo que nos toca, naquilo que nós entendemos sobre o que o outro fala – e apesar de ser uma característica do egocentramento humano, desse altar que construímos ao redor de nós mesmos –, tal questão tem-se tornado perigosa, não pelo alerta de que alguém possa desmaiar a qualquer momento em sua frente com uma agulha na veia, mas porque não olhamos mais para os outros como um universo, alguém que produz sentidos nesse mundo onde os sentidos tem-se dispersado tão facilmente e disso eu sinto falta, de poder realizar trocas de aprendizados, de produções de sentido, de aprender com a plena existência do Outro.

E para você… qual o sentido da palavra sensibilidade?

Juanjo Aza Photography