Na mitologia indígena, Tupã era considerado o Deus do trovão. Conta-se que alguns índios da aldeia começaram a roncar durante a noite, justificando que ao roncarem afastavam os maus espíritos e protegiam suas esposas.
Diante disso, Tupã não gostou nem um pouco que sua autoridade fosse afrontada, afinal, não poderia haver som mais poderoso que seu trovão, e lançou uma maldição: todos aqueles que roncassem parariam de respirar a noite e teriam muito sono durante o dia, tendo dificuldade para caçar e prover sua família.
Claro que essa história não existe, mas poderia ser verdade, e é uma realidade que muitos vivem em suas casas, afinal aproximadamente quatro de cada dez pessoas acima dos 40 anos e seis a cada dez acima dos 60 anos roncam.
O que é o ronco?
O ronco é definido como a vibração das vias aéreas (nariz, garganta, úvula – “campainha”) decorrentes da dificuldade da passagem de ar, secundário ao relaxamento destas estruturas a noite quando dormimos, produzindo seu barulho característico e aterrador para alguns.
Apesar de socialmente aceito, roncar não é normal. É o principal sinal de alerta para a apneia obstrutiva do sono, doença caracterizada por pausas respiratórias frequentes durante a noite causadas pelo fechamento da via aérea. Quando o ronco começa a provocar “quebras“ frequentes do sono à noite, gerando sonolência durante o dia, merece atenção e deve ser investigado.
Nem todas as pessoas que roncam tem apneia do sono, mas a grande maioria das pessoas que tem esse distúrbio ronca à noite.
Quem ronca?
Hoje já se sabe quem tem maior tendência a roncar: obesos (pelo depósito de gordura na garganta estreitando a passagem de ar pelas estruturas da garganta); idosos (pela flacidez da musculatura da garganta pelo envelhecimento), aqueles que dormem de barriga para cima (a língua cai para trás da garganta e dificulta a passagem de ar), tem congestão/obstrução nasal (respiram mais pela boca), usam de álcool antes de dormir (pelo efeito relaxante muscular), fumam antes de dormir (causando inflamação da via aérea), usam de medicações com efeito relaxante (remédios para dor, para dormir, etc), tem o queixo voltado para trás (causa redução do calibre da via áerea). Nas crianças, aumento de adenoides e amigdalas são o principal fator de risco para roncar.
O ronco, quando não tratado, tende a atrapalhar o sono, levando a sonolência durante o dia, cansaço, baixa produtividade, dificuldades de memória e concentração, além de irritabilidade. Ainda, interfere nos mecanismos hormonais, podendo levar a obesidade e aumentando o risco de apneia obstrutiva do sono, cujas principais consequências são a hipertensão arterial, o diabetes, aumento do risco de doenças cardiovasculares (infarto e acidente vascular encefálico – AVC) e mortalidade.
As principais medidas para o controle do ronco são comportamentais, como reduzir o peso, cessar do tabagismo, evitar refeições pesadas e bebidas alcoólicas a noite, dormir de lado ou de barriga para baixo.
Casos mais complicados necessitam tratamento especializado. Para muitas crianças com ronco, a remoção cirúrgica das amigdalas e adenoides pode ser a solução para o problema.
Se você tomou os cuidados acima e ainda sente os sintomas relacionados as noites mal dormidas por causa do ronco, procure ajuda. É possível viver uma vida mais tranquila e silenciosa. Seu corpo (e @ parceir@) agradecem, e você estará protegido da ira de Tupã.