Podemos dizer que a vida é uma caixinha de surpresas, um cubo mágico, que ela não possui mapa, nem manual de instruções: pelo menos é o que acreditávamos até pouco tempo.  Surgem diante de nós diversas possibilidades de vida, desde quando mal sabemos que ela é algo a se considerar. Mantenha a próxima imagem em mente.

Somos crianças.

Brincamos.

Somos ensinados a brincar.

Nos ditam as regras, o que pode ou não ser feito naquele momento – especialmente o que não pode ser feito – e passamos a ler um mundo inteiro através disso.

Você faz x para chegar a y. Certo?

Chegamos ao y diversas vezes, porém, focados em seu objetivo deixamos muitas coisas de lado, muitas pessoas inclusive.

“Você precisa estar perto daquelas pessoas que vão te ajudar a chegar a y”, disse-me alguém na adolescência. “Você precisa se preparar para o futuro”, “Tem que estudar muito”, “Você terá tempo para descansar quando estiver velho”.

Muitas vezes me pus a pensar o que ou quando seria essa velhice, se demoraria muito pra me tornar “a tia da hidroginástica”, mas isso é assunto pra outros textos.

Você passa a ver apenas o y.

Deparei-me com um vídeo, compartilhado aqui abaixo, e que disparou uma pergunta que não saiu de mim durante toda a semana: vivemos hoje ou esperamos viver no futuro? Vivemos pelos destinos ou pelas jornadas?

https://www.facebook.com/konnbat/videos/1908094989263046/

Fonte: Reprodução/Facebook-Konnbat

Hoje, no alto do que considero ser adulta, me questiono. Obviamente que não foram apenas uma ou duas pessoas que me ditaram essas regras, que compartilharam suas receitas de como agir e ser ou o que eu deveria ou não fazer. Tenho mais certeza ainda de que não foi assim com você. Somos inundados com desejos e desejáveis, coisas que dizem do nosso tempo: não podemos parar. Ora, não se pára nem em pensamento, quiçá no comportamento. Mas há que se estar desejando tantas coisas à todo momento? E a contemplação, o estar com, o sentir as coisas que nos ocorrem? Aproveitar o que temos?

Vamos imaginar que somos aquela semente a germinar, ok?

Quantos de nossos planos demoram para começar a dar frutos, quanto tempo demora para que aquilo em que estamos trabalhando passe a se organizar em torno de uma satisfação? A vida é trabalho sobre o mundo, trabalho de nossas habilidades sobre aquilo que nos cerca e não somente em troca de uma quantia a desconsiderar de notas monetárias. São as ações que nos transformam e com as quais transformamos o nosso entorno, mas o tempo não pára, não é mesmo? Somos lançados a tantos outros desejos, o vigente tem necessidade de se atualizar. E nesse jogo de eterna atualização acaba por colocar-nos a perder o foco de aproveitar e reinvestir naqueles sonhos que nos fazem suspirar e sorrir com o canto dos olhos para podermos então – estarmos “dentro do que está aí”. É um tal de queira isso, queira aquilo, des-queira o isso, re-queira…

A vida pede passagem e também pede firmeza.

O botão da flor não emerge em instantâneo, precisa de raízes firmes para sustentar sua beleza, precisa espalhar-se, ser irrigada, adubada, acarinhada, para então surgir diante de nós. Precisamos pausar para senti-la, pausar para percebê-la diante de tantas plantas, árvores e ervas daninhas e aprendermos a diferenciá-las. Diferenciar a nós mesmos e o que queremos ser, conquistar, melhorar, largar, buscar, amar,… transformar em tantos verbos quanto possíveis, mas diante de nossas forças, não das forças do atualíssimo, do estar dentro de uma novidade…

O mundo não pára, o coletivo não pára, mas antes de tudo somos nós quem o construímos e é parando que poderemos aproveitar, estar com quem amamos, que nos fazem bem e mais que nos aproximar desses ípsilones, aproximam-nos de nós mesmos.

Que mundo estamos construindo para nós mesmos? Um mundo de letras intocáveis pois não param de surgir novas letras para alcançar ou um mundo em que reconhecemo-nos naquilo que fazemos e transmitimos?