O TEMPO E A VOZ

 

Este é um tema que acho interessantíssimo de discorrer. No processo das aulas e cursos é muito comum que o desequilíbrio ou a situação não ideal desta relação sempre ocorra. Porém há de se observar que a palavra tempo tem diversos significados, além de utilizarmos muitas expressões diferenciadas. Podemos dizer a palavra e relacioná-la ao clima do dia, de determinado local ou mesmo estação do ano. Pode-se também dizer à um momento (ação que ocorre em um tempo fechado e determinado), uma época vivida ou então o tradicional tempo no qual nos relacionamos minuto a minuto, hora a hora junto ao relógio.

Observemos a etimologia da palavra:

*TEMPO: do latim tempus, possivelmente do Indo-Europeu temp-os  “esticado, estendido”.

Assim, podemos compreender que o tempo é algo que ocorre em duração à um espaço e podemos senti-lo em variadas situações de nossa vida.

 

“Mas a música difere essencialmente da pintura por ser uma arte que se projeta no tempo”.

Paul Griffiths – “ A Música Moderna”

 

O tempo na música é sentido com o corpo, a noção de tempo se é apropriada com o deslocar do corpo diante à um espaço, o deslocar a voz perante ao meio. Relacionando com o trabalho do CORPO VOCAL, existem algumas circunstâncias interessantes a se observar sobre o tema:

O “Tempo de Dentro” e o “Tempo de Fora”

Ao iniciar o trabalho de voz é necessário observar o bem estar entre o emissor-ambiente-interlocutor. Neste caso, o tempo tem relação direta com a ansiedade, que é nada mais que a inadequação entre o seu “tempo de dentro” e o “tempo de fora”.

É muito comum hoje em dia, principalmente pela demanda do mercado no qual precisa-se cumprir metas em prazos cada vez menores, atingir objetivos capitais, desenvolver protocolos para otimização do tempo (olha ele novamente!). Tais movimentos valorizam e incentivam a diminuição do espaço interno pessoal. O sistema está aí e não cabe adentrar na questão de se ele é bom ou ruim, eficaz ou não, ou mesmo se fazem parte de algum tipo de ideologia. O que trabalharemos aqui é que vamos lidar e debater sempre com o que temos em mãos. Voltando ao assunto: se este ambiente não proporciona o alargamento de valores individuais, naturalmente esta pessoa abrirá mão de seu espaço interno em detrimento ao que há fora e, possivelmente a rotina desta ação trará o hábito, no caso, não ideal.

Esta é uma visão distanciada da circunstância, mas que podemos observar em outras situações e perfis de personalidades, como, costumo chamar dos “cuidadores”. Estes são pessoas que tem o perfil de cuidar, acalentar, preparar ou servir aos outros. Em profissões podemos ter alguns exemplos, como os professores, terapeutas, enfermeiros, entre outros. Com a frequência do contato (e também motivação interna para isso), a pessoa pode chegar a perder noção do seu tempo interno (o que é entristecedor, já que isto é extremamente comum).

Expansão e Valores

Dessa forma, o primeiro passo para se desenvolver uma preparação vocal (independente do âmbito em que esta pessoa queira se aprimorar) é de extrema importância que se crie espaço interno, conscientização do seu tempo de expressão e expansão de valores e de atuação, e equilibrá-los ao ambiente em que se está. É interessante observar também que o hábito cria um condicionamento e, diversas vezes, o emissor cria uma ansiedade e uma pressa não determinadas pelo ambiente. É um tipo de obediência que geralmente ocorre à algo ou alguém sem que a pessoa se dê conta, isso traz ações com características imediatistas, impensadas e mecânicas (falaremos em outro momento sobre isso).

Observe seu tempo de dentro e o tempo de fora, verifique se a pressa é realmente necessária, se o imediatismo não é só reflexo de uma obediência condicionada ao não-pensar. Averiguado dessa forma, a atuação de sua identidade ficará mais livre e plena.

Este texto é um dentro outros que ocorrerão com a temática “O Tempo e a Voz”.

 

Até breve!!!