esps-sindrome-de-brugada-690x410

Já vi muitas pessoas buscarem saúde e encontrarem doenças. Vou me arriscar a escrever um pouquinho sobre este assunto. Eu não sou médico, não sou profissional da saúde, tenho apenas meio século de vida, mas neste curto tempo já vivi muitas coisas e observei bastante. Além disso, já li de tudo e me envolvi com enorme diversidade de coisas, situações, trabalhos, modos de vida que me fazer sentir com um século de existência aqui na terra, apesar de que, por outro lado, sinto-me ainda com uns vinte anos menos do que tenho.

Quando eu morava em Florianópolis e lecionava em uma escola diferenciada, cara, alternativa, embora elitizada, viajávamos todos os anos com alunos de quinta série, hoje chamado sexto ano, para uma fazenda-escola no Rio Grande do Sul e lá ficávamos por três dias com as crianças.

O objetivo era colocá-las em contato com a natureza, ensiná-las de onde sai o leite; de onde sai o ovo (sim, porque para muitos deles, estas coisas vêm do supermercado, ora bolas); deixá-las caminhar de pés descalço; se sujar de lama; subir em árvores; brincar com os animais; cavalgar; sentir o cheiro da mata; fazer caminhadas; colher verduras e frutas; ver animais selvagens em seu habitat natural, como o bugio, sapos, pássaros; fazer uma fogueira à noite e ficar conversando sem qualquer brinquedo eletrônico, como celular ou computador.

Eram crianças que nasciam e cresciam em apartamentos, sobre a borracha de calçados de marca, sobre o asfalto e o concreto, dentro de luxuosos carros e no shopping, expostos ao barulho constante do trânsito, aos jogos eletrônicos, ao celular, a um bombardeio de informações e exigências. Desde que nasceram eram acompanhadas por pediatras, tomaram todas as infinitas e desconhecidas vacinas, foram a escolas e creches, ao balé, ao inglês, receberam tudo o que desejaram e logo, logo precisaram ir ao psicólogo, psiquiatra e psicopedagogo.

Para mim foi um espanto saber a tamanha quantidade dos meus alunos que tomavam Ritalina e tantos outros remédios de uso psiquiátrico. Alguns não conseguiam nem mais entrar na escola, tomados pelo pânico, aos dez ou doze anos de idade. E perceba o leitor, a leitora, que estou me referindo a uma cidade pequena, com apenas 300 mil habitantes.

Também já tive amigos adultos macrobióticos, naturebas, vegetarianos, preocupadíssimos com suas dietas, seguindo todas as novidades e descobertas sobre alimentação. Em um momento comiam ovos, porque diziam que era bom, em outro o ovo tornava-se um veneno para a saúde. Em um momento comiam carne e em outro eram vegetarianos, em ambas as situações a explicação “científica” era incontestável, até chegar a próxima pesquisa que provava o contrário. A maioria destas pessoas que conheci tinha a saúde frágil, estava sempre com um problema, uma doença.

Não sou dado a purezas, ao excessivamente limpo, à assepsia da vida cotidiana nem a estas novidades quase diárias do que comer e do que não comer, do que faz mal ou do que faz bem. É claro que não chego ao ponto de tomar refrigerantes ou de comer no Mc Donalds, mas um dia você poderá me encontrar, sim, comendo um Big Mac com um copo de refrigerante do lado. Será uma raridade, mas não é impossível.

estresse_comida_blog

O que desejo propor aqui é que o radicalismo, a ditadura alimentar não é saudável, a pureza não é saudável, a alienação alimentar não é saudável, saudável é sempre a diversidade, o equilíbrio. Gorduras são necessárias, o sal e o açúcar também, a questão é: o quanto e como. Também não sou dado a estas novidades e listas tipo “10 alimentos proibidos”; “os 20 alimentos que podem causar câncer”; “os 7 benefícios não sei do quê”; “oito descobertas para ter uma alimentação equilibrada”; “coma a casca da banana”; “não ferva o brócolis”; “tome xixi em jejum”. Não é piada, já vi pessoas seguirem até isto. Um dia alguém disse que a urina fazia bem à saúde e vi pessoas aderirem a esta idéia como se xixi fosse o elixir da longa vida. E assim vamos, buscando saúde e encontrando doenças. Acho que algumas pessoas se apegam a estas paranóias por falta de uma vida com propósito. Não significa sem objetivos, mas sem propósito, o que é bem diferente. Talvez também seja para fugir de algo difícil de enfrentar, não sei.

Mas o ponto mais importante da minha reflexão de hoje não é sobre a alimentação. Penso que nenhum ser humano pode ter saúde se vive trancado em um apartamento, isolado da terra pela borracha dos calçados, pelo asfalto das ruas e pelo concreto das calçadas. Se senta no carro, senta no escritório, senta na sala, senta no ônibus, deita na cama, deita no sofá, deita na rede e apenas exercita o braço para pegar todas as coisas que estão sempre à mão e os dedos para digitar ou mover a tela do celular.

Podemos ter a alimentação mais saudável da terra ou o maná dos céus, mas vivendo desta maneira não é possível ter saúde física e muito menos mental e emocional. No mínimo posso apontar alguns problemas muito comuns que surgem da falta de movimento regular; da falta de contato direto com a terra, o mar, a natureza e do excesso de assepsia, que são: a prisão de ventre, o estresse, o medo, a ansiedade, a dificuldade na digestão dos alimentos, a falta ou excesso de apetite, úlcera estomacal, falta de vitaminas, sistema imunológico deficiente, carência, irritabilidade, avidez por doces, depressão, desânimo, insônia ou excesso de sono.

Saliento: opinião de leigo. Mas estou certo de algumas coisas. Não existimos para vivermos assim tão isolados da terra. Nunca se consumiu tantas drogas como a população consome atualmente, são remédios para dormir, para a digestão, contra a azia, para dores nas costas, para dor de cabeça, para enxaqueca, para memória, calmantes e excitantes. Também sei que nenhuma coluna vertebral, nenhum coração, nenhum sistema nervoso será saudável vivendo nestas condições de paralisia, maior parte do tempo sentado.

Um dia desses, no meu trabalho, duas pessoas reclamaram que ao apertarem minha mão levaram um choque. Por quê? Porque vivo em apartamento, sobre borracha, asfalto e concreto, passando semanas sem contato com a terra. A importância do contato com a terra, com a natureza é uma questão energética, não somos só alimentados por comida e bebida, mas também por energia. Em última síntese somos mais energia do que matéria. Vejo pessoas que vão caminhar na beira do mar de tênis, que caminham por um gramado, mas sobre borracha.

sedentarismo-sofa-tv-20121104-size-598

Eu sei que nos adaptamos e consideramos tudo isto muito normal, mas é justamente aí que está o perigo. Certos males se desenvolvem sutilmente ao longo de anos e não fazemos relação com nosso modo de vida, apenas pedimos ao médico que nos dê um remédio. Livramo-nos do sintoma, conseguimos dormir e seguimos assim. Mas as crianças, desde pequenas também sofrem com este mesmo modo de vida que nos adoece aos poucos, lentamente.

Esta é somente a minha opinião, fruto de alguma observação e experiência, mas nada disto é um mal em si mesmo, pode ser aprendizado e parte da nossa evolução. Ou não?

Fui à festa de 100 anos do meu bisavô, era um domingo de manhã, ao chegarmos, depois de atravessarmos um longo gramado, o encontramos capinado uma rocinha de batata doce na frente da sua velha casa de madeira. Ele morreu aos 104 anos, sem nenhuma doença, apesar de ter fumado a vida toda, disse o médico que apenas o coração parou de bater. Pouco antes de morrer, ele disse a um jornal que o seu segredo de longevidade era ter passado a vida toda na natureza, trabalhando com a terra e animais, plantando e colhendo tudo o que consumia. Era ter vivido sem pressa, sem preocupações, sempre dormiu em cama separada, das três esposas que passaram por ele ao longo da sua vida e disse mais ao jornalista: “nunca ir com sede demais ao pote”. Esse meu bisavô!

Já o filho dele, meu avô, deixou a terra e veio viver na cidade, morreu aos 84, demente e com câncer. Meu pai, o neto, morreu aos 60 anos, vitimado por um AVC fatal. E eu, o bisneto? Bom, é melhor eu parar de fazer contas. Estou tentando aprender com tudo isto

A PAZ