O caos se instala onde predomina o corte de fala. A limitação propicia a configuração de uma única linha, frágil em certo sentido, entretanto, quando depositada na sociedade pode arrebatar vidas, histórias, sonhos. A intolerância surge como ápice e nos coloca uns contra os outros. Desaprendemos a conversar.
Quando foi a última vez que conversou de maneira saudável com alguém que discorda? Já houve esse tipo de diálogo tranquilo?
A mera troca de palavras pode gerar resultados tão distintos, desde a compreensão e evolução até a discórdia e o ódio. Talvez isso se dê a partir da disposição de cada um de descer do degrau que a si próprio se colocou.
Nós temos facilidade em desconsiderar a vivência do próximo na mesma proporção em que dificultamos o processo de ouvir aquilo que não consideramos o correto. É válido ouvir o dizer do outro, desde que, obviamente, ele não seja carregado de ofensas gratuitas.
Talvez, para quem acompanhe esta coluna, a fala pareça repetitiva nos seguintes aspectos: ouvir o próximo; tentar não julgar, ainda mais que em total desconhecimento; que somos responsáveis pela situação coletiva em que nos encontramos; e que depende de nós certa melhora. Ocorre que a cada instante que passa parece ser mais necessário clicar nestas teclas, pois o mundo jorra hipocrisia, egoísmo, soberba, ódio, intolerância etc. Para cada gesto ou situação que reabastece a fé na humanidade, temos 10 circunstâncias contrárias. Ou nos habituamos a observar apenas o que não acrescenta, o que faz mal. E nestes dois momentos encontramos gravidade, pois o negativismo ronda.
A ideia de escrever, mesmo que singelamente, sobre o fato de termos desaprendido a conversar, me ocorreu diante de uma situação dos últimos dias. Foram horas de conversa, com pessoas distintas, com realidades e crenças diferentes, com “opiniões formadas”, com toda uma bagagem. Em dados momentos houveram exaltações, porém mínimas. E a conversa fluiu. Pessoas que num primeiro momento, seriam totalmente opostas, encerraram a conversa mais próximas e abertas ao mundo do outro. As farpas ficaram de lado, o egocentrismo também. Foi apenas um grupo de pessoas diferentes que colocaram em prática o (antigo?) hábito de falar e ouvir, mais ouvir que falar, e ouvir abertamente, sem portas e janelas fechadas.
Parece algo tão básico, mas que vem se perdendo – ou quem sabe sempre tenha sido assim – mas um fato é que as pessoas ficam mais leves após conversas tranquilas, mesmo que conflitantes com relação a pontos de vista. Natural, pois as pessoas não são iguais, muito menos suas vidas, histórias, vivências cotidianas. Somos plurais, então os “saberes” são plurais, e por que motivo exigimos que, ele ou ela seja, igual a nós?
Lhes confesso que depois desse diálogo me senti mais leve, mais próxima de quem eu menos esperava, alguém que pensa distintamente em variáveis circunstâncias, porém me respeitou, assim como a respeitei, e mais, nos mostramos abertas uma a outra. Isto é fantástico, de verdade. Deveríamos todos praticar e tentar mais vezes. E mais, uma boa conversa é sempre uma boa conversa.
Pratique, e sinta a liberdade de se sentir leve!
Bom início de semana,
e por ter chegado até aqui, gratidão!