Na visão espiritualista do mundo, o corpo é um veículo que carrega nossa alma por um período finito de tempo. Ou seja, viemos de algum lugar e temos nosso prazo de validade aqui na Terra. Findo este prazo, voltamos para um estado no qual estávamos anteriormente, e a passagem pela vida física torna-se apenas uma experiência na matéria, para onde viemos para aprender algo.
Não vou entrar no mérito dessa transcendência ser factual ou não. Vemos muitos que parecem errar e nunca aprender. E vemos outros que parecem já ter nascido sabendo de seu lugar no mundo. O que sabemos é que estamos aqui, e não duraremos para sempre. Sobre isso, não há questionamento.
Isso traz certa urgência inconsciente de fazermos uso – consumirmos – aquilo que temos ao alcance, enquanto é tempo. Não sabemos até quando estaremos aqui. Assim, a urgência de comprar, comer e esgotar as fontes, é a eterna tentativa de completude. Somos físicos e, por isso, não podemos estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Fazemos escolhas, não temos tudo, ter algo implica em abrir mão de algo. Aqui onde estou está nublado, garoa, 9 da manhã. Neste mesmo instante, há sol em tantos lugares. Também é noite. Tudo acontece ao mesmo tempo e posso usufruir apenas de uma coisa de cada vez. Estar aqui parece desperdício de oportunidade.
Mas é “o aqui” onde estamos. Neste tempo, nesta realidade, neste espaço circundante. Com o que temos ao alcance. Pensar sobre o que era, como poderia ter sido, como deve ser em outro lugar, é uma tentativa de consumir aquilo que só vai te consumir. Valorizar mais a foto da revista do que a sua; a modelo famosa que faz propaganda do xampu maravilhoso “por que meu cabelo não fica como o dela, se uso a mesma coisa?” (será que ela usa mesmo aquilo lá?); o amigo no Facebook que fez uma bela viagem e que você não tem como fazer agora.
O que absorvemos dos outros é o show particular que cada um decide mostrar. Não conhecemos os bastidores. O que posso fazer de bom, de melhor, com o que tenho neste exato momento? Com nossos recursos, sejam quais forem, façamos o melhor para o show do hoje.