Os dias são todos iguais. O sol nasce e se põe. Tem a hora de trabalhar, a hora de estudar, as refeições. Tem que tomar banho, tem que dar de comer pro cachorro, tem que levar filho no colégio. Daí tem quele ode de louvor às sextas-feiras, todos postando figuras de vinhos e cervejas, pizzas e hambúrgueres. “Viva o final de semana”? Não! Viva a semana inteira. Viva muito. Os dias são todos diferentes e cada um tem seus desafios de construção. A impermanência da vida é o que nos permite dar manutenção daquilo que é bom, e desconstruir aquilo que não está tão bem assim. Tem que fazer exercício o máximo possível de dias?, sim, tem, porque só assim tornamos permanente a inerente impermanência que há em um organismo vivo. Tem que escovar os dentes sempre?, sim, porque somos vida, e vida em abundância, não apenas nossa, mas de muitos microorganismos. Cada um de nós é como um pequeno planeta.
Tirar os ‘óculos’ do entendimento de que está sempre tudo igual é uma mudança interna. Faz parte do ciclo da auto-piedade e, mais uma vez, da falta de gratidão. Ano passado, conversando com um amigo, surgiu o assunto de que ‘se faz necessária uma mudança urgente no mundo’. Mas ele não está sempre mudando? Imaginemos toda a complexidade de relações que acontecem a cada instante, a cada pequeno momento, e isso muda toda a perspectiva. Também faz perceber que há muito mais gente boa do que gente ruim no mundo, pois estas não são suficientes para atrapalhar. Tudo funciona e prospera.
Isso nos conduz, também, às crenças limitantes, que em resumo, trata-se de tirar o foco do que é bom e pôr energia na (minoria) ruim. Problemas todos têm (isso não me canso de repetir), mas o que vai fazer diferença no mundo, o que vai marcar as pessoas, é a atitude que existe a respeito do problema. Sempre se pode fazer, no agora, algo para melhorar. Ou também focar no que está errado e se sentir ainda pior. Gosto do exemplo de uma socialite que quer organizar uma festa de aniversário para o seu cãozinho e não encontra flores da cor desejada. Isso definitivamente não é um problema, mas na cabeça da ricaça, com certeza se trata de um drama terrível, pela falta de repertório dela. É uma pessoa tão protegida das experiências da vida, que vê numa situação dessa algo de grande ansiedade. Coisas como fome, frio – passar real necessidade -, estão tão fora da existência desta moça, que simplesmente não fazem sentido.
Sejamos solução para o mundo, e não, problema. Façamos o trabalho dos anjos em vez de darmos trabalho a eles. Tenhamos opiniões sem sermos reféns delas. Sejamos gratos ao que temos, em vez de lamuriar o que não temos.