Todos têm seu momento de afetos afetados. O próprio termo ‘afeto’ está na raiz da segunda palavra. Aquilo que me afeta é o elemento pelo qual tenho afeto. Logo, quando duas pessoas se conhecem, dizem que se amam e querem passar suas vidas juntos, assim se afetam; a tristeza de um vira a tristeza do outro, a ansiedade de um vira a ansiedade do outro. Deixar o outro mal traz a sua própria maleza. Entristecer o outro também deixa triste. Porque é assim que o afeto funciona. Portanto, se duas pessoas escolherem viver a vida em pleno ódio compartilhado, se afetando da pior forma possível, falando e fazendo para machucar, está aí uma coisa que supera qualquer mistério.
Amor é via de mão dupla. Tem que ir e vir. Um só, amando pelos dois, também não dá: não é mais amor, é dependência, piedade, medo. A pessoa escolhida para a vida é a ‘pessoa escolhida para a vida’! Cabe um pouco mais de consideração e de pensar sobre cada atitude e cada fala a ser trocada. Uma pessoa que diz que ama, mas na prática achincalha, ameaça e ridiculariza, é (no mínimo) um sério problema de coerência. Se um cão me mostra os dentes, só posso entender que ele quer me agredir. A única forma de entender o contrário é se ele mostrar que é feliz comigo.
Se sua relação não está funcionando tente, primeiro, identificar qual o problema verdadeiro que está pondo as coisas em risco. Podem ser as finanças, o cansaço do trabalho, ou o próprio senso de estar devendo mais carinho e se sentir cobrado por si mesmo. Podem ser expectativas falsas e que devem ser compartilhadas com o outro. Problemas, todos têm. Tenha certeza de dirigir os seus à pessoa certa.
Normalmente, quem está na parceria dessa viagem chamada vida é, justamente, aquela pessoa para ser o refúgio e a solução que espera em casa após um dia de cansaço. Talvez, um bom começo é não vê-la como problema, mas como solução.
Post Scriptum: Adiciono aqui um texto datado do Século XIV conhecido como “37 Práticas de de um Bodhisattva” (do sânscrito ‘ser aberto’ ou ‘ser desperto’), escrito em composições poéticas pelo mestre Ngulchu Thogme:
Quando caminhar ao lado de alguém
Causa os três venenos a seguir
Degradação do ouvir, refletir e meditar,
E destrói a gentileza e a compaixão
Desistir desta parceria
Esta é a prática de um Bodhisattva.
Então vou me arriscar a dar a minha opinião pessoal sobre seu texto desta semana: amor não é uma via de mão dupla, porque amor que exige ou espera algum retorno é qualquer outra coisa, menos amor. Aí trata-se de troca ou comércio, mas não de amor. Amor não espera nada em troca, nem mesmo que o ser ou objeto amado ame de volta. Uma mãe ou um pai, por exemplo, não deixarão de amar um filho pelo fato de o filho não os amar ou não ser como eles gostariam que ele fosse. Um homem ou uma mulher que ama de verdade, não deixará de amar se o outro não o amar também. Respeitará a decisão ou posição do outro, mas não deixará de amar. Compreenderá que não pode estar pero, mas não deixará de amar, respeitará a liberdade do outro. Posso até compreender que talvez o consenso atualmente seja este, do amor como troca, do amor com recompensa, do amor negociado, mas, insisto, isto é qualquer coisa, menos amor.
Olá Luciano, acho que você misturou muitas coisas aí e não compreendeu bem a mensagem do texto. O amor precisa ser ‘regado’, como uma planta, senão ele morre. Se eu quero cultivar o amor que o objeto de meu amor sente por mim, preciso cultivá-lo. Veja que está bem claro no texto que falo de amor de CASAL. Em nenhum ponto falo de pai e filho. Faço um parágrafo de introdução deixando bem claro o recorte do tema, e sugiro que o releia. Jé neste trecho: “Um homem ou uma mulher que ama de verdade, não deixará de amar se o outro não o amar também. Respeitará a decisão ou posição do outro, mas não deixará de amar. Compreenderá que não pode estar per(t)o, mas não deixará de amar, respeitará a liberdade do outro.” Respeitar a liberdade do outro, segundo o que você fala em seu comentário, me parece ser quando o amor é rechaçado, correto? Me esclareça se não foi isso que quis dizer, por favor. Pois teço aqui a resposta: aí está um caso claro que amor que não precisa ser cultivado, pois não deverá ser levado adiante (quando um dos dois não ama o outro e deixa isso CLARO). Compreende a (enorme) diferença? Falo muito claramente de casal que se escolhe para a vida. O nome disso é recorte temático em um texto dissertativo. Sobre todos os outros ‘amores’ que abertamente NÃO SÃO TRATADOS nesse texto… esqueça. 🙂 Obrigada pelo seu comentário.
Afetar: impressionar afetivamente; comover, sensibilizar.
“sua fragilidade afetou-o intensamente”
Sobre nossa conversa esses dias… <3 Amei o texto!