– Não saberíamos disso se não fosse a escola.
– Saberíamos, sim, porque quem fez a descoberta ia querer que todo mundo soubesse dela e iria espalhar a novidade. E se não soubéssemos, era só perguntar pra quem sabe.
A resposta me foi dada por um rapazinho de 11 anos e me faz refletir constantemente sobre o conhecimento. Esta coluna vem exatamente com a proposta de desmistificar a informação. Equívocos que se perpetuam, se tornam tabus e chegam a nos impedir de caminhar.
Caminhar.
Palavra que vem me dizendo muito quando o assunto é conhecimento. Conhecer é sinônimo de caminhar. Caminhar é sinônimo de conhecer. Aonde quer que eu vá, eu conheço algo ou alguém. Eu ouço uma história.
Observo.
Absorvo.
Os fenômenos acontecem a todo instante à nossa volta. Nossos neurônios estão com as suas conexões ativas 24 horas por dia e é através deles que o aprendizado e o desenvolvimento acontecem.
Ou seja: para aprender, você não precisa passar parte do seu dia e da sua vida sentado dentro de um quadrado de concreto com outros 20 ou 30 seres que alguém julgou serem iguais a você acumulando pilhas e pilhas de informação que você não sabe de onde vêm e nem para quê servem.
Nós nos habituamos a separar a hora de aprender da hora de viver. E isso está errado. Isso é o que adormece a nossa consciência.
O simples ato de atravessar uma rua pode revelar os catetos e a hipotenusa. Fazer um bolo, tomar um banho, pintar um quadro são grandes aulas de química. Respirar, piscar os olhos, sentir dor de barriga, tomar um copo de água ensinam biologia. Brincar com o cachorro, ouvir o ronronar do gato, colher os ovos no galinheiro, olhar as estrelas, observar as fases da lua, receber um cafuné da vovó enquanto ela conta como o seu pai era quando criança. Atravessar um deserto sozinho. Remar no Oceano Atlântico entre baleias. Subir e descer as escadas do escorregador do parquinho.
Quanta aprendizagem está contida nisso tudo?
É coisa que transborda os 45 minutos. Que vai além de um livro didático. Que não se decora.
Mas que se vive.
Porque o conhecimento que se vive não pode pertencer a ninguém e nunca caberá em um diploma pendurado numa parede. Não pode ser medido. Não pode ser formatado. Nunca será deletado. E sempre será universal. É aquele que será transmitido entre almas.
Pais que não sabiam ler e escrever se alfabetizaram quando decidiram embarcar na nau do conhecimento com seus filhos fora da escola.
O documentário Ser e Vir a Ser, de Clara Bellar, traz exemplos do quanto podemos aprender a partir do momento em que despertamos para nossas vivências diárias e não precisamos que ninguém conduza essa vivência.
É o puro caminhar.
É a confiança plena. A cumplicidade absoluta.
Não precisamos ser experts em nada. Basta estarmos acordados, com olhos de ver e ouvidos de ouvir que o universo fala com clareza e nos ensina todos os seus segredos. Basta ter coragem, porque o conhecimento é grande. Não cabe numa nota de boletim.