De um modo repentino e brusco, você, que sempre quis mudar o mundo, se pega querendo profundamente que tudo fique como está.
Ou como estava há dois minutos e que não mude nunca mais.
Você se vê desejando ter o poder de parar o tempo, congelar a imagem e mudar um certo final. O mundo inteiro, com toda a sua crueldade e injustiça, poderia continuar o mesmo se, em troca disso, aquele segundo exato e indesejável nunca acontecesse.
Mas ele aconteceu. E, do pior jeito possível, o mundo mudou.
Falta alguém.
Um tempo antes, eu observava uma aranha tecendo sua teia à espera da noite, como manda o ritual. Ao nosso redor, milhares de plantas insignificantes guardavam, secas, sementes que voavam imperceptíveis e que, daqui a dois ou três meses, dominarão novamente o campo. Serão flores explodindo cores em uma paisagem completamente diversa e bela. Mais verde e viva do que essa que hiberna e esconde toda a vitalidade que a gente sabe que está ali, mas não vê. No horizonte, bem longe, o céu vermelho despedia-se do sol. Encerrava um ciclo para começar outro. O eterno recomeço.
Foi então que a aranha me disse: “apesar de mim e de ti e de toda a maldade que possa haver no mundo, a vida segue seu inexorável curso”.
Conversei com a vida. Agradeci por um ensinamento tão fundamental me ser passado de forma tão singela e bonita. Eu me senti mais forte e era como se toda a maldade não mais me atingisse. Fui mais compassiva com o sofrimento do mundo e a esperança me fez um aceno.
A frase seguiu me acompanhando ao longo dos dias.
Até que ela caiu como uma bigorna sobre mim e agora ecoa insistentemente querendo me forçar a compreender o que não quero. Não consigo responder-lhe outra coisa a não ser uma pergunta: por quê?
Mas ela não me responde. Apenas repete o que já havia me dito antes, como uma mãe que dá sempre a mesma resposta ao filho que se recusa a obedecer até que ele compreenda ou que, cansado, simplesmente obedeça. Porque quando vierem todas as respostas, já não será mais ela. A vida que segue seu curso. Inexorável curso. Apesar de mim e de ti e de toda dor que possa haver no mundo, ela não vai parar. Ora sobe, ora desce, ora para a esquerda, ora para a direita, ora dia, ora noite, mas sempre em movimento nos eternos recomeços de todas as noites e de todos os dias.
Mesmo quando o grande encontro acontece, é a vida quem engole a morte e não o contrário. Jamais o contrário. O se, o que e o por quê não se encontram. Seguem vias paralelas e tudo o que fica é o que foi. O que foi fica sendo o que é. E o que é sempre será mais forte.
É a vida, sempre fatal.