Fachada frontal no início de fevereiro

Foi maravilhoso estar com a família e amigos na minha “mini férias” da obra do LAR DOCE LAR, porém em minha breve passagem no Rio de Janeiro, minha terra natal, senti aquela sensação do confinamento que me fez ansiar pela proximidade da natureza aqui de Piracaia! Esse indício de “saudade” da paz e da floresta são ótimos indicadores de que esse é o meu lugar!

Estar longe me fez perceber que a casa nunca foi o meu sonho, sendo apenas um ponto de partida para que eu possa finalmente começar a viver o que eu verdadeiramente aspiro: ter uma vida simples, com qualidade e em paz, cuidando da terra, da saúde e do convívio em família (sem as tribulações de obra)!

A “casa de fazenda” como diz a Martha, é um sonho que está em fase final. Vê-la feliz me fortalece e me faz seguir adiante!

Pela dimensão e complexidade da casa, minha vida está longe de estar ”simples” nesse momento, principalmente nessa fase de acabamento, que é lenta e demanda muita atenção, pois é nessa etapa onde as falhas ocultas se revelam ou brotam e as soluções precisam ser avaliadas com sensatez e coerência!

Um exemplo desafiante em que me encontro, é o nosso reboco fino da fachada, que deveria ter sido aplicado com muito cuidado, de maneira uniforme, pois pretendíamos manter a cor original dele, sem ter que pintar!

No interior da casa o resultado da aplicação do reboco fino nas paredes teve um resultado tão bom, que o espaço para visitas já foi pintado e ficou ótimo. Decidimos que o interior da casa será quase todo pintado.

O Loft já pintado (espaço para visitas) !

Entretanto, a aplicação do mesmo reboco fino na fachada teve uma outra resposta nada positiva, a descamação!  Como eu estava em viagem, não pude acompanhar de perto o processo de trabalho da equipe na execução dessa tarefa. Assim que cheguei, a metade da fachada tinha sido rebocada dois dias antes. Logo que encontrei quem fez essa tarefa, perguntei sobre como estava o tempo, a resposta de cara me surpreendeu:  ESTAVA CHUVOSO.

Cheguei no dia 07 de janeiro (domingo), debaixo de um temporal, pois aqui na região da Mantiqueira o verão é de muita água!!

Aplicação do reboco fino na fachada frontal …

No dia seguinte o restante da fachada foi rebocado, o tempo estava instável …

Creio que a umidade do ambiente, junto com a água contida no reboco, tornou o processo de secagem mais lento, ocasionando a descamação em diversos  das paredes da fachada.

Fundo da casa ganhando o reboco fino na fachada.

Provavelmente, se o tempo estivesse sem chuva nos dias de sua aplicação, o reboco estaria ótimo! Não sei se o fato de estar na face externa da casa, sujeito às intempéries, se deveríamos ter aplicado algum impermeabilizante natural na massa.

A falta de supervisão e acompanhamento desse “detalhe” climático, fez toda a diferença nesse acabamento final que encerraria a fase de acabamento da bioconstrução!

Creio que o vício com as facilidades dos materiais convencionais disponíveis no mercado, “resistentes” a tudo, fez com que o gerente de obras e toda a equipe ignorassem um fator fundamental numa (bio)construção: a  condição climática ideal para executar o reboco final externo!

Me lembro da sugestão do gestor de obras de colocar BIANCO (impermeabilizante) na massa do reboco, a resposta foi negativa de cara! Sei que todos querem rapidez e garantias de qualidade, mas será que algum profissional da área de construção pensa na saúde e no bem estar de quem mora dentro da casa?

Estou cansada dessa resistência em aceitar O NOVO, é preciso mudar o comportamento cristalizado para se ter uma casa saudável e coerente ao que os clientes valorizam! Dá trabalho, é preciso estudar, pesquisar, experimentar, observar as respostas a cada dia e entender que na bioconstrução o tempo de maturação das “respostas visíveis” é bem diferente do convencional! Eis uma alquimia, onde o tempo todo somos aprendizes, mas há de se ter humildade e respeito!

A escolha pelas paredes largas do hiperadobe…

A busca por uma boa solução térmica e a escolha pelas paredes de hiperadobe foi da minha parte, pois precisávamos encontrar uma saída agradável para a casa onde uma moradora é friorenta e a outra calorenta! As paredes grossas “suavizam” a temperatura interna em relação condição externa! Exemplificando, se está frio lá fora, dentro de casa está quentinho e se está quente do lado de fora, em casa está fresquinho…

Para garantir essa “troca de ar” pela parede, não podemos colocar um aditivo artificial no reboco ou na tinta que BLINDE essa “respiração”, caso contrário “o tiro sai pela culatra“ e a casa pode se tornar um forno ou um freezer, com uma parede com um pouco mais de 40 centímetros de largura.

 

 

Confesso que ultimamente não tenho prazer em visitar a obra, pois sinto que pouco posso acrescentar nessa fase cheia de detalhes técnicos, funcionais e estéticos. Quando visito a casa, vou com um olhar fiscalizador, isso me incomoda um pouco. Cobro coisas básicas como impermeabilização, caimento nos pisos para que nenhuma água fique empoçada, fidelidade aos projetos de engenharia e de arquitetura de interior, como se tivesse fazendo uma vistoria de um apartamento em construção comprado na planta! Na verdade, eu já tinha passado pela experiência de comprar dois apartamentos na planta, mas sem ter a mínima noção de tudo o que teve que acontecer antes que o “comprador” pudesse visitar o imóvel na fase de acabamento/entrega! Vivi grande parte os bastidores desde o início do Lar Doce Lar, até agora!

Eis a Retrospectiva com imagens do Lar Doce Lar  ao longo de 2017!  https://youtu.be/cq9-SBq3MDM

A equipe de acabamento está toda atuando na casa principal, a parte dos forros do teto e piso de cimento queimado foi quase concluído em toda a casa.  Os banheiros estão revestidos, o sistema de aquecimento solar da água está ativo , a cozinha terá o tapete de ladrilho hidráulico depois que a pia for colocada, para que ninguém circule no interior da casa fazendo serviço pesado.

Tapete de ladrilho hidráulico da cozinha

A parte da bioconstrução era o que me motivava verdadeiramente, porém hoje quando vejo o reboco da fachada descascando, sinto um aperto no coração! Resolvi aceitar que há um limite para ser COBAIA e o preço está sendo muito alto para eu me estressar com isso, nesse momento!

Descamação do reboco fino…

A solução da fachada agora não é urgente para mim… preciso ganhar fôlego, recuperar o ânimo e a saúde, pois tudo passa!!! Sinto que ter a casa concluída e habitada é muito mais importante do que ter uma casa bonitinha por fora, mas sem conteúdo, alma e valores!

Talvez o que hoje está estampado na fachada, tal como  “cicatrizes”, seja justamente o que limita uma equipe profissional ou empresa a se posicionar no mercado de construção sustentável de verdade, pois não é fácil, não é barato e não é para qualquer um não! Por outro lado, o “faça você mesmo” a sua BIO casa, também há de ter as suas desvantagens e vantagens,porém não posso descrever essa experiência…

Escolhemos uma equipe de execução que veio da construção convencional, mas que parecia querer ampliar seu campo de atuação na bioconstrução desde o projeto de arquitetura até a entrega da chave. Sinto que integrar os princípios básicos da construção sustentável é complexo, pois demanda uma profunda VONTADE de querer mudar a forma de se relacionar com as pessoas e recursos, começando de cima para baixo,desde o gestor de obras ao colaborador que faz o serviço mais básico.

Da nossa parte a oportunidade foi dada “no escuro”, com esperança e na confiança de que todos façam o melhor tecnicamente, pois os melhores recursos foram disponibilizados. Agora falta só chegarmos ao fim da obra conforme rege o nosso contrato, enquanto isso seguimos fazendo o que nos cabe, com vibração positiva e fé de que o melhor está por vir!

Mudando o tom do texto para algo bem mais agradável, estou me dedicando ao cultivo de algumas plantas aromáticas, medicinais e comestíveis. Tudo em pequena escala pois tenho pouco espaço para plantio nesse momento. Trabalhar na terra tem sido muito gratificante e é o que me move, por trás dessa loucura toda da casa!

Pequeno jardim em meio a obra…

Estamos trabalhando no projeto de paisagismo funcional que integram a casa aos sistemas de águas cinzas e negras, drenagem e acessos e em seguida vamos focar nas espécies das plantas em si.

Nos pátios externos teremos duas jardineiras que também servirão como guarda corpo nas lajes.

Laje com jardineira-guarda corpo…

Participei de um curso de implantação de jardins, oferecido gratuitamente pelo SENAR- Serviço Nacional de Aprendizagem Rural, que ocorreu na cidade vizinha, Joanópolis! Essa oportunidade caiu do céu, nesse momento mais que perfeito, quando preciso ampliar minha visão de futuro, para além da casa sede do LAR DOCE LAR, que logo logo estará pronta! Não vejo a hora desse momento chegar .

Já me preparo e busco cada vez mais energia inspiracional, para a vida além da obra…

Desculpem o desabafo, mas esta é a verdade do que senti ao longo de janeiro e nesse início de fevereiro.

O processo não é fácil, mas estou aqui “vivendo e aprendendo”!

Abraços fraternos,

Jana Carvalho

(texto escrito  em 05 de  fevereiro )