O ciclo do hiperadobe foi concluído com sucesso no final de setembro, totalizando a duração de quatro meses com até seis colaboradores!

Agora posso dizer… nossa como foi rápido! E pensar que primeira camada começou a ser feita no dia 24 de maio, com uma certa desconfiança, por ser uma nova prática, bem incomum. O contrário ocorreu na última camada, quando a equipe já estava hábil e segura no dia 26 de setembro!

É gratificante ter a certeza de que a semente da nova técnica bioconstrutiva está lançada num solo fértil e que o novo saber está plantado no bairro e na cidade onde fixaremos residência! Qualificamos o pessoal e quebramos crenças em vários níveis, não só na equipe que colocou a mão na massa, mas também na equipe técnica que projetou, acompanhou a distância e gerenciou todo esse processo, todos tiveram que sair da sua zona de conforto para estudar novas possibilidades construtivas e ampliar seu repertório em alguma medida!

Nosso Gerente de obras, Ângelo Parede do Studio de Paesaggio, que coordena a equipe, contatou alguns arquitetos e engenheiros mais familiarizados com projetos de bioconstrução para se abastecer de boas orientações a partir da experiência prática deles, conforme a etapa que estávamos!

 

Ainda há um caminho longo a ser percorrido! Reboco natural, filtro de águas cinzas, biodigestor, paisagismo funcional e que proteja a casa…

Até se chegar ao reboco grosso natural que produz menos trinca, a equipe fez bastante “alquimia”, usando os seguintes ingredientes nessas experiências: esterco de vaca, cinza em pó, serragem, palha, barro e areia.

A equipe já entendeu e se conformou que as trincas serão inevitáveis e que uma outra demão de “reboco fino” será necessária para preencher as fissuras, além de ajudar na impermeabilização das paredes internas e externas. Trabalhar nessa aceitação foi necessário, pois na construção convencional essa parte é rápida e prática!!

Utensílios usados e reboco teste para o hiper

Em nossa casa de “bioconstrução híbrida”, carinhosamente chamada de LAR DOCE LAR optamos pelas largas paredes do hiperadobe, técnica também conhecida como “terra ensacada” cuja vantagem principal é o conforto térmico e acústico. Para manter as paredes com sua capacidade natural de “respirar” para gerar a troca térmica espontânea, insistimos em colocar o reboco natural em todas as paredes elevadas com hiperadobe.

Se colocássemos um reboco convencional, blindaríamos a troca térmica, anulando exatamente o grande benefício que essas paredes largas e artesanais geram: Calor interno quando lá fora está frio ou frescor quando lá fora está quente!

Usamos cimento tanto na fundação com concreto ciclópico quanto nas lajes, vergas acima dos vãos das janelas e portas amplas, nas estruturas da torre da caixa d’agua, nos fechamentos das paredes internas e no ponto da massa do hiperadobe em algumas camadas.

Acabou que não conseguimos ser tão fiéis aos conceitos que classificam ou rotulam a bioconstrução hoje, talvez por termos escolhido uma casa com dois pavimentos que tem lajes, ou ainda por termos contratado uma equipe ainda condicionada com a construção convencional ou ainda por eu ter posto pouco a mão na massa…

A essa altura não importa buscar explicações, mas tudo o que fizemos e faremos será para termos uma casa saudável e que nos possibilite ter uma vida de qualidade e merecido conforto!

O peso da escolha de ter uma casa com uma ala dois pavimentos em hiperadobe, certamente influenciou na necessidade do uso de mais cimento do que gostaríamos! Aliás, não recomendo que façam isso! Ao mesmo tempo, confesso que não tenho capacidade técnica para dizer se isso poderia ser evitado, no tempo certo e dentro de nosso contexto…

Enfim a casa sede do LAR DOCE LAR está ficando linda, mas usamos cimento, o elemento que revolucionou a construção civil, porém seu uso excessivo é marginalizado na bioconstrução!

Será essa uma decepção pessoal?

Não! Fiz o melhor possível, dentro das minhas capacidades, conforme o que estava disponível e com isso aceito a casa simplesmente como ela “É e ESTÁ“ nesse momento!

É claro que sempre poderia ser melhor, mas como diz uma amiga sábia “TUDO NÃO TERÁS”! Uma vizinha me disse logo que cheguei na Ecovila, “cada casa a ser construída ensinará ao seu proprietário exatamente o que ele precisa aprender…”

Toda essa reflexão me faz expressar minha sincera GRATIDÃO a equipe, amigos e “anjos do saber” que nos fizeram chegar na etapa em que estamos hoje, através de suas ações, atitudes e palavras de orientação ou de apoio!

Gratidão a todas as mãos estendidas e ativas!

Ter clareza de nossa situação atual na obra hoje, só me faz estar mais vigilante diante das próximas escolhas nessa jornada, para que cada passo seja coerente ao que queremos de verdade!

A equipe do telhado começou a montar as vigas da estrutura, que antecede a cobertura do sistema Shingle. Uma ala já está com a manta dupla face!

Início da montagem da estrutura do telhado

Optamos por esse tipo de telhado por ser quatro vezes mais leve, por precisar de menos madeira na estrutura, além de atender a demanda da baixa inclinação  (18%) e recortes do nosso telhado.

Telhado com manta dupla face e ripas

Nos aproximamos da fase dos acabamentos, o que demanda muita calma e atenção aos detalhes funcionais existentes nos projetos hidráulicos, elétricos e de arquitetura, para que nada tenha que ser refeito! A comunicação ativa, as ações planejadas em sincronia e a presença da arquiteta Gelissa Cezarini nesse momento da obra, são elementos fundamentais para financeiramente podermos concluir em PAZ a nossa construção!

São muitas emoções para quem nunca construiu uma casa! Quanto aprendizado!!!

Na realidade construir uma casa nunca foi o meu sonho e sim VIVER UMA VIDA SIMPLES, porém essa meta, será alcançada quando a casa estiver pronta!

Agora falta bem menos do que faltava…

Escrever mensalmente para essa coluna e dividir com vocês a (R)evolução da obra e o turbilhão de surpresas que “brotam” ao longo dessa aventura, tem sido um ótimo balizador que me força a sentir, ver e valorizar o quanto avançamos e desenvolvemos!

É quase uma catarse, onde percebo o que pode ser melhorado em mim, gerando uma sensação de ancoragem “meditativa” no AQUI E AGORA, o que me “prepara” para que os passos futuros sejam mais conscientes e que me conduzam a uma vida ainda mais auspiciosa e feliz!

Como diz a música de Gilberto Gil “Andar com fé eu vou, que a fé não costuma faiá!”  https://www.youtube.com/watch?v=cH65dRyJ_Ys

Vamos que vamos!!

Abraços e  até breve:-)