A Laje, vista de frente ….

O mês de julho foi um pouco desgastante, confesso! Por isso me atrasei em minha partilha…

Depois de um período dedicado ao processo artesanal e “zen” de bioconstrução com hiperadobe (terra ensacada) no pavimento inferior, ter que retornar ao processo de construção convencional da laje foi dureza! Inicialmente iríamos fazer entre os pavimentos uma parte em assoalho de madeira e outra com laje, porém a viabilidade seria muito mais complexa, gerando riscos de atraso do cronograma de execução e na segurança da equipe durante toda a elevação das paredes do pavimento térreo nas alturas, onde a casa principal está situada.

Nossa casa é um híbrido entre ambas as técnicas construtivas e aos poucos vou aprendendo a lidar com isso…

As maiores diferenças entre a bioconstrução e a construção convencional ao meu ver são:

Na bioconstrução existe a preocupação ecológica desde sua concepção até a sua ocupação, onde todo o projeto foca no máximo aproveitamento dos recursos naturais disponíveis, gerando o mínimo de impacto no local da obra, diminuindo gastos com fabricação e transporte, além de produzir habitações saudáveis e que oferecem excelente conforto térmico. Enquanto a construção convencional utiliza muito cimento, ferro, vigas, pilares, concreto armado e gera muito entulho.

Nas últimas semanas tive que aceitar na pele o que há de positivo e necessário da construção convencional, principalmente porque nossa casa tem dois pavimentos e terá janelas grandes que convidam a paisagem para entrar, o que é uma ousadia para uma casa de hiperadobe. Uma curiosidade, um metro de hiperadobe corresponde a 110 quilos de carga, sendo uma parede auto portante de 40 centímetros de largura com 14 centímetro em cada camada.

Na realidade, nunca acompanhei os bastidores da construção de uma casa, logo, está sendo uma ginástica intensa aprender a lidar com as demandas diárias do que acontece no canteiro de obras, onde cuido do fluxo de compra e entrega de materiais e vejo em tempo real o que antes era uma ideia se tornando presente e visível aos olhos.

Cobro a presença, a atenção e comprometimento da equipe técnica dos profissionais, sempre pensando no melhor resultado, sem desperdício e na qualidade! Sei que a técnica de hiperadobe é algo novo para eles, mas não posso deixar de fazer a minha parte da melhor forma possível…

SOMOS TODOS APRENDIZES NA CONSTRUÇÃO DE NOSSA MELHOR VERSÃO!

Equipe Lar Doce Lar em permanente aprendizado

Sinto que preciso estar alguns passos à frente, pensando no médio e longo prazo, com a clareza do que necessitamos verdadeiramente em nossa casa, com tudo bem traduzido dentro de cada projeto técnico (de engenharia, arquitetônico e paisagismo), para no tempo certo, antes da execução, o líder da equipe técnica tenha a informação necessária para orientar o mestre de obras e inspecionar com qualidade o que foi realizado.

Nesse ponto a comunicação tem que ser limpa, clara e fluida.

Há decisões que eu como proprietária não posso terceirizar, por isso me faço presente ao longo desse processo de construção e estou disponível para pesquisar, fazer questionamentos e a responder o que surgir de dúvida (ou correr atrás da resposta). Sei que ainda há muito a ser melhorado…

Ironicamente e sem saber desse mar de emoções, quem me acalmou foi o engenheiro estrutural Ednei Souza, que aproveitou que tinha uma vistoria técnica na região e foi conhecer a nossa bioconstrução do Lar Doce Lar!

Após andar por nosso canteiro de obras, ver de perto a técnica de hiperadobe e tirar algumas dúvidas com o mestre de obras Agenor, Ednei elogiou todo o trabalho da equipe e nos deu uma orientação sobre a colocação de umas estacas para evitar que a pressão da construção gere uma sobrecarga no solo, se expanda e deslize, justamente onde há o desnível do terreno.

A segurança, a serenidade e a gentileza na fala do Ednei e sua presença foram um alento em meu coração, naquele momento que antecedia a concretagem da laje! Gratidão pela visita!

Visita do engenheiro Ednei Souza e troca de informação com o mestre de obras Agenor

Foi importante “desvirtualizarmos“ nosso contato que ocorreu no início do ano, quando ele foi contratado para fazer o projeto de cálculo da estrutura, bem antes da obra ter começado.

Eu nunca tinha acompanhado de tão perto a montagem de uma laje, que demanda uma longa e detalhada preparação das caixarias, com a devida amarração das ferragens, colocação das vigas e depois o encaixe do isopor, dutos hidro sanitários e elétricos na posição correta. Quanta monotonia!

Meu futuro vizinho, Fabio Lorenzi fez um lindo registro com seu drone antes da laje começar a ser montada, sendo possível ver a “planta baixa” do projeto, construída dez dias antes de sua concretagem!

Eis o link do vídeo https://web.facebook.com/bioconstruindolardocelar/videos/809716475866320/

O grande dia da concretagem da laje ocorreu, no fatídico dia 18 de julho, das 13 às 20 horas.

Esse dia parecia não acabar, pois a empresa de concreto usinado chegou bem atrasada e algumas avarias ocorreram nos caminhões ao longo dessa operação. O frio, o vento cortante e a espera pelo último caminhão em especial, testavam nossa resistência e paciência! A noite caía quando tive que providenciar às pressas: iluminação para que o trabalho prosseguisse com segurança para a equipe, alimentação para nos aquecer e animar, além de avisar o atraso oficialmente ao líder da associação de moradores, para que ele informasse para os vizinhos que o barulho do caminhão iria se prolongar por algumas horas, contra a nossa vontade, lamentavelmente.

Aqui na Ecovila existe a regra de que até as 17:00 é permitido fazer barulho nas obras, porém a concretagem de uma laje não pode ser interrompida!

Infelizmente tivemos que passar e gerar esse transtorno para concluir a nossa laje.

A equipe se uniu diante desse desafio, vestindo a camisa e fez o melhor, apesar dos pesares. Sou muito grata pela dedicação de todos os que estavam ou se fizeram presente e nos ajudaram a enfrentar tal dificuldade.

Martha, minha companheira de vida, estava ao meu lado firme e preparou a melhor canja do mundo diante desse contexto!!

No dia seguinte celebramos o fim dessa etapa, com um super churrasco na laje, junto dos colaboradores preparado especialmente por ela.

Enquanto a laje secava por alguns dias, fizemos a separação dos resíduos gerados dividindo-os por tipo de material, os tornamos acessíveis e visíveis para o reuso e começamos a pensar como reaproveita-los.

Em termos de aprendizados a equipe percebeu como a construção convencional gera “LIXO”, mas quando diminuímos a pilha de “entulho” e fizemos a separação eles voltaram a enxerga-los como recurso!

Passados cinco dias reiniciamos a elevação das paredes em hiperadobe.

Casa Lar Doce Lar em hiperadobe, vista lateral.

Agenor e os demais rapazes expressaram satisfação em retomar o contato com a terra, principalmente porque adquiriram agilidade com a prática! Fiquei muito feliz em ouvir e perceber que eles não mantiveram a postura desconfiada frente a essa técnica bioconstrutiva!

Na ala que terá um só pavimento iremos usar o mínimo necessário de cimento, para que possamos nos manter fiel ao hiperadobe pelo menos na sala, cozinha e comedouro.

Nessa semana todas as portas e janelas de demolição e novas chegaram!

Portas sendo entregues. Vista do fundo.

Em breve irei me aplicar as aulas de reforma das portas principais. Minha professora de restauro será a vizinha Fátima!

Foram muitas emoções marcantes em julho, mas agora estamos num outro patamar!

Que o melhor esteja por vir !!