Nossos hábitos e descobertas nos trouxeram a um tempo em que estamos, quase sempre, “na correria”. Saudosos dos dias em que tínhamos menos coisas para fazer, esquecemos que à época acreditávamos estar extrapolando diversos limites.
É aquele adulto cheio de clientes e mais uma especialização no final de semana que sente falta da adolescência e das sempre primeiras experiências, e que por sua vez guarda memórias da infância e das disputas de atenção entre o desenho e o lanche da tarde. No meio dessa teia, esquecemos que a cada etapa fomos colocados à prova e avançamos nos desafios propostos e que, se hoje, temos diversas tarefas é porque assumimos compromissos e responsabilidades e que sim, damos conta.
Os dias nos provam isso.
Numa dessas corridas, vejo um amigo pela janela do ônibus. Recebo uma mensagem: “Pergunta: o que exige ser quem nós somos?”. E só. Uma pergunta que paira na minha – e com certeza na sua – mente. C o t i d i a n a m e n t e . . . que exigências pregamos em nossos caminhos e com as mãos carregadas de compromissos nos fazem questionar porque as colocamos naquele lugar?
Lembro de uma postagem que visualizei recentemente: a vida é um cubo mágico. Combinamos, alguns lados colorem em uma só matiz e há dias em que um arco-íris pinta suas faces. Nós decidimos os movimentos, mas pela visão limitada do plano, nem sempre o cubo parece completo. Investimos mais energia tentando segurar os lados, mas vez ou outra a mistura das cores surge novamente.
Se pegarmos esses adultos que (dizemos que) somos nos encontraremos pensando sobre como chegamos até aqui. Mais do que as tarefas que foram se complexificando, nossos cubos são feitos também das habilidades, conhecimentos, potencialidades, recursos. Ele, o cubo, e eu formamos um conjunto do que todos somos – evolução. Não à toa há pessoas que exibem suas facilidades em girar os lados e mostrar-nos a capacidade de reinvenção.
Seja a imagem que surge de um exímio solucionador de cubos mágicos, seja a de alguém resiliente e capaz de re-movimentar a vida, ambas preenchem nossas mentes com outra questão: posso eu me reinventar? Posso eu escolher quais lados do cubo olhar? Sim. Mas isso tudo não responde a questão que recebi.
Lembro, portanto, que eu e você também, precisamos voltar em nossas reflexões.
Nossos cubos não são coletados ao acaso, quiçá são fabricados apenas uma vez ou por apenas duas mãos. Também não possuem o mesmo tamanho para sempre. Que faz de nós sermos quem somos? Nascemos com expectativas que não são nossas, nossos nomes dizem muito dos desejos que personificamos, nossas experiências contém energias de outras pessoas que não as nossas – nossos cubos são tocados por outras mãos no percurso da vida.
E dessas tantas cores e escolhas, há sempre a possibilidade de mais um movimento, de muitos outros movimentos. Entendo que é a partir dessa escolha que precisamos nos tornar quem somos. A frase de Jean-Paul Sartrè, “O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós” precisa ser desconstruída, pois reagirmos ao que o outro impõe também nos coloca em uma prisão, do aguardo da atividade alheia para então colocar-mo-nos em movimento. Escolher pensar no que me acontece com o que eu faço é um passo criativo, um passo de autoridade, digamos, pelos próprios giros.
Vou confessar que nunca pesquisei muito sobre cubos, mas entendo, hoje, o porquê do mágico; sim, esse nosso cubo mágico imaginário em que brincamos com um lado e por vezes somos surpreendidos pelo outro.
Talvez a tarefa que nos seja mais difícil é não desistir.
Continuar jogando e apostando nos faz ver beleza, inclusive, na mistura das cores.
Especialmente nelas