Nesta coluna estamos acostumados a tratar sobre questões referentes a igualdade entre gêneros, minorias, relacionamentos abusivos, convívio social e etc, talvez o título do texto impressione por parecer, num primeiro momento, fora do contexto até aqui discutido. Porém não o é, e assim veremos a seguir.

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De acordo com a Sociedade Vegetariana Brasileira[1], vegetarianismo é o regime alimentar que exclui todos os tipos de carnes. Dentro deste regime alimentar podem ocorrer classificações conforme os alimentos consumidos por cada pessoa ou grupo de pessoas, essa classificação verifica-se da seguinte forma:

(a) Ovolactovegetarianismo: utiliza ovos, leite e laticínios na sua alimentação.

(b) Lactovegetarianismo: utiliza leite e laticínios na sua alimentação.

(c) Ovovegetarianismo: utiliza ovos na sua alimentação.

(d) Vegetarianismo estrito: não utiliza nenhum produto de origem animal na sua alimentação.

Ainda, existe o veganismo, que se trata do não consumo de qualquer produto que gere exploração e/ou sofrimento animal, e nesse sentido, adota o vegetarianismo estrito no âmbito da alimentação. Por isso, costuma-se também chamar de “vegano” aquele que não consome nenhum alimento de origem animal (carnes, ovos, latícinios, etc.). Em resumo, o vegano é aquele que não consome nenhum alimento de origem animal, e também nenhum produto que advenha da exploração e/ou sofrimento animal.

Percebe-se que são variadas as nomenclaturas dadas de acordo com a extensão da vivência dentro dos universos do vegetarianismo e veganismo.

Segundo a Sociedade Vegetariana Brasileira, são diversos os motivos que levam à escolha da vida vegetariana/vegana. O primeiro que pode ser citado, trata-se da questão ética, que diz respeito à consciência de não compactuar com a exploração, confinamento e abate dos animais. Lembrando nestes termos que, os animais são sencientes, ou seja, capazes de sofrer e sentir prazer e felicidade. Também de acordo com o site da SVB, são abatidos mais de 10 mil animais terrestres por minuto no Brasil para produzir carnes, leite e ovos. O segundo motivo diz respeito à saúde, diversos estudos científicos vem alertando que o consumo de carnes está diretamente associado ao risco aumentado de doenças crônicas e degenerativas como diabetes, obesidade, hipertensão e alguns tipos de câncer. O leite, por exemplo, nos é vendido com algo essencial e de extrema relevância para saúde, porém, tem-se observado com maior atenção o número acentuado de pessoas intolerantes a lactose. Seria interessante fazer a reflexão de o porquê tantas pessoas apresentarem sintomas degradantes aos seus próprios corpos diante do consumo de leite e derivados? Seguindo, o terceiro motivo apresentado é referente ao meio ambiente, “segundo a ONU, o setor pecuário é o maior responsável pela erosão de solos e contaminação de mananciais aqüíferos do mundo. A ONU também estimou que cerca de 14,5% das emissões de gases do efeito estufa oriundas de atividades humanas têm origem no setor pecuário. A maior parte do desmatamento da Amazônia tem sua origem na produção de carnes, laticínios e ovos. 97% do farelo de soja e 60% do milho produzidos globalmente são utilizados não para consumo humano, mas para virar ração para as fazendas e granjas industriais, produzindo alimentos a uma eficiência muito baixa”. (retirado do site SVB). E por último, sociedade, que está estritamente interligado com o desperdício de alimentos, resultante da atividade pecuária que também é ambientalmente degradante. Em dados práticos, são consumidos de 2 a 10 Kg de proteína vegetal (por exemplo, soja) para produzir apenas 1 Kg de proteína de origem animal. Faz sentido para você?

Faz algum tempo eu venho abolindo essas práticas viciosas alimentares (e ideológicas). A decisão surgiu após, simplesmente, olhar para o sofrimento animal e parar de agir, nesse sentido, de forma tão egocêntrica. Não mais me alimento de carnes, não consumo leite animal, restringi o consumo dos derivados, e estou a caminho de largar os ovos. Bem como não adquiro mais produtos de marcas que realizam testes em animais. A minha decisão teve como iniciativa, portanto, a questão ética, posteriormente fui adquirindo a consciência sobre as demais, e por conseqüência o olhar voltado para a minha própria saúde acentuou de forma bastante significativa. Transito entre as nomenclaturas citadas, pois a cada dia o desapego revela-se mais estridente.

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Quando nos damos a oportunidade de refletir sobre esses pontos vamos ingressando num caminho onde novas portas de conhecimento se abrem e nosso olhar torna-se mais crítico para assuntos que nem nunca imaginamos projetar importância. Costumo dizer que é um caminho sem volta, pois a nossa consciência nos “grita” quando não resistimos e por um momento pensamos em retroceder.

Porém entendo que a minha realidade me proporcionou a reflexão e a oportunidade de trilhar por este trajeto mais equilibrado (entre seres humanos e animais), e que existem outras realidades, bastante distintas, onde não devo querer interferir ou impor algo que na minha visão e dentro das minhas perspectivas é possível. É sempre sobre aquilo de valorização e discernimento diante de vivências distintas.  O apelo que se faz é de que o olhar seja voltado para o sofrimento, de quem for, e que hajamos na tentativa de fazer com que ele se rompa ou ao menos diminua.

Se você já conhece essa prática e a exercita, muito prazer, somos parceiros de caminhada. Caso você conheça e já tenha considerado essa possibilidade, lhe digo que é mais fácil do que parece, palavra de quem está satisfeita com o que escolheu. A princípio nos parece ser impossível, pois tudo ao nosso redor leva carnes, leites, derivados e ovos, mas o que nos falta na verdade é um olhar mais atento e aberto a oportunidades. Com toda certeza é mais prático seguir de acordo com o que o mercado nos dita, porém ir à contramão (pelo motivo que considerar mais válido ou conveniente) é surpreendentemente maravilhoso, pode apostar que o seu  repertório de pratos, alimentos e culinárias vai aumentar (e não diminuir), estarás contribuindo para a sua saúde, para a causa animal, para o meio ambiente, e até mesmo indiretamente para com outras pessoas. O primeiro passo é sempre o mais difícil, mas para essa consciência de vida, posso garantir que vale a pena.

[1] Site disponível em: < https://www.svb.org.br/vegetarianismo1/o-que-e >