No decorrer dos dias nos adaptamos a noticiar o que não é bom, a focar em acontecimentos tristes e realidades duras, pensando sobre isso, esta colunista decidiu focar – por tempo indeterminado – em circunstâncias agradáveis ou ao menos reflexões leves sobre o lado bom da vida. Porque ele existe. De maneira alguma nos fecharemos sobre as barbáries que nós enquanto sociedade vivemos e propagamos, trata-se apenas de uma tentativa de suavizar os ânimos para quem sabe entrarmos todos num ritmo de harmonia.

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Foto retirada da page “O Renascimento do Parto – o filme”. Créditos na imagem.

Assim, vamos iniciar estas fase e semana falando e celebrando sobre algo que a todos é pertinente: o nascimento. Todas as pessoas que querem ou já o são mamães e papais de barriga, se preocupam com um fator central sobre a gravidez: o parto. A população se divide entre os procedimentos de parto cesárea e normal, mas é sabido que o número de preferência pelo primeiro vem crescendo acentuadamente.

Neste primeiro momento, não iremos discorrer comentários sobre os motivos que levam as famílias a optarem pelo procedimento da cesárea, mas sim, apresentaremos um “novo método” que divide opiniões e vem ganhando espaço entra as brasileiras e brasileiros: trata-se do parto humanizado.  Para melhor discutirmos sobre o assunto, contatamos uma doula da cidade de Tubarão/SC. Não sabe o que é doula? Nunca ouviu falar sobre o parto humanizado? Chega mais!

Olá Fabiola, a coluna e o portal lhe agradecem pela disponibilidade em colaborar com o projeto esclarecendo pontos tão importantes e pouco divulgados em nosso meio em geral, e aproveita para lhe dar boas vindas.

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Foto retirada da page “O Renascimento do Parto – o filme”. Créditos na imagem.

 Para iniciar, você poderia nos contar um pouco sobre a prática do parto humanizado e em que ela consiste?

 “A humanização do parto não é só uma prática, mas uma mudança de visão do nascimento, baseando a assistência à mulher e ao bebê, e em alguns fundamentos que seriam entender que a gestação e o parto são eventos fisiológicos perfeitos (em média apenas 15 a 20% das gestantes apresentam algum problema que precisam de cuidados especiais e intervenção cirúrgica), que devem ser assim respeitados e acompanhados pelos profissionais de saúde, que a mulher e sua família deve ser respeitada em seus aspectos culturais, individuais, psíquicos e emocionais, que influenciam muito suas escolhas na hora de parir, que suas escolhas são importantes e devem ser respeitas (protagonismo da mulher), sendo-lhe garantida a informação, o conhecimento e o atendimento médico baseado em evidência (medicina baseada em evidência).”

 Sabe-se que existem algumas maternidades que já realizam o parto humanizado no Brasil, considera viável a possibilidade da prática no Sistema Único de Saúde – SUS, ou seja, a nível nacional e de forma pública?

“O parto humanizado é viável em qualquer nível e em qualquer serviço – público ou privado. Inclusive seria o ideal por ser mais barato porque as intervenções não ocorrem de rotina. A saúde da mãe e do bebê são priorizadas. Enfim, mas as pessoas que prestam os serviços precisam mudar a forma de ver o nascimento, o corpo da mulher, a própria profissão que exercem precisa ser resignificada”.

 Você é doula, certo? Poderia nos explicar quem é, o que faz, e a importância do papel da doula no/para o parto (humanizado)? É necessária alguma formação específica?

“Sim trabalho como doula! A importância da doula é uma profissional importante na humanização porque o olhar dela é voltado para a gestante – em lhe trazer conforto físico e emocional e oferecer apoio para as suas escolhas. A doula não empodera a mulher, mas mostra caminhos para a busca de informações. A doula não decide jamais e nem fala em nome da gestante. Mas apóia a decisão da gestante. A doula oferece o conforto físico e emocional com massagens, toques, olhares, palavras de encorajamento, carinho, lembra dos recursos e movimentos que podem ajudar a mulher a ter um trabalho de parto e parto mais satisfatórios”.

 Fabíola há quanto tempo você exerce essa atividade? E por ter experiência, o que pode nos dizer sobre o local em que se realiza o parto? Pergunto isto porque algumas pessoas tem receio que durante o trabalho de parto surja alguma dificuldade, como se lida com isso? Outras pessoas/profissionais atuam em conjunto com a doula?

“Eu fiz meu primeiro curso de doula em 2013 e comecei a doular em 2014. Nesses dois anos e meio algumas coisas já mudaram no ambiente e atendimento ao parto na minha cidade, mas ainda há barreiras a serem transpostas. Ainda há preconceito, desinformação e resistência ao trabalho das doulas pelos médicos e enfermeiras. Já atuei em Florianópolis, por exemplo, onde o ambiente e pessoas são muito mais receptivas à profissional doula e o trabalho ocorre como equipe. Aqui em Tubarão, ainda me sinto uma intrusa as vezes… Acho que a mudança é assim mesmo, com tempo, com a abertura do coração e mente das pessoas que vão vivenciando momentos mais legais, vão percebendo que há respeito, há benefícios para todos os envolvidos no processo do parto e que logo tudo vai ficando mais humanizado.”

Você que lida de perto com o assunto, o que acha do crescente número de cesáreas realizadas no Brasil? E sobre a violência obstétrica que de certa forma naturalizou-se em nosso país?

 “O número crescentes de cesariana é uma forma de violência sob o meu olhar. É violentar o corpo da mulher, colocar a vida e saúde do binômio mãe-bebê em risco maior, por conveniências, de agenda, financeiras, conceitos equivocados sobre o parto. Mas a violência obstétrica é naturalizada em uma sociedade machista e patriarcal que tira da mulher a autonomia sobre seu corpo, que informa de maneira opressiva, que medicaliza todos os processos físicos femininos. Então, a mudança precisa ser interna, social, filosófica, cultural, política, enfim, em diversos setores. Mas, acredito muito na forma feminina e em mulheres informadas – tenho visto muitas mulheres não permitirem a violência obstétrica e exigindo o respeito e atendimento médico de qualidade. O poder é nosso de mudar!

Acreditamos que estes principais pontos podem esclarecer questionamentos e abrir caminhos para aqueles que tinham dúvidas sobre o tema do parto humanizado e o papel das doulas, e mais ainda para aqueles que desconheciam o tema. Mais uma vez, toda gratidão por contribuir de forma tão generosa com a coluna e nossas leitoras e leitores. Gostaria de acrescentar algo? Seja sempre bem vinda.

“Muita gratidão pelo convite e oportunidade de participar dessa conversa! Não sei se esclareci algo, mas espero que sejam proveitosas minhas respostas. Gostaria de acrescentar que doula é uma atividade linda, cheia de trocas positivas, que traz muitas amizades, carinho, gratidão, e com o tempo, recompensa financeira mas, que deve ser exercida por quem acredita no poder de mudar o mundo pelo nascimento respeitoso, pelo empoderamento feminino e materno, por quem está disponível para a qualquer hora do dia e qualquer dia da semana doar-se inteiramente a uma família que está surgindo e merece todo o amor e respeito do mundo”

Por um mundo onde cada pessoa possa optar livremente por aquilo que melhor considera para o seu corpo e, nesta circunstância, para o bebê. Que cesse a violência obstétrica. Que essa nova onda de amor pelo parto se espalhe e que este momento se torne especial, como tem de ser. Que as pessoas que estejam ao seu redor, lhe auxiliem de forma positiva, e somente. Que uma nova vida venha rodeada não de trauma, mas de amor e cuidado.

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Bela Gil, em sua conta em outra rede, sobre seu parto.

Para completar o tema da coluna de hoje, faz-se referência ao filme “O Renascimento do Parto – O Filme” 1 e 2, que fazem refletir sobre a forma como a sociedade tem percebido o parto atualmente. Segue link de um dos promocionais: < https://www.youtube.com/watch?v=3B33_hNha_8&feature=share >

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Caso restem dúvidas, sugestões e etc., estamos sempre disponíveis para sanar o que for possível.

Agradecer de forma muito especial a Fabiola Souto, nossa doula, e também à Elisa Gabriela Slovinski, minha incansável revisora, que sugeriu a ideia e indicou nossa doula. Trabalhando juntas, o resultado é sempre mais colorido.

Boa semana!