A comunicação é um fator crucial no desenvolvimento humano. Há uns cinco anos, circulo pelo universo que observa, estuda e vive o autismo – um distúrbio que prejudica essencialmente a comunicação – e não tenho dúvidas de que um dos fatores que mais trazem angústia aos pais e mães de crianças diagnosticadas é: será que um dia meu filho vai falar?
Entre todas as nossas maiores invenções, as mais bem sucedidas, as mais aceitas e que mais foram incorporadas à nossa cultura estão as que envolvem a comunicação. Basta estudar um pouco sobre a história dos smartphones ou mesmo da TV para fazer algumas constatações nesse sentido.
É como dizem os pesquisadores do comportamento e da história humana: nenhuma estrada, nenhuma nave, nenhum invento supertecnológico será mais importante, deixará marcas mais profundas da nossa passagem pela Terra do que a nossa natureza social. E é a evolução – falo no sentido biológico, não filosófico – dessa natureza social que nos permitiu chegar até aqui.
Chegamos bem? Chegamos mal? Não sei. Mas chegamos e agora vamos ter que dar um jeito nisso. Afinal de contas, a vida é “sempre desejada, por mais que esteja errada”, não é?
Não importa quais sejam as nossas convicções. Não importa em que deuses acreditamos ou mesmo se acreditamos em algum. Não importa em que pessoa ou partido votamos nas últimas eleições. O fato é que, de um lado ou de outro, a moeda será sempre a mesma. É pela vida em sociedade que buscamos incessantemente e a nossa capacidade de comunicação é o que nos diferencia de todos os outros animais também considerados sociais.
E não é qualquer comunicação. Conhecemos, por exemplo, códigos intrincados usados entre passarinhos, golfinhos e baleias. Mas a comunicação humana tem um quê a mais. A explicação pode estar no neocórtex. Como o nome diz: neo – estamos falando da área mais recente desenvolvida no cérebro do Homo sapiens. E ela está intimamente ligada à comunicação e à linguagem. E, mais além disso, uma de suas partes é responsável pelo processamento social e emocional.
Pesquisadores descobriram que, em primatas, quanto maior é o grupo em que ele vive, maior é o seu neocórtex. E quanto maior o neocórtex, maior a capacidade de fingir e ludibriar.
E é aí que entra o segundo salto da evolução humana: o desenvolvimento da empatia. Ao passo em que aprendemos cada vez mais a ludibriar os outros membros da nossa sociedade, também desenvolvemos a capacidade de nos colocar no lugar do outro. A capacidade de sentir COM o outro. Uma compensação crucial para que nossa sociedade se desenvolvesse.
Em um primeiro momento, muitas vezes somos levados a crer que nossa sociedade anda com baixa ou nenhuma empatia. São tantas as demonstrações de ódio, preconceito, exageros semânticos diante de imagens por vezes simples, que chegamos ao ponto de desacreditar da humanidade.
No entanto, vale sempre lembrar que são as nossas relações sociais que nos constroem e foram elas que nos permitiram descer das árvores. Além disso, eu não sou ninguém sem o outro. Ainda que seja para reforçar no meu próprio imaginário a ideia de uma individualidade, eu sempre vou precisar do outro. Ainda que seja unicamente para reforçar a imagem que eu quero construir de mim mesma, eu sempre vou precisar do outro porque é nele que eu me projeto. Mesmo que seja para projetar o meu desejo de isolamento. Sem o outro eu não sou. Sem o outro eu não construo. Sem o outro eu não existo.
Pode parecer algo extremamente difícil e até pode estar mesmo em baixa hoje em dia. Eu não sei. Não tive acesso a nenhuma pesquisa que me apresentasse esse dado em números ou estatísticas. Mas o que eu quero ressaltar é que nós somos, sim, capazes de amar. Somos capazes de ser demasiadamente humanos e sempre estaremos conectados de alguma forma: