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Estou lendo “A Conquista da Felicidade”, de Bertrand Russell, livro escrito lá na década de 1930. E sabe que naquela época já havia a preocupação e a constatação de que a vida moderna, a industrialização, a velocidade trazia para o homem, do campo e da cidade, elementos causadores de infelicidade? Russell aponta excessos de todo tipo: preocupações, excesso de excitação, vício em prazeres instantâneos, medos, inveja, fadiga excessiva – principalmente a nervosa, mania de perseguição, tédio e muitos outros problemas que o levaram a escrever essa obra, depois de muito refletir e juntando experiências para auxiliar as pessoas a reverem suas atitudes e comportamentos naquele mundo moderno e acelerado de então.

Imagine se Bertrand Russell visse nosso mundo atual, o que será que ele iria pensar diante das observações da sua época em comparação com a nossa?

Então eu formulei alguns itens de alerta, a partir do seu livro, para falar sobre felicidade e infelicidade. Particularmente não gosto desse negócio de listas numeradas de conselhos infalíveis para alcançar seja lá o que for, mas desta vez me rendi a ela, apesar de que deixo claro ao leitor e à leitora que não tentem seguir como se estes fossem passos infalíveis, mas tome apenas como ponto de partida para reflexões sobre sua vida, como tem vivido, e espero que então lhe ajude naquilo que você precisa.

1 – A infelicidade e o sofrimento são viciantes e envolventes, deixá-los depende de decisão pessoal.

2 – Não tenha pena de si mesmo, você não é uma vítima.

3 – Não culpe os outros, cada um é o que quer ser e vive como escolhe viver. Nada nem ninguém pode fazer você feliz, se você escolhe ser infeliz.

4 – As desventuras circunstanciais só o alteram se você assim desejar e não há nenhum heroísmo nisso.

5 – A vida não é uma luta, a menos que você a faça assim.

6 – A competitividade em qualquer aspecto é triste e só pode causar infelicidade.

7 – O tédio é proporcional ao desejo de excitação.

8 – A excitação é um vício progressivo como são as drogas. O que é preciso é entusiasmo e não excitação.

9 – A fadiga nervosa é você quem busca, você quem escolhe, mas ela é inimiga da felicidade e da saúde.

10 – Preocupação é uma ilusão, um ato vazio e irracional, uma forma de sentir-se útil de forma inútil.

11 – O medo rouba a felicidade, mas é como um bicho medroso que foge ao ser enfrentado.

12 – Aqui, agora, o que você é e o que você tem é o que há de melhor. Fora isso, é a inveja e a ambição, contrárias à felicidade. Deixar de desfrutar de algo pensando que existe melhor é se jogar num poço sem fundo.

13 – O sentimento de pecado e a culpa não levam ninguém a ser uma pessoa melhor, mas leva qualquer um a se odiar e se tornar infeliz.

14 – Mendigar amor e depender de reconhecimento são duas atitudes que só podem propiciar desprezo e ingratidão.

15 – Não cobre de si e nem dos outros, apenas faça, se puder, o que puder e sinta-se feliz por isso.

16 – Se ninguém lhe ama, ame-se você e tudo mudará para melhor.

17 – Só é possível mudar a si mesmo, não queira mudar outra pessoa, é desgastante e infrutífero.

18 – Descomplique e descomplique-se.

19 – Autoconhecimento e felicidade não vêm com introspecção e isolamento, mas sim com relacionamentos. Olhe mais para fora e pare de lamber as próprias feridas, isto não vai curá-las, mas aumentá-las. E dói.

E por último, uma pergunta:

20 – Onde você pensa que vai chegar com essa pressa toda?

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Essa última dica é uma pergunta para que reflitamos porque estamos sempre apressados, sempre correndo. Claro, sua mente provavelmente já respondeu que estamos sempre apressados porque temos muitos compromissos, porque fazemos muitas coisas, porque temos horários a cumprir, porque a vida e a sociedade modernas são assim, aceleradas, e quem não acompanha esse ritmo fica para trás.

Eu me arrisco a contrariar e invalidar todos estes argumentos em minha vida. Simplesmente não os aceito, porque não são verdadeiros. Urgente é apenas aquilo que não foi feito no momento certo, do jeito certo e que agora alguém acha que tem que ser feito já. É impossível eu estar atrasado para um compromisso se eu já sei dele antecipadamente. Só acumulo compromissos e afazeres mais do que posso dar conta com calma se eu quiser. O que faz a rapidez não é a velocidade, mas a constância, o foco e a concentração. Fazer as coisas devagar, caminhar devagar, não faz de ninguém uma pessoa preguiçosa ou desleixada, muito pelo contrário, quem corre, corre, corre é que é uma pessoa desleixada e descontrolada, apesar de se achar importante e necessariamente requisitada por estar cheia de tarefas e sempre com pressa. Sei que estar sempre com pressa, correndo, é uma maneira de se sentir útil, mas também sei que é a melhor maneira de se tornar inútil.

Conheço pessoas que correm até dentro da própria casa. Podem pensar nessa cena? Você já fez isso? Eu já. É uma coisa ridícula, não é mesmo? Isso significa que uma pessoa nesse estado não tem o mínimo controle sobre sua vida, seus afazeres, falta organização, disciplina, foco, concentração e até amor próprio. Digo isso por experiência própria.

A resposta para a pergunta: “Onde você pensa que vai chegar com essa pressa toda?”, a maioria de nós já tem: vamos chegar em casa extenuados ao final do dia, sem forças para mais nada, mas também podemos chegar a uma úlcera, um câncer, um estresse, uma depressão ou a um quadro de ansiedade bem prejudicial à nossa saúde e à saúde da nossa família.

Uma pessoa sempre sem tempo para nada, sempre atrasada, indica que tem uma vida desorganizada, pois colocou mais tarefas, afazeres e compromissos em seu dia do que caberia nele. Ou então lhe falta foco, se distrai pelo caminho, entre uma coisa e outra e acaba se atrasando. Também é fato que uma pessoa nesse estado tem uma mente muito acelerada, está fazendo algo com a mente fora de si e do momento presente. Uma mente acelerada, com muitos pensamentos acelerados, é altamente prejudicial à saúde, à qualidade de vida e à felicidade, causa muitos danos, gasto de energia enorme e sem necessidade, pode causar inúmeras doenças psiquiátricas e é o que o Dr. Augusto Cury identifica como SPA – Síndrome do Pensamento Acelerado.

A SPA pode ter início já na infância, com atividades que aceleram os pensamentos mais do que seria necessário e desejável a uma boa qualidade de vida. Pode ocorrer a partir dos jogos eletrônicos, do excesso de atividades intelectuais, com o excesso de impressões e informações, com exposição exagerada às mídias eletrônicas, celular, internet, redes sociais de todo tipo, escola, etc. e ao longo da vida esse quadro só tende a se agravar.

Tenho experimentado outro modo de agir e estou bem feliz assim, gostei muito e minha vida melhorou bastante. Depois de um quadro de depressão, ansiedade e síndrome do pânico que me afastou das salas de aula e me tornou praticamente inválido, ao ponto de buscar a morte, tamanho era o vazio que se instalou em mim, resolvi estudar melhor esse assunto e mudar.

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Ando devagar, não tenho nenhuma pressa em atravessar a avenida movimentada. Saio de casa bem antes dos horários dos meus compromissos e se saio perto do horário ainda assim não me apresso, pois a vida continuará seu curso mesmo que eu me atrase. Não corro para pegar ônibus algum. Desfruto do caminho e do processo. Procuro evitar tudo o que possa me acelerar. Não tenho whatsapp e se tenho, não me apego muito a ele e aos infinitos grupos, nem tenho pressa de olhar meus recados e mensagens nem de respondê-las. Não uso celular caminhando (e muito menos dirigindo). Evito ao máximo fazer duas coisas ao mesmo tempo. Eu imponho o ritmo que quero em minha vida. É certo que isso causa certa resistência e insatisfação em algumas pessoas à minha volta, mas nesse aspecto, preciso cuidar de mim. Você não precisa chegar ao ponto em que eu e milhões de pessoas têm chegado.

Uma última dica: aquela máxima que diz que “tempo é dinheiro” é uma grande mentira. Não é correndo que nem louco que você ficará rico, se esse é o seu objetivo, mas é com inteligência e excelência e a pressa é inimiga da excelência. Tempo não é dinheiro, tempo pode ser vida, a sua vida, a vida da sua família, dos seus filhos, e só se torna dinheiro para o seu patrão.

Portanto, vai devagar, desacelere, organize-se, abra mão das coisas menos importantes em prol daquelas mais importantes, que são sempre, pessoas. Se você não sabe mais o que é mais importante e tudo parece agora ter o mesmo grau de importância e urgência, então você precisa parar, refletir e decidir quais são as suas prioridades. Muito do que se carrega e carrega nosso dia não passa de lixo. O único motivo para correr e se apressar é para salvar uma vida. É por isso que você corre?

Eu não corro, não tenho pressa. Você corre, você tem pressa. O mendigo da praça não corre, não tem pressa. O fim dos três será o mesmo. O que nos diferencia é o que entendemos por vida e como escolhemos viver e essa é uma decisão pessoal.