Numa conversa com um amigo, encontrei algo especial que vale a pena compartilhar. Vamos chamá-lo de Pedro. Pedro surpreendeu-me revelando um ato simples que transformou sua própria vida. Hoje ele é um homem seguro de si, sabe o que quer, nutri bons relacionamentos e atinge seus objetivos.
Mas antes disso, foram anos de uma dor surda que minava secretamente seu desenvolvimento. Naquele tempo, não conseguia estabelecer vínculos de amizade nem se firmar no trabalho e nos estudos. Era muito volúvel. Começava muitos projetos mas sempre os largava pela metade. Parecia um jovem sem futuro e a chave para tudo isto, poderia estar justamente no seu passado.
Ele foi uma criança retraída e com dificuldades para se enturmar. Parecia não acreditar que valeria a pena confiar em alguém. Ele tinha a mãe. Seu porto seguro e quem esteve todo o tempo ao seu lado. Ela não mediu esforços para criá-lo da melhor maneira que podia. Mesmo assim, ela também foi alvo da desconfiança de Pedro, que não perdia a oportunidade para desafiá-la, revelando seu descontentamento.
Pedro não tinha pai. A medida que foi crescendo, não conseguia engolir mais a história contada de que seu pai falecera. Afinal, se o pai faleceu, onde estariam os avós, os tios, os primos? A morte os teria levado também? Era muito difícil para o pequeno Pedro responder ao coleguinha o motivo do pai nunca participar das festas na escola. Pedro engolia a seco a dura verdade que não tinha pai.
Verdade que ficou mais clara quando constatou na sua certidão de nascimento o termo ‘nada consta’, no lugar do nome tão esperado.
Ele tinha apenas 11 anos e o mundo caiu. Pedro tinha raiva e perdeu a confiança na mãe. Jogou tudo para o alto e com 13 anos abandonou a escola. Começou a trabalhar. Mas não parava em lugar nenhum. Era puro descontentamento.
Quando era menor nem se dava conta. Depois sentiu raiva, medo, vergonha, revolta. Mas o que mais o atormentava era o sentimento de rejeição. O sentimento de não ter sido bom o suficiente para fazer parte da vida do pai. Aos 20 anos, em meio a brigas e insistências que não tinha fim, foi-lhe revelado o nome do pai. No primeiro momento, negou seu desejo de estar perto dele.
De qualquer modo, que diferença faria, se ele já estava morto. O sentimento de rejeição e menos valia só cresceu ao descobrir que o pai acolhia com carinho e cuidado outros filhos. Isto fez crescer a raiva, a revolta e a distância do pai.
Continuava retraído, sem amigos. Instável. Tentava se firmar, mas se desequilibrava.
Começava, mas sempre desistia. Era um jovem sem perspectiva e sem futuro. Por volta dos 27 anos, estava convivendo num ambiente tóxico no trabalho. E um dia, teve uma crise. Parecia um ataque cardíaco. Coração acelerado, mãos com suor frio e a cabeça fora do ar. Procurou logo um cardiologista, que nada constatou de irregular, encaminhando-o ao psicólogo.
Foram apenas 3 sessões para descobrir o real motivo do falso ataque cardíaco. Foi surpreendente descobrir o que sempre esteve ali, na sua cara. A dor surda que sempre o consumiu agora fora desvendada. Todo seu desequilíbrio tinha o nome que nunca era dito. Ele precisava do pai em sua vida. Mas como? A morte é algo irreversível. Diante da verdade da ferida aberta no coração, foi prático. O que restava era apenas se sentir filho de um pai. E apesar da oposição da mãe, se muniu de forças para fazer a única coisa possível. Restaurar sua dignidade e ter o nome do pai registrado na sua certidão de nascimento.
Então, iniciou o processo, solitário, sem aliados. Não buscou os irmãos por parte de pai, pois não saberia o que dizer a eles. Apenas queria ter o que todo mundo tem, um pai. O processo já dura 10 anos, e apesar de estar ganho, pois é algo simples, parece que sempre falta algo para ser finalizado. E apesar de ainda ter o ‘nada consta’ na certidão, o início do processo marcou uma nova vida para o Pedro.
Reconhecer-se filho foi libertador. Como ele me contou, foi como se ‘uma tonelada’ saísse das costas dele. Ele disse que tudo mudou desde então. Ele encontrou um novo trabalho onde permaneceu por longos anos. Voltou a estudar e concluiu a faculdade. Está trabalhando numa nova empresa e muito feliz por estar vencendo os novos desafios. Hoje é um homem seguro de si, sabe o que quer, nutri bons relacionamentos e atinge seus objetivos.
Não há como negar o mérito deste homem em honrar sua própria história. Sendo assim, o questionei sobre o que sentia pelo seu pai. ‘Neutro’, ele disse. E explicou que não sabia ao certo a história verdadeira, então, não dava para ter uma opinião formada. Bem, pedi a ele para fechar os olhos e se imaginar como uma criança pequena diante dos seus pais. Expliquei que o poço aos pés da cachoeira sempre é abundante pois está abaixo dela. E só assim, sendo pequena diante dos pais, uma criança pode tomar sua vida por inteiro. Não importa o que houve, existe sim um sentimento especial a ser sentido: GRATIDÃO.
A criança toma sua vida por inteiro quando se percebe grata àqueles que deram seu bem mais precioso: a vida.
O que ele fez intuitivamente é o que está oculto atrás dos resultados transformadores da Constelação Familiar: honrar pai e mãe. Não importa a história, importa o fato mais relevante. Se você está aqui lendo estas linhas é porque você tem vida, a vida que chegou para você através deles.
Continuamos no próximo post…
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Um carinhoso abraço.
Lara Silva